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sábado, janeiro 12, 2013

Tudo que você queria saber, mas tinha vergonha de perguntar



No começo, eu tirava de letra.

Agora, infelizmente, já está me enchendo o saco.

A pergunta incômoda que não quer calar começou há dois meses: por que abandonei o Facebook?...

Pessoas que eu não conhecia nem de cumprimentar, de repente, me encontravam acidentalmente nos locais mais absurdos (portas de cinema, estandes de livrarias, mesas de bar, quadras de escolas de samba, mictórios de quinta categoria) e não tergiversavam.

– Você não é o poeta Simão Pessoa?... – indagavam, como se fossem Saulo no caminho de Damasco e acabassem de ver um resplendor de luz no céu.

Antes que eu abrisse a boca, o perquiridor avançava diretamente na minha jugular: “Por que você abandonou o Facebook? Por que? Por que?...”

Eu me limitava a sorrir e inventar uma história plausível, com começo, meio e fim:

“Porra, bicho, hackearam minha conta e postaram que eu era viado e torcia pelo Flamengo...”

“Ah, gata, começaram a me ameaçar de morte porque fiz campanha pro Artur Neto e pro Bosco Saraiva...”

“Porra, compadre, prometeram sequestrar um dos meus netos se eu não entregasse as falcatruas de um determinado político...”


Depois, cansei desse jogo de gato-e-rato e comecei a falar na lata: “Sabem por que encerrei a conta no Face? Porque aquilo lá é uma merda! Só por isso...”

A emenda ficou pior que o soneto.

As pessoas me olhavam como um traidor da causa e eu reconhecia em seus olhos um misto de ódio, rancor ou comiseração.

Comecei a ficar nervoso.

Com pessoas razoavelmente sadias mentalmente, ainda dá pra se discutir e tentar chegar a um meio termo.

Com evangélicos fundamentalistas, não.

E, me perdoem os palhaços: a turma que aposta e dedica sua vida às redes sociais, sinceramente, são evangélicos fundamentalistas da mais baixa extração.

Eu tenho por eles um desprezo simplesmente abjeto.

Não quero me ater sequer à bobajada geral de todo mundo querer ser um avatar de seus próprios delírios (o office-boy que diz ser diretor de empresa, a menina feiinha que posta como sua a foto de uma pantera hollywoodiana, o sedentário careca que se diz campeão de skate free style e por aí afora).

Essas coisas a gente descobre pelo nível ortográfico-gramatical-mental-intelectual de cada um e dá o devido desconto.

Não, o buraco é mais embaixo. E invasivo.


Qualquer filho da puta se acha no direito de escrever merdas (a título de comentário) no post que você acabou de endereçar a um amigo.

Mal comparando, é como se você estivesse discutindo silenciosamente em uma mesa de bar com um amigo querido sobre as contribuições de Adorno para a sociedade moderna e um bebum, a caminho do banheiro, gritasse pra vocês dois ouvirem que o Adorno era um reacionário de merda, elitista e viado.

No mundo real, o que você faria?

Esperaria o bebum voltar do banheiro, perguntaria “você me conhece?” e, antes que ele tentasse se explicar, meteria um murro com soco inglês no meio da fuça do vagabundo.

Que era pra ele aprender a não se meter com estranhos.

Que era pra ele aprender a não ouvir a conversa dos outros.

Que era pra ele aprender a não dar palpites em matérias que ele não domina.

No Facebook, você só consegue fazer isso se ficar 24 horas por dia diante do computador monitorando seus próprios textos – para deletar os comentários dos filhos da puta, que tentam a todo custo (Síndrome de pau pequeno? Viadagem reprimida? Cornice aguda? Aids em fase terminal?) lhe desmoralizar.

Não bastasse isso, ainda há uns malucos que postam na sua página pessoal todo tipo de merda que eles não têm coragem de postar em sua própria página.

Você acaba se transformando, involuntariamente, em um genérico desse tipo de filho da puta.

Pior. Não há como se defender desse tipo de ataque porque o Facebook se acredita uma plataforma livre onde tudo é permitido e o importante é interagir.

Me respondam com sinceridade: isso é vida?


“Ah, mas o Face aproxima as pessoas...”

Esse, quero crer, é o comentário recorrente pra quem gosta daquela merda.

Bom, eu devo ser mesmo um animal em extinção do período pré-jurássico porque ainda prefiro estar num boteco enchendo a cara e falando merda para uma plateia selecionada do que diante de um computador lendo merdas generalizadas de uma multidão (“O nome deles é legião”, me corrigiria Jesus, se um de nós acreditasse no outro).

E olha que eu gosto de ler pra caralho!

Também ainda prefiro estar conversando com gente de carne e osso do que com avatares malandrinhos.

Daí ter escolhido deliberadamente ficar numa plataforma anacrônica chamada “Blogger”.

Pelo menos, lá, eu tenho controle sobre os comentários.

E o melhor de tudo: transformo qualquer filho da puta em spam com um simples toque (o que envolve bloquear o IP do salafrário) pra ele nunca mais vir me pentelhar.

Além disso, sei que a meia dúzia de amigos para quem escrevo vai ler (ou não) o que escrevi.


No Facebook, eu tinha 4 mil amigos – e devia conhecer de verdade a mesma meia dúzia de amigos que frequentam meu blog.

Não que eu seja anti-social. Não é isso.

Só que, a esta altura do campeonato, estou muito mais interessado em manter os amigos que conquistei ao longo de quatro décadas do que em conquistar novos companheiros de luta.

Eu não vou acrescentar nada à vida deles.

Nem eles, infelizmente, à minha.

Só pra lembrar: nenhuma das minhas mulheres foi conquistada por meio de redes sociais.

Todas se envolveram comigo a partir do olho no olho, da conversa direta, da pegada de mão, do beijo de despedida, do cafajeste “posso voltar a te ver amanhã?...”

Mas isso tudo é muito anacrônico.

O Facebook representa a modernidade.

Prefiro ficar longe dele.

Ainda sou um amante à moda antiga, daqueles que ainda preferem estar dentro de uma mulher em vez de estar dentro de uma rede social que beira ao fanatismo.

Questão de gosto.


Sei que gosto não se discute.

Ao mesmo tempo, também sei que essa exclusão voluntária me torna um pária, um desertor, um leproso, um cão sem alma – junto aos frequentadores do Face.

Azar.

Não estou sozinho nessa luta inglória.

Basta ler abaixo o depoimento do jornalista Matheus K:

“O Facebook é um sugador de vidas, que nos entrega tudo prontinho, mastigadinho, deglutidinho.

Nosso único trabalho é rolar a página pra baixo e ver o que há de engraçado ou de mensagens intelectuais.

Sim, porque agora mesmo é que os jovens não lerão livros nunca mais...

Uma pessoa lê um livro, separa as frases incríveis e nos envia com uma foto de fundo de uma paisagem paradisíaca, que outro alguém teve a honra de presenciar.

Ou seja, uma pessoa está vivendo de verdade, enquanto nós estamos no olho da zona de conforto, observando o quão legal é a vida.

Até a propaganda é personalizada para nós.

Por esses dias, percebi que só me aparece camisas de rockeiro no canto direito e inferior da tela.

Minto. São camisas de rockeiros, óculos e camisas de super-heróis...

O Facebook me considera um nerd sedentário e gordo que ama rock.

A vida está pela hora da morte.

Literalmente, está acontecendo com o Facebook o que aconteceu com a TV.

Eu paro na frente da TV porque passei, acidentalmente, pela sala e sou sugado.

As propagandas... A programação... As mulheres peladas...

Tudo na TV faz com que nós sejamos hipnotizados, paralisados.

Aí, quando percebemos que gastamos dois minutos da nossa preciosa vida assistindo a uma programação ridícula, sem graça e que não traz absolutamente nada de produtivo, decidimos sair.

O problema é que já é tarde e sentimos uma larga sensação de perda de tempo, por mais que seja por apenas dois minutos.

O Facebook consegue ser pior do que a saudosa televisão.

Fomos só checar mensagens importantes que um amigo ia nos enviar, mas, quando percebemos, nós gastamos mais de uma hora lá, vendo imagens ridículas, frases de fácil entendimento, publicações contraditórias, e declarações de amor para Jesus, Iemanjá, Exu, Odin, Vênus, Zeus e Visnhu.

Por ser personalizado, às vezes eles acertam a mão, e o texto se torna um pouco engraçado/interessante...

Mas mesmo assim, isso não anula o sentimento de perda de tempo que a rede social nos proporciona, haja vista que 90% das publicações são completamente inúteis e idiotas.

O maior desconforto é que eu estou falando mal do Facebook, mas se não tiver nada para fazer hoje à noite, vou para lá.

O que é “nada para fazer”?

Tenho uns dois livros para ler...

Ahh... O Facebook é uma merda!”



Resumindo a ópera: assim como são os copos, são os canecos...

Quem conseguir entender que toda a filosofia da civilização cristã-ocidental está contida nesse simples aforisma criado por um “soldado da borracha” nos anos 50, dificilmente continuará nesse coma vegetativo chamado Facebook.

Ou não.

Você decide.

Um comentário:

Márcio Cesar disse...

Li o seu texto dando boas gargalhadas. Eu caí na real ainda em 2009/2010, quando excluí os meus usuários de todas essas redes sociais (orkut, facebook). Nunca criei nada em twitter e nem em outra merda desse tipo que nos faz perder tempo. Não sinto a menor falta disso. E olha que sou apaixonado pela informática, pela Internet, na qual tenho a sorte de acessá-la desde 1997, e trabalhar por mais de 12 anos nessa área. Na verdade, para acrescentar algo ao seu texto, se é que me permite, acho que o ser humano virou escravo das máquinas, como nos livros e filmes de ficção científica. Em contraponto ao seu texto existem inúmeros artigos imbecis espalhados em sites de revistas como a Exame e Isto É, defendendo o uso das redes sociais e do aparelho celular 24h ao dia. A vontade de tive foi de escrever um texto para rebater tamanhos absurdos. Caso fique curioso e queira ler os artigos (um deles entitulado "Estou conectado, logo existo") aqui vão os endereços: http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/midias-sociais/2013/01/09/estou-conectado-logo-existo/ e
http://www.istoe.com.br/colunas-e-blogs/coluna/265258_HOMO+SCAENICUS.