Queridos leitores, abro todo meu espaço para transcrever um
trecho da autobiografia não-autorizada do estilista Dener, a ser relançada em
dezembro pela editora Cosac-Naify. A primeira versão de “Dener – O Luxo” foi
lançada originalmente em 1972.
Leiam o trecho abaixo e vejam a diferença entre
um estilista com estilo e o lixo (no name, please!) que hoje ocupa uma cadeira no Congresso da
nação. (Eva Gina dos Prazeres, secretária de redação, cama, mesa e banho do CANDIRU)
Os tanques estão na
rua, Dener!
Em princípios de 64 eu comecei a perceber que o país estava
fervendo porque em todo lugar só se falava de política. Muita gente vinha puxar
conversa comigo porque sabia que eu vestia Maria Teresa Goulart. Eu achava uma
graça danada de pensarem que eu jamais saberia as respostas para as perguntas
que me faziam. Só comecei a ficar preocupado quando percebi que os comunistas
estavam ficando fortes. Mas dois ou três uísques acabavam com qualquer
preocupação.
Até que um dia eu sou acordado de madrugada, nem me lembro
por quem. O mordomo chamou-me nervoso, pouco depois de eu ter adormecido.
Percebi que só poderia ser revolução ou guerra, ou ninguém ousaria me chamar
àquela hora. Era revolução. “Os tanques estão na rua, Dener! Parece que a
revolução venceu...”
Eu fiquei no pânico mais desesperador. A primeira coisa de
que me lembrei foi de uma fotografia de Pequim em que aparece todo mundo na
praça vestido igualzinho. O que eu enxergava diante de mim era pior que o
apocalipse. Alicia Scarpa, Elisinha Moreira Salles, todas de macacão azul,
colocando rótulo em pacotes de goiabada em alguma fábrica de subúrbio. Jamais
eu produziria macacões azuis para fabricação em massa. (...)
Sou tão inexperiente para esses momentos que não me passou
pela cabeça esconder meus tapetes, minha prataria, meus objetos de arte. Não
pensava no que eu tenho. Pensava no que eu não poderia mais fazer.
Comecei a imaginar como seria a deposição de Jango. Maria
Teresa é mulher de categoria e certamente seria deposta com dignidade, fazendo
alguma coisa que a marcasse. Mandei que o mordomo conseguisse ligar de qualquer
maneira para o Palácio do Planalto. De repente, tinha-me vindo um pensamento
negro: e se Maria Teresa, que deveria estar nervosa, não soubesse escolher o
vestido certo para um momento desses. Afinal, em matéria de deposição, é
raríssima uma segunda oportunidade.
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