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domingo, janeiro 13, 2013

Setembro Negro strikes again



Sob a coordenação de Nei Santos Costa, o campeonato de veteranos do Penarol começou há duas semanas, com 12 times se pegando entre si.

Na primeira fase, os quatro piores times serão despachados.

Na segunda fase, serão duas chaves de quatro times, que jogam entre si.

Classificam-se os dois primeiros e as semifinais serão pelo cruzamento de chaves: o primeiro de uma chave joga contra o segundo da outra.

O time campeão vai embolsar R$ 3 mil, o segundo lugar R$ 500.


Careca, Paulinho e Abílio

Um dos destaques do campeonato é o brilhante árbitro Paulo Jorge (aka “Paulinho”), considerado o melhor juiz do Peladão durante três décadas.

O Setembro Negro estreou neste sábado, 12, derrotando o Cruz Azul, do Japiim, por 2 a 1, numa virada sensacional.

Basta dizer que o time não tinha goleiro e o ex-meia-armador Áureo Petita foi improvisado na posição, tendo levado um gol simplesmente bisonho: o ponta-esquerda do Cruz Azul foi no final da linha de fundo e cruzou na área.

Parado quase embaixo da trave, Áureo foi encoberto pela bola porque sequer levantou uma das mãos para tentar cortar a pelota.

O centroavante do Cruz Azul completou de cabeça praticamente embaixo da trave.


Depois dessa verdadeira cagada, Áureo foi substituído pelo quarto-zagueiro Ruído, que fez algumas defesas importantes.

O Setembro Negro também não tinha um único reserva, o que é quase um crime de lesa-pátria em se tratando de jogos de veteranos.

Neguinho com 50 anos não tem fôlego para correr 60 minutos num campo daquele tamanho.

A comissão técnica – eu (Murrinhas do Egito), Val Wilkens (Canto do Villa’s), Marcus Caramuru (Santos) e Ivancy Wilkens (Vila Mamão) – ficou encarregada de se reunir no Bar do Manuel para resolver o assunto.

Reforçado por três veteranos vindos diretamente de Itacoatiara, o Setembro Negro mostrou muita disposição e garra para vencer a partida, mas se ressentiu da ausência de seus principais jogadores: Renan, Fabinho, Sildomar Abtibol e Junior Perturbado.


O time jogou com Áureo Petita (Ruído), Cláudio, Jacó, Marco Antônio, Roberto, Cléo, Laércio, Ronilson, Titanor, Toinho e Zanata.

Como os próprios atletas estranharam o nome do time, aí vai um resumão da história.

Em setembro de 1970, ocorreu uma frustrada tentativa de golpe de estado na Jordânia contra o Rei Hussein II, comandada pela então terrorista Organização da Libertação Palestina (OLP).

Na ocasião, o rei jordaniano iniciou uma violenta campanha contra militantes políticos palestinos no país, matando centenas de pessoas.

Em resposta à repressão de estado jordaniana, foi criada a organização paramilitar Setembro Negro, comandada por membros da Al-Fatah (Movimento da Libertação da Palestina, organização comandada por Yasser Arafat), contando com o apoio de membros da As-Sa’iqa e da OLP.

O terrorista Mohammed Daoud Oudeh foi o mentor intelectual das ações da organização.

Entre seu estabelecimento, em meados de 1971, até o “Massacre de Munique“, como ficou conhecido o incidente nas Olimpíadas de 1972, o Setembro Negro capitaneou diversas ações terroristas como cartas-bomba para autoridades diplomáticas israelenses, sequestro de aviões, tentativas de assassinatos contra oficiais jordanianos e ainda o assassinato do primeiro-ministro jordaniano Wasfi Tel em 1971.

Depois do atentado em Munique, outras ações do Setembro Negro continuaram a ocorrer até seu desmantelamento no final de 1974, por obra e graça do Mossad, o serviço secreto israelense.

Parte dessa história foi contada no emblemático filme “Munique”.


Em 1983, a gente resolveu tocar terror colocando um novo time no Peladão, depois do falecimento precoce do Murrinhas do Egito ocorrido cinco anos antes.

Batizamos o time de Setembro Negro e, para intimidar os adversários, optamos por um equipamento digno de policiais do Bope: camisa, calção e meiões absolutamente negros.

O escudo do time era uma caveira com um lírio atravessado na boca, desenhada pelo Jorge Palheta, e aplicada sobre o fundo negro nas cores prata (o crânio) e amarelo fosforescente (o lírio).

Uma espécie de terrorismo lírico.

Pra completar, montamos uma senhora equipe com vários ex-jogadores profissionais, como havia virado moda na competição: Gato (ex-América), Luiz Alberto (ex-Rodoviária), Petronio Aguiar, Coca (ex-Fast) e Juldecir (ex-São Raimundo); Paulinho Preto (irmão do Horácio, ex-Rio Negro), Paulo César e Mário Gordinho (ex-Fast); Zezé (ex-América), Zeca Boy e Luiz Lobão.

Dessa vez eu era apenas o treinador, mas vira e mexe acabava sendo convocado para substituir o Coca ou o Petrônio no meio da zaga.

No banco estavam Gilson Cabocão, Heraldo Cacau, Chico Porrada, Gilmário, Ratinho, Roberto Doido, Francisco Neto e Jaques Castro.

O Luiz Lobão sugeriu a contratação do Áureo Petita, que havia retornado de Itacoatiara após uma rápida passagem pelos times do Penarol e Gelopesca e ainda tinha um futebol de encher os olhos.


Mantive a promessa que havia feito em 1975, quando o maior craque da história do Murrinhas se bandeou para o time da Dona Norma:

– Se você quiser ir, você vai e não há nada que eu possa fazer a respeito, além de lamentar e ficar muito puto! – expliquei. “Agora, é o seguinte: se você for, não tem volta. Nós vamos ser amigos de infância pelo resto da vida, mas eu nunca mais vou jogar em um time tendo você ao meu lado!”

E assim foi feito.

Áureo Petita foi jogar na Escola de Datilografia Santa Rita, deletei seu nome da minha lista de jogadores preferenciais e nunca mais disputamos uma partida juntos, nem mesmo em “peladas” de ruas, já se vão mais de 30 anos.

Amigo é pra essas coisas.


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