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terça-feira, dezembro 01, 2009

Novos causos parintintins


Irmão do ex-vereador Oneldes Martins (hoje nome de uma rua nas imediações do Bumbódromo), o agricultor Lodi Martins morava no Paraná do Espírito Santo, na zona rural de Parintins, e vivia às turras com duas irmãs bem idosas, suas vizinhas, por conta de questões fundiárias.

Pra completar, Lodi possuía um garanhão puro sangue árabe e as duas irmãs, uma potranca manga larga.

Como soe acontecer nessas ocasiões, um dia o garanhão pulou a cerca e emprenhou a potranca.

Começou uma nova guerra entre os vizinhos para saber quem era o legítimo dono do potrinho, fruto da pulada de cerca do garanhão.

Depois de muitas ameaças de parte a parte, um agente comunitário resolveu intervir na questão e levou os litigantes para decidirem a questão no fórum de Parintins.

O juiz da comarca era o enfezado Dr. Vasconcelos que, em virtude de um defeito congênito (seu braço direito era atrofiado e meio curvo sobre a lateral do tórax), recebera o sugestivo apelido de “Vamos passear”.

As duas velhinhas entraram na sala de audiências já falando alto, xingando o agricultor e exigindo a posse imediata do potrinho.

O Dr. Vasconcelos ficou mais puto do que de costume:

– Vamos fazer silêncio, que isso aqui não é um mercado! – disparou, asperamente.

Aí, se virando para Lodi Martins, determinou:

– Fale o senhor primeiro! E vocês duas fiquem caladas aí ou vão passar o resto do dia tagarelando no xilindró!

O agricultor aproximou sua cadeira para bem perto da mesa do juiz.

– Dotô, pra sua melhor compreensão, eu vou lhe dar um exemplo.

Aí, batendo no ombro aleijado do juiz, na maior intimidade, descascou o abacaxi:

– Por exemplo, dotô, o senhor é uma égua e eu sou o cavalo. Eu lhe fodo, dotô! O senhor fica prenho. Nasce um cavalinho. Quem é o dono desse cavalinho, dotô?

À beira de um ataque de nervos, o juiz deu um murro na mesa e explodiu:

– É a puta que pariu, seo Lodi! A puta que pariu!

As duas velhinhas vibraram:

– Eu não falei que era nosso! Eu não falei que era nosso!

Quase que o juiz mete todo mundo na cadeia.

2
O padre Benito estava celebrando uma missa na comunidade Mamuru, na zona rural de Parintins, quando começou a ser entoada “A prece dos fiéis”.

O pescador Genivaldo foi o primeiro a se manifestar na oração espontânea:

– Por todos nós, para que descubramos o que Deus quer de nós, em nossa comunidade, rezemos ao Senhor.

– Senhor, escutai a nossa prece!

Depois, foi a vez da professora Dulciomar:

– Por todos os casais, para que descubram e manifestem perante o mundo a grandeza da vocação conjugal, rezemos ao Senhor.

- Senhor, escutai a nossa prece:

Aí foi a vez da octagenária Dona Genoveva:

– Para que a nossa comunidade tenha união, meus irmãos, vamos se cativar! Não vamos fazer como o filho do compadre Pedro que arrumou um brigueiro aqui na comunidade e se ele continuar assim só vai dá pro cu dele, rezemos aos Senhor!

E o resto da comunidade, em peso:

– Senhor, escutai a nossa prece!

3
Um dos mais conhecidos “pé de cana” de Parintins, o folclórico bebum Vavanilo ia passando pelo ponto de táxi da cidade abraçado alegremente com uma garrafa de Cocal, enquanto na pracinha defronte ao ponto de táxi uma dúzia de meninos tentava derrubar mangas rosa na base da pedrada.

Não deu outra. Uma das pedras errou o alvo e, ao cair, acertou no meio da cabeça de Vavanilo, fazendo descer uma cachoeira de sangue.

O bebum ficou injuriado:

– Seu curumins filhos da puta! Vocês não têm mãe não, pra dar educação pra vocês? Agora ficam nessa putaria de jogar pedras nas árvores sem reparar nas pessoas que estão passando. Seus filhos da puta de pai corno e mãe na zona... Cambada de leprosos, vocês já pensaram se a porra dessa pedra tivesse quebrado essa garrafa?! (e exibiu orgulhosamente o troféu).

Aí, sem dar a mínima pra cachoeira de sangue que jorrava de sua cabeça, escondeu ainda mais a garrafa de Cocal embaixo do braço e apressou o passo pra sair da zona de guerra.

Um comentário:

Unknown disse...

Sou um admirador inconteste do trabalho do Simão Pessoa. Gostaria de ver mais dessas relíquias do folclore caboclo.