O fotógrafo Leigh
Ledare quer te mostrar algo, provar um ponto
Federico Mattos
Talvez você nunca tenha parado para pensar, mas sua mãe pode
estar – nesse momento – morrendo de tesão, imaginando cenas perversas em que
algum desconhecido a pega por trás. Essa imagem pode parecer por demais
perturbadora, já que se trata da sua mãe.
Mas ela é gritante exatamente porque, se fosse com qualquer
outra mulher, seria uma situação altamente cobiçável.
A repugnância que você deve ter sentido não é só um fato
biológico de repelência genética, mas um valor profundamente enraizado em nossa
cultura: mães não têm sexo.
Pessoas se masturbam vendo o vídeo com uma atriz pornô
deliciosa.
Ela pode ter filhos e, consequentemente, alguém está batendo
uma pensando na mãe dele.
A sua, como qualquer outra mulher, possui desejos vivos
debaixo dos lençóis e, por pudor social ou sensibilidade demasiada de sua
parte, ela nunca se sentiu à vontade para compartilhar sua aventuras e
desventuras sexuais.
Talvez ela faça um boquete maravilhoso ou tenha habilidades
com pernas e você nunca vai saber.
E se ela resolvesse abrir o jogo contigo e confidencializar
suas taras? E se ela te contasse que já traiu seu pai com seu tio? E se ela
abrisse o jogo pra desabafar que já colocou uma cinta peniana para se
satisfazer com o seu pai?
O estereótipo de uma mãe velha e desinteressante
provavelmente ajuda alguns homens a não considerarem que as madres são apenas
pessoas e, como qualquer outra, são falíveis, além de nutrir uma gama rica de
fantasias, sonhos, desejos e loucuras pessoais.
O fotógrafo Leigh Ledare resolveu encarar o fato de que sua
mãe, assim como qualquer mulher do mundo, descabelada ou não, desfruta de tudo
aquilo que o seu corpo pode permitir.
Leigh Ledare passou um ano e meio sem ver sua mãe Tina
Peterson.
Quando voltou para casa, surpresa!, Tina o recebeu
completamente nua, sem esconder que estava acompanhada de um namorado.
Segundo Leigh, essa foi a maneira dela demonstrar que tinha
recuperado a autoestima.
Entre 2000 e 2008, Leigh tirou fotos de sua mãe nessa fase
boa da vida, aos 50 anos, transando e sendo feliz. Quem deu a ideia foi ela.
É curioso ver a reação chocada das pessoas diante da ousadia
deste filho.
Pervertido, tarado, veladamente incestuoso.
Muitos julgamentos difíceis de responder.
Mas ele deu uma pista em sua declaração:
“Eu vejo o desempenho da sexualidade de minha mãe como tendo
uma série de funções, entre elas, desafiar o clima de moralismo e conformismo
em torno dela, como uma forma de proteger-se do seu envelhecimento”
É muito bonito o seu protesto pela estética ao mostrar que
ainda somos conservadores e queremos colocar na geladeira qualquer mulher que
cruzou a linha da fase procriadora.
O culto à virgindade materna se tornou paradigma religioso
por reforçar um temor que muitos trazem para si, a de que a mãe, como qualquer
mulher, pode ser alvo de interesse sexual.
Em minha fase de leitor de contos eróticos, me surpreendia
com a quantidade de histórias que envolviam uma mãe sapeca que queria iniciar a
sexualidade do filho.
Além disso, em vários contos, poderíamos nos deparar com
figuras maternais como a tia gostosona, a enfermeira safada, a secretária
devassa, a empregada voluptuosa e outras tantas imagem que são representações
de cuidadoras, mães disfarçadas.
Sigmund Freud, criador da Psicanálise, foi bem perspicaz ao
denunciar esse drama inconsciente presente na mente do homem.
Ainda que muitos considerem as teoria do velho Sig ultrapassadas,
não consigo deixar de entrever que o drama de Édipo ainda permeia o imaginário
dos homens.
Ao separar mulheres em santas e putas, para trepar ou casar,
se denunciam no esforço bem primitivo de separar aquelas que ele pode desejar
desmedidamente e postar vídeos sacanas pela internet daquelas quase assexuadas
que chamarão de esposa e apresentarão para a mamãe querida e imaculada.
A iniciativa de Leigh é um chamado de alerta para nosso
moralismo habitual. É libertador.
Com isso, gostaria de ouvir o que acharam da exposição dele
e sobre os temas que levantei aqui.
Ainda tem muito pano pra manga dos comentários.
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