Aitel
Benzberg
Duas impressões sobem em paralelo ao escutar esses
descendentes de colombianos. Numa mão temos um trio familiar (na acepção do
termo: Jim, Gian e Chris Ortiz são irmãos) reprocessando blues o mais longe possível
da origem e vitaminando qualquer detalhe que o faça parecer sujo e transmissor
de tétano ao menor contato – e na outra temos algo que vale a dica por si
mesma: muito provavelmente são os caras mais desleixados que se prestaram a
fazer algo no gênero.
São de Houston, Texas. Começaram no ramo sob o nome de Blues
Condition, arranhando alguma coisa de Lightnin’ Hopkins e passando rapidamente
para algo mais psicodélico – estacionando logo na sequência naquilo que fazem
até hoje: blues rasgado, elétrico e descontroladamente alto.
Gravaram seu primeiro registro em 2003 na forma de um
auto-financiado EP de 5 faixas com uma tiragem miserável (200 cópias),
investimento que se mostrou acertado em análise posterior: foi graças ao boca a
boca gerado pelo disquinho que continuam num ritmo pesado de turnê até hoje.
E a estrada é o ambiente natural dos caras, seja pra
promover algum lançamento ou para simplesmente viver a vida.
Jim (guitarra, voz) costuma recordar: “crescer em Houston
não foi nada divertido. Nossos pais eram controladores e cheios de restrições.
O segredo foi esperar ficar mais velho e escapar daquilo”.
E seu pai devia ser mesmo um insuportável: depois de ter
assistido um programa sobre ‘músicas satânicas’ resolveu confiscar tudo que Jim
havia conseguido do Black Sabbath até então – e monitorar o que a rapaziada
ouvia no rádio. Tempos difíceis.
Óbvio que isso só serviu pra injetar ainda mais rock nos
irmãos.
Começaram a ensaiar escondidos quando os pais não estavam,
trocaram figurinhas com outros ‘sem-futuro’ como eles e conheceram ZZ Top, Van
Halen, Stevie Ray Vaughn, Led Zeppelin, Stones… o exército completo da danação.
Isso – mais o caminhão de blues que ouviam diariamente – foi
determinante até na escolha das ferramentas (quase todo o catálogo da Fender),
entre elas Blackface 68, Bandmaster 67, Bassman 70 – todas espetadas numa
constelação de speakers 2×15 Fender 66. Sujeiragem velha da melhor qualidade.
Por fim, Amplified Heat serve muito bem ao propósito de quem
não passa um dia sequer sem escutar velharia tipo Cream, Blue Cheer, Canned
Heat… – gente assim, por assim dizer, da minha laia.
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