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quinta-feira, junho 21, 2018

Os Baby Boomers



Por Ruy Castro

De repente, o mundo descobriu que a geração Baby Boom está em idade de se aposentar. Os baby boomers, você sabe, foram as crianças nascidas logo a seguir à Segunda Guerra, quando milhões de soldados voltariam para seus países e começaram a casar e a procriar feito loucos. Os que tinham ficado em casa, de ouvido na BBC, inclusive no Brasil, fizeram o mesmo, talvez por uma sensação de alívio diante do apocalipse que não aconteceu, mas poderia ter acontecido – e, então, mais do que nunca, pela súbita existência da bomba atômica.

Curioso é que, em vez de partir para a esbórnia em face do possível fim do mundo, os jovens do pós-Guerra adotaram a singela atitude de casar e “constituir família”. Pode ser que, depois de anos em trincheiras, reais ou metafóricas, o lar lhes parecesse um casulo protetor. Daí tantos casamentos e, dali a meses, tantos milhões de novos cidadãozinhos no mundo. Um deles, eu – porque, nascido em 1948, sou um legítimo baby boomer.

Bem, passaram-se décadas, e, ativos desde os anos 60, acho que nós, daquela turma, já podemos ser avaliados pelo que aprontamos ou continuamos aprontando. E tenho o prazer de dizer que, em vários departamentos o sexo sem culpa, a consciência ecológica, os direitos das mulheres, das minorias e dos animais; acabamos com a Guerra Fria; desmoralizamos as ideologias; revolucionamos a tecnologia; avançamos espetacularmente a medicina, as comunicações e os transportes, etc. Belo legado.

Em compensação, também fomos péssimos em outras coisas. Tornamos as cidades impraticáveis, disseminamos as drogas, triplicamos a pobreza, infantilizamos o cinema e a música popular, compramos e vendemos armas, políticos e tudo o que pudesse ser negociado, intoxicamos o planeta com publicidade, carros e agrotóxicos – enfim, vamos deixar também uma bela lambança. E ainda não terminamos o serviço.

Bem diferente de nosso pais, que, depois de sobreviver a uma crise econômica e a uma guerra, ambas mundiais, e à bomba atômica, só queriam um pouco de sossego em que pudessem ler Seleções, ouvir discos de Carlos Galhardo, tomar Ovomaltine, ir de pijama pra uma cama quente e, um dia, aposentar-se e morrer de tédio.

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