Por Eduardo Brito
Fake news é termo novo. Tão novo quanto verdade alternativa, a denominação adotada por quem gosta de fake news. Só que a prática é antiga nos meios políticos e, principalmente, entre os governantes, muito antes de se adotarem as denominações em inglês. A propósito, chamava-se mentira, mesmo. No Brasil, sucessivos governos, governantes e candidatos a governantes usaram e abusaram da mentira.
É disso que trata o livro “Você Foi Enganado”, dos jornalistas Chico Otávio e Cristina Tardáguila, publicado pela Editora Intrínseca. A falsificação de notícias em época de campanha eleitoral é um modus operandi tão antigo quanto a Velha República, ao menos. É o que mostra o livro, que tem como subtítulo “Mentiras, exageros e contradições dos últimos presidentes do Brasil”.
Ao longo da história do Brasil, candidatos à Presidência da República, vice-presidentes e presidentes eleitos faltaram com a verdade ao se dirigir à população. Fosse qual fosse o partido, se não mentiram, muitas vezes optaram por omitir dados ou induzir os cidadãos a conclusões equivocadas sobre o cenário político.
Aproveitando-se da boa-fé dos brasileiros, políticos usaram a mentira como instrumento para conquista e manutenção do poder.
Em “Você Foi Enganado”, Cristina Tardáguila e Chico Otavio apresentam uma seleção de casos que marcaram nossa história, desde 1920 até agora mesmo. Estão no livro episódios emblemáticos envolvendo 15 presidentes.
Tem de tudo: documentos forjados para sugerir uma fictícia ameaça comunista; fotos posadas para omitir o grave estado de saúde de (vários) governantes; e principalmente presidentes que, eleitos, fizeram o oposto do que prometeram de modo veemente durante o processo eleitoral.
Primeira mentira
No Brasil, um país de memória curta, foram incontáveis os momentos em que candidatos e governantes se aproveitaram da boa-fé dos eleitores. Cristina Tardáguila e Chico Otavio mostram, por meio de análises de casos emblemáticos, como a mentira serviu de instrumento para a conquista e a manutenção do poder. E ressaltam: “Não foi casual a escolha do ano eleitoral de 2018 para colocar no mercado editorial brasileiro esta obra. Este livro é uma tentativa de tornar os eleitores mais atentos e preparados para as decisões que deverão tomar diante das urnas”.
Provavelmente nunca se saberá qual foi a primeira mentira aplicada na política brasileira. Os autores escolheram um caso de 1921 para, já na introdução do livro, começar a explorar e contextualizar o tema. Esse foi o ano em que cartas falsamente atribuídas ao mineiro Artur Bernardes incendiaram o País, ajudando a intensificar o clima de instabilidade reinante. Nos oito capítulos que se seguem, passeiam sucessivos presidentes, de Figueiredo a Temer, de Tancredo a FHC, de Collor a Lula. Eles comprovam: a mentira não tem partido nem posicionamento político específico.
Os autores fizeram um trabalho minucioso de apuração. Além de consultarem arquivos e bibliografia especializada, ao longo de oito meses ouviram historiadores, economistas, cientistas políticos e fontes próximas ao poder. A partir do material reunido, selecionaram, dentre episódios antigos e novos, os que compõem o livro. Situações em que políticos abertamente enganaram os cidadãos, seja mentindo, exagerando, ocultando, distorcendo ou se contradizendo.
Alguns dos fatos contados no livro:
Bomba do Riocentro explodiu no governo
Quando agentes do ex DOI-Codi detonaram um explosivo em show de música, no Rio, o presidente Figueiredo prometeu investigação severa. Na verdade, o único esforço do seu governo foi manipular o inquérito aberto e culpar “radicais de esquerda” não identificados.
Doença escondida, cirurgias misteriosas
A ocultação de informações sobre a doença do presidente eleito Tancredo Neves partiu dele próprio, por temer que não se consumasse a abertura política. Tudo se agravou e o Brasil mergulhou em um pesadelo médico-hospitalar até sua morte. Está em O Paciente, nos cinemas.
Real será preservado, diz Fernando Henrique
Um mês antes da eleição de 1998, a crise externa ameaçava o valor do real, justamente o que segurava a inflação e o poder de compra do brasileiro. O presidente disse que quem defendia desvalorização não “tem apreço pelo trabalhador”. Em janeiro, o câmbio foi liberado.
Lula garante que vai acabar com corrupção
Em plena campanha para o Planalto veio a promessa: “Se ganharmos a eleição, tenho a certeza de que parte da corrupção irá desaparecer já no primeiro semestre”. Quem afirmava? Luiz Inácio Lula da Silva. Não se passaram dois anos e veio o mensalão. Depois, o petrolão.
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