Por Claudio Campos
The Gathering é uma banda holandesa de trajetória única, embora
muitos grupos como eles se iniciaram também no Doom Metal e foram mudando de
estilo com o passar dos anos.
No caso deles, em vez de irem para o pop ou rock
progressivo, preferiram fazer uma interessante mistura de trip hop, rock
alternativo e rock progressivo.
Porém, a evolução do estilo musical, coincidência ou não, ocorreu
de acordo com as mudanças de vocalistas.
De início, na época em que praticavam o Doom Metal, havia
vocais guturais com o vocalista Bart Smits (“Always…”,1992), depois o reforço
com a primeira cantora da banda, Martine van Loon, e outro cantor, Niels
Duffhuës (“Almost a Dance”, 1993), e, por fim, Anneke van Giersbergen,
responsável pela popularização da banda e as influências de trip hop.
Depois dos longos anos de sucesso com Anneke (de 1995 a
2007), que saiu da banda para iniciar uma carreira solo, a difícil tarefa de
substituí-la caiu nas mãos da norueguesa Silje Wergeland (ex- Sperati Octavia),
que mesmo seguindo à sombra do estilo de Anneke no álbum “The West Pole”
(2009), focou o estilo musical da banda com um apelo mais para o rock
alternativo e progressivo.
Agora The Gathering lança “Disclosure”, segundo álbum com
Silje Wergeland e décimo da discografia da banda.
Desta vez, eles conseguem trazer outras influências para o
grupo – e temos uma banda se afastando cada vez mais da era Anneke van
Giersbergen.
A primeira faixa é “Paper Waves”, com sua atmosfera serena e
voluntariamente mais leve.
Em seguida, “Meltdown” e sua forte influência eletrônica.
No entanto, o que surpreende nesta música é que o tecladista
Frank Boeijen (que escreveu a maioria das músicas) começou a cantar, dividindo
o vocal com Silje.
“Heroes For Ghosts”, com seus 11 minutos, é outro destaque.
Embora um pouco arrastada, porém percebe-se acentos de
Anneli Drecker (“Bel Canto”), uma pérola, provavelmente uma das obras primas do
grupo.
“Missing Seasons” se destaca pelo uso de cordas (violino e
violoncelo), enquanto “Gemini II” é calma e serena.
Não há mudanças radicais, e como sempre, a banda evolui
lentamente.
O fato é que The Gathering não perdeu o fogo sagrado e se
mantém, sem muita dificuldade, como uma das melhores bandas holandesas.
Laurel Halo contra o
marasmo pop
Explorar várias modalidades da música eletrônica como o
house, ambient, dub e até mesmo dream pop, é o que propõe Laurel Halo, um
exemplo daqueles músicos que rejeitam a inércia que tomou conta da atual música
pop e tenta mudar essa situação, criando música que além de ser um veículo de
expressão pessoal, tenta proporcionar uma reflexão subjetiva.
Artistas recentes, como Oneohtrix Point Never, Tim Hecker,
Andy Stott e How To Dress Well, entre outros, são alguns exemplos de gente que
quer acrescentar algo novo e discursivo na música pop.
A cantora Laurel Halo se junta a eles com o lançamento de
seu primeiro álbum através do selo Hyperdub.
Em “Quarantine”, Halo, de apenas 24 anos e natural de
Michigan, lida com o conceito de confinamento e alienação, mas com uma rota
possível de fuga da distopia atual em que vivemos e nos coloca como meros
números que vivem simplesmente para o consumo.
A busca da fusão homem-máquina não é nova, porém, no geral,
oferece uma perspectiva romântica em coexistência com tecnologia moderna.
“Quarantine” parece uma proposta de um novo som, uma nova
trilha sonora para a ficção científica, com uma vaga sensação de que as coisas
vão funcionar, eventualmente, apesar de seu som claustrofóbico a meio caminho
entre o orgânico e o plástico.
Uma interação de elementos biológicos e humanos com cabos,
circuitos e chips em um espaço confinado.
Um casamento perfeito entre máquina e humanos.
Até mesmo a voz de Halo é muito coerente com as intenções do
disco.
As músicas “Carcass”, “Years” e “MK Ultra” (fazendo
referência a um projeto secreto do governo dos EUA na década de 50 para
controlar o comportamento humano através de medicamentos e métodos de tortura)
são os exemplos de desconforto que o disco expele.
Por outro lado, Halo também injeta muitas passagens de sons
delicados e agradáveis como a delicada e etérea introdução do álbum “Airsick”.
“Thaw” também se destaca por seu arpejo calmo, que
progressivamente invade o ambiente com um colorido arsenal de brilhantes sons
de lenta oscilação.
“Quarantine” é pop-art futurista, também conflituoso,
ambivalente, complexo.
Ela sabe que esta é a situação em que nos encontramos e se
propõe a explorá-la sonoramente.
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