Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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quarta-feira, setembro 23, 2009
Histórias do Clube da Madrugada (2)
Um dos mais conhecidos textos teatrais de Pedro Bloch, a peça “Dona Xepa” conta a história de uma feirante que, abandonada pelo marido, criou os dois filhos sozinha, dando-lhes tudo o que podia.
Ela abdica de sua própria vida e faz todos os sacrifícios para oferecer a Edson e Rosália uma realidade mais cor-de-rosa do que a sua.
O desejo das pessoas simples de ver seus filhos doutores e sentirem-se orgulhosas por isso é a chave de todo o conflito que rege a trama.
Enquanto Edson se empenha em tornar-se um escritor e esbarra na dificuldade de entrar no mercado editorial, a ambiciosa Rosália só pensa em fazer um casamento financeiramente rentável, que a faça ter uma vida de luxo e ostentação.
Em Manaus, a peça foi encenada pelo Teatro Escola do velho Braga – um conhecido chapeleiro que também consertava guarda-chuvas –, tendo no papel de “Dona Xepa” a estonteante Marisa Lobato, uma vênus calipígia da maior competência.
O poeta e futuro vereador Farias de Carvalho, que participou da peça num papel secundário, ficou mortalmente apaixonado pela, digamos assim, “padaria” da atriz.
Não era para menos. Perto do porta-malas da moça, os “derrières” de Viviane Araújo, Suzana Alves e Scheila Carvalho seriam confundidos com o da Olívia Palito.
Pra completar, a distinta era casada com um militar de alta patente e nunca deu a mínima para o olhar de cachorro pidão do renomado poeta.
Tempos depois, em meados dos anos 60, durante uma reunião informal de poetas e jornalistas no “Palácio da Moda” (na realidade, eles iam lá diariamente para matar o tempo e filar cafezinho do empresário Belmiro Vianez, dono da loja e amigo da turma), eis que Farias de Carvalho depara-se com uma epifania: a estonteante Marisa Lobato, em carne e osso (muito mais carne do que osso, claro), ostentando um coladíssimo vestido de lycra na cor “vermelho-hemorragia”.
Vinda da “Quatro e quatrocentos” (depois Lobrás), a vênus calipígia ia subindo a Eduardo Ribeiro em direção à Confeitaria Avenida e passou pela frente do “Palácio da Moda”. Farias de Carvalho entrou em transe místico.
Parado na calçada, ele ficou saboreando avidamente aquela aparição divina.
Ainda transfigurado, o poeta entrou no “Palácio da Moda”, descolou um lápis Johan Faber n.º 2 com Belmiro Vianez e, num papel de embrulho, rascunhou um soneto, que se tornou instantaneamente um dos grandes clássicos da nossa poesia porno-erótica:
“Este teu cu, ó minha doce amada,
Voltado, assim, pras bandas do nascente,
Pareceu aos meus olhos, de repente,
Um pedaço de lua ensangüentada!
E é por vê-lo, assim, indiferente,
Às preces desta pica apaixonada,
Que me ponho a adorá-lo diariamente
Nesta minha capela de calçada.
Porém, um dia, amor, se tu quiseres
E o teu róseo botão enfim me deres,
Cheia de amor e de paixão profunda,
O mundo inteiro iria ver, tremendo,
O quarto Sputinik arremetendo
Na abóbada do céu da tua bunda!”.
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