Pesquisar este blog

sábado, janeiro 12, 2013

Simão Pessoa e a arte de ser canalha



Zemaria Pinto

No meio de tanta bobagem classificável sob o duvidoso título de “literatura de autoajuda”, um rótulo-mala, onde tudo cabe, finalmente temos um livro verdadeiramente útil.

Nada a ver com a filosofia pé-de-chinelo do Paulo Coelho ou as besteiras neurolinguísticas do Lair Ribeiro.

Nada a ver com anjos, gnomos, e muito menos com a última moda dos salões de beleza, a tal de inteligência emocional.

Nada disso.


Trata-se do Manual do Canalha − Uma Estética Machista Para O Terceiro Milênio, do escritor amazonense Simão Pessoa, editado pela Topbooks, do Rio de Janeiro, e encontrável nas livrarias sérias da cidade.

O Manual do Canalha se inscreve na mais antiga tradição literária universal, que tem início com o Satiricon, do romano Petrônio, no primeiro século da era cristã, e vai ao Decameron, do italiano Boccaccio, além de Gargântua e Pantagruel, do francês Rabelais, na passagem do medievo à renascença, obras marcantes do ponto de vista literário, mas que deixaram atrás de si, ao longo dos séculos, rastros de ódio, incompreensão e intolerância dos medíocres de todos os tempos, que só entendem a arte como algo distante da fedentina da vida, e não um simples prolongamento desta.

Mas não é nesses autores que Simão Pessoa se baseia para compor o Manual do Canalha.

Ele vai mais longe, ao século I antes de Cristo, beber nas fontes sublimes do poeta romano Ovídio e sua Ars Amatoria, a popularíssima Arte de Amar. 

Ovídio constrói uma “teoria da sedução”, ensinando ao truculento homem romano, afeito mais às artes da guerra que do jogo amoroso, como aproximar-se do objeto de seu desejo e como prendê-lo com presentes, falsas manifestações de ciúme e algumas palavras amáveis, de vez em quando, que ninguém é de ferro.

Simão Pessoa, o nosso Ovídio caboclo, divide o seu Manual do Canalha em doze capítulos, de leitura deliciosa, bem-humorada e denunciadora do machismo, que tem por principais vias condutoras, segundo Simão, “as vovozinhas cândidas, as mulherzinhas dondocas e as mãezinhas possessivas”.

No capítulo “A Arte Milenar da Paquera”, por exemplo, Simão atualiza o grande Ovídio, ensinando ao machão moderno a “chegar junto” em bares, lanchonetes, discotecas, praias, shoppings, manifestações de protesto e outras ocasiões.


Os capítulos “Macetes do Bom Gourmet” e “O Que Elas Querem é Phoder” complementam-se ao dar dicas primorosas sobre o comportamento amoroso.

“Como Receber Com Elegância” e “O Convidado Que Todos Querem Convidar” também são complementares entre si, na medida em que dão as dicas de como o machão deve se comportar quando o “embalo” é na sua casa ou quando ele apenas “visita”.

Um capítulo altamente instrutivo é “Doenças Sexualmente Transmissíveis”, um verdadeiro tratado sobre blenorragia, sífilis, herpes, cancros e outras dores de cabeça.

Mas é em “Casamento: Você Ainda Vai Ter Um”, que o Manual do Canalha atinge a perfeição.

Em trinta e cinco páginas antológicas, Simão Pessoa, do alto de sete experiências bem sucedidas, descreve passo a passo a lenta agonia de um macho imbecil apaixonado, até, muitos anos e muitos filhos depois, a sua gradual recuperação, que, aliás não dura muito tempo, afinal, como diz a canção jobiniana, “fundamental é mesmo o amor: é impossível ser feliz sozinho”.

OBS: Publicado no Amazonas Em Tempo, logo após o lançamento da 1a. edição da Topbooks, que já era a 2a..


NOTA DO EDITOR DO MOCÓ


No dia do lançamento da 1ª edição do Manual do Canalha, há quase 20 anos, o designer Ricardo Cruz, meu parceiro de labuta na G&F Comunicações, me presenteou com uma camiseta Hering customizada com um gigantesco “Eu Sou Foda!”.

O resto do look incluía um cafoníssimo chapéu de pano e óculos estilo Waldick Soriano.

Na semana passada, o André Castilho, lá de Natal (RN), me enviou este vídeo do Wesley Safadão, vocalista do “Garota Safada”, uma das poucas banda de forró que escuto em casa (as outras duas são “Aviões do Forró” e “Magníficos”), dizendo que tem tudo a ver comigo.

Curtam


Traição é traição
Romance é romance
Amor é amor
E o lance é o lance
Sou foda
Na cama te esculacho
Na sala ou no quarto
No beco ou no carro
Eu sou sinistro
Melhor que seu marido
Esculacho seu amigo
Eu sou um perigo
Avassalador
Um cara interessante
Esculacho seu amante
Até o seu ficante
Mas não se esqueça
Que eu sou vagabundo
Depois que a putaria
Começou no meio do mundo
Pra te enlouquecer
Pra te enlouquecer
Todas, todas que provaram
Não conseguem esquecer. 

Nenhum comentário: