Deonísio da Silva
Li nesta terça-feira o que ontem ouvi: o discurso do velório
sui generis da presidente afastada Dilma Rousseff. É sui generis porque a
defunta, vestida de pano de cobertura de poltrona, falou.
Reitero o que escrevi no Facebook e alhures. Dilma perde
muito com os apoiadores que tem. Na segunda-feira, mostrou-se “menos pior” do
que nas outras vezes, não fossem, principalmente suas “apoiadoras”. O dilmês,
como já observou Celso Arnaldo Araújo num livro imperdível, adora um feminino
serôdio. Anteontem, voltou a dirigir-se “primeiramente às cidadãs”, como se os
cidadãos não incluíssem o feminino, e deixou escorrer a verborragia
incontrolável. E suas “apoiadoras” se esmeraram em piorar a situação.
A senadora Gleisi Hoffman, por exemplo, deu-lhe as costas e
saudou o conjunto “Lula, Chico Buarque e seus blue caps”, no alto da galeria.
E, claro, omitiu a saudação a Paulo Bernardo, seu marido, complicado com a
Justiça por prospecções indevidas, não em Pasadena ou em outro feudo da
Petrobrás, mas nos contracheques de servidores públicos aposentados. Até onde
vão, hein!
A senadora Vanessa Grazziotin, vestida de tapete, cujo
marido, o ex-deputado estadual por cinco mandatos Eron Bezerra, perdeu
recentemente os direitos políticos, por improbidade administrativa quando Secretário
da Produção Rural (o que será isso?), parecia fora de si, pactuada com
semelhantes como o apoplético Lindberg Farias. Por que não te calas, Farias?
Farias melhor se ficasses em silêncio obsequioso de ex-prefeito de Nova Iguaçu
com uma montanha de processos judiciais. A senadora Kátia Abreu, vestida de
toalha de mesa, deu vários sopapos na sintaxe e na lógica para mostrar quem é
que manda.
Lendo o texto que Dilma leu, vi que, se fosse uma redação, o
autor tiraria zero. Quando o redator sai do tema, até graves erros, como os de
concordância verbal, estampados hoje nos jornais e nos “sites”, são ignorados.
Para que corrigir abaixo de zero? Com efeito, esta é a nota que se dá quando a
redação não aborda o tema. No caso, nem sequer o bordejou, pois o assunto não
era aquele! Está claro que não foi ela quem o escreveu.
“O tempora, o mores” (que tempos, que costumes!), bradava
com frequência em seus discursos o admirado Cícero, o maior orador da Roma
antiga, fustigando desafetos como Catilina, que todos conhecemos ainda nos
estudos rudimentares de Latim. A frase de que mais gosto, aliás, não é esta.
Nem a famosa “quo usque tandem, Catiina, abutere patientia nostra?” (até
quando, Catilina, abusarás de nossa paciência?”). Eu gosto muito desta: “omnia
consilia tua patefacta sunt” (todos os teus planos foram revelados).
Para quem sabe ouvir e ler nas entrelinhas, os planos eram
outros. Não eram democráticos, não! Democracia requer alternância de poder!
Isto posto, vemos que a falta de ética, ontem, em resumo, andou de braços dados
com a falta de estética. É só conferir amostras verbais e visuais do hospício,
como o caracterizou o diretor da enfermaria e presidente do Senado, o senador
Renan Calheiros.
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