Por Ruy Castro
De repente, o mundo descobriu que a geração Baby Boom está
em idade de se aposentar. Os baby boomers, você sabe, foram as crianças
nascidas logo a seguir à Segunda Guerra, quando milhões de soldados voltariam
para seus países e começaram a casar e a procriar feito loucos. Os que tinham
ficado em casa, de ouvido na BBC, inclusive no Brasil, fizeram o mesmo, talvez
por uma sensação de alívio diante do apocalipse que não aconteceu, mas poderia
ter acontecido – e, então, mais do que nunca, pela súbita existência da bomba
atômica.
Curioso é que, em vez de partir para a esbórnia em face do
possível fim do mundo, os jovens do pós-Guerra adotaram a singela atitude de
casar e “constituir família”. Pode ser que, depois de anos em trincheiras,
reais ou metafóricas, o lar lhes parecesse um casulo protetor. Daí tantos
casamentos e, dali a meses, tantos milhões de novos cidadãozinhos no mundo. Um
deles, eu – porque, nascido em 1948, sou um legítimo baby boomer.
Bem, passaram-se décadas, e, ativos desde os anos 60, acho
que nós, daquela turma, já podemos ser avaliados pelo que aprontamos ou
continuamos aprontando. E tenho o prazer de dizer que, em vários departamentos
o sexo sem culpa, a consciência ecológica, os direitos das mulheres, das
minorias e dos animais; acabamos com a Guerra Fria; desmoralizamos as
ideologias; revolucionamos a tecnologia; avançamos espetacularmente a medicina,
as comunicações e os transportes, etc. Belo legado.
Em compensação, também fomos péssimos em outras coisas.
Tornamos as cidades impraticáveis, disseminamos as drogas, triplicamos a
pobreza, infantilizamos o cinema e a música popular, compramos e vendemos
armas, políticos e tudo o que pudesse ser negociado, intoxicamos o planeta com
publicidade, carros e agrotóxicos – enfim, vamos deixar também uma bela
lambança. E ainda não terminamos o serviço.
Bem diferente de nosso pais, que, depois de sobreviver a uma
crise econômica e a uma guerra, ambas mundiais, e à bomba atômica, só queriam
um pouco de sossego em que pudessem ler Seleções, ouvir discos de Carlos
Galhardo, tomar Ovomaltine, ir de pijama pra uma cama quente e, um dia,
aposentar-se e morrer de tédio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário