Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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quinta-feira, fevereiro 18, 2010
Brasileiro lê, em média, um livro por ano, diz pesquisa
Leitor habitual do mocó, o universitário Cláudio Magalhães (aka “Magal”) pede que eu comente essa matéria publicada no jornal O Povo, de Fortaleza:
Um levantamento do Instituto Pró-Livro confirma que o brasileiro lê pouco. São 77 milhões de não leitores, dos quais 21 milhões são analfabetos. Já os leitores, que somam 95 milhões, leem, em média, 1,3 livro por ano. Incluídas as obras didáticas e pedagógicas, o número sobe para 4,7 ainda assim baixo.
Os dados estão na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, feita com 5.012 pessoas em 311 municípios de todos os estados em 2007. “O livro é pouco presente no imaginário do brasileiro”, explica o diretor do Livro, Leitura e Literatura do Ministério da Cultura, Fabiano dos Santos.
Nos Estados Unidos, por exemplo, a população lê, em média, 11 livros por ano. Já os franceses leem sete livros por ano, enquanto na Colômbia, a média é de 2,4 livros por ano. Os dados, de 2005, são da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), que integram o Instituto Pró-Livro.
Detalhes dos hábitos do brasileiro relacionados ao livro, revelados na pesquisa, atestam esta afirmação. O levantamento considera como não leitores aqueles que declararam não ter lido nenhum livro nos últimos três meses, ainda que tenha lido ocasionalmente ou em outros meses do ano.
Entre os leitores, 41% disseram que gostam muito de ler no tempo livre, enquanto 13% admitiram que não gostam. Também entre os 95 milhões de leitores brasileiros, 75% disseram que sentem prazer ao ler um livro, mas 22% sustentaram que leem apenas por obrigação.
Com as estatísticas nas mãos, Fabiano dos Santos diz que há dois caminhos a percorrer para fazer do Brasil um país de leitores: ampliar o acesso ao livro e investir na formação de leitores.
A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil sugere que a maior influência para a formação do hábito da leitura vem dos pais, o que explica o fato de que 63% dos não leitores informaram nunca terem visto os pais lendo.
Por outro lado, o levantamento sugere que o hábito de ler é consolidado na escola e quanto maior o nível de escolaridade, maior o tempo dedicado à leitura.
Entre os entrevistados com ensino superior, há apenas 2% de não leitores e 20% disseram que dedicam entre quatro e dez horas por semana aos livros. Este índice cai para 12% entre estudantes do ensino médio.
“É em casa e na escola, que os leitores são formados. Depois dos pais, os professores são os maiores incentivadores, mas poucos têm a experiência da leitura. E, neste caso, fazer do aluno um leitor é uma mágica”, diz o diretor do Livro do Ministério da Cultura.
O professor de Literatura Dilvanio Albuquerque considera que o desinteresse do brasileiro pelos livros não pode ser atribuído apenas à família e à escola. “O problema é mais amplo. Não podemos falar que a culpa é da instituição, seja ela familiar ou escolar, porque, na verdade, o problema é cultural”.
Para o professor, até entre os universitários, o hábito da leitura não é comum, inclusive nos cursos em que o contato com a escrita é fundamental. “Normalmente a universidade não oferece um bom acervo. Moramos em um país em que os livros são caros e de difícil acesso”, disse.
Meu caro Magal, confesso que não tenho qualquer receita pronta para estimular a leitura entre nosotros.
O presidente Lula disse uma vez que ler é pior do que fazer exercício de esteira e ele deve saber bem do que está falando, já que encarna como ninguém o papel midiático de “guia iluminado do povo”.
Eu, particularmente, acho que ler é melhor do que andar em esteira. Pelo menos o livro nos leva a algum lugar.
Muita gente que eu conheço diz que não lê por falta de tempo. Será?
Bom, somente nesses primeiros dois meses do ano já devorei os seguintes títulos, discriminados por gênero literário:
1. Memórias
a) Meu Bloco na Rua, de Mário Adolfo
b) À Mesa do Vilarino, de Fernando Lobo
c) Campeão de Audiência, de Walter Clark
d) Poeira das Estrelas, de Luiz Carlos Miéle
e) Eles e Eu, de Ronaldo Bôscoli
2. Ensaios
a) Linguagens da Violência, Carlos Alberto Messeder Pereira e outros
b) As Marchinhas de Carnaval, de Carlos Henrique Camacho
c) Livro de Ouro do Carnaval Brasileiro, de Felipe Ferreira
3. Crônicas
a) Noites de Sábado e Outras Crônicas Cariocas, de Luiz Pimentel
b) Bib Bip 40 anos - A História de um Bar, de Chiquinho Genu e outros
c) Dias de Cachorro Louco, de Edney Silvestre
d) Outros Tempos, de Edney Silvestre
e) Flanando em Paris, de José Carlos de Oliveira
4. Humor
a) Conspirações, de Edson Aran
b) Delacroix escapa das chamas, de Edson Aran
c) Suíte Gargalhadas, de Henrique Cazes
E isso tudo sem parar de trabalhar diariamente, de blogar aqui no mocó, de escrever e rescrever dois novos livros que estou concluindo, de encher a cara nas noites de sexta e nas tardes de sábado, de visitar os filhos e netos, e de fazer sexo casual três vezes por semana.
Quer dizer, essa desculpa de falta de tempo é meio furada.
Dizer que livro custa caro é outra bobagem sem tamanho.
No Sebão de Manaus, onde o Simas trabalha, e no sebo O Alienista, comandado pelo poeta Celestino Neto, você encontra bons livros a partir de R$ 2 - o preço de uma cerveja em lata.
Existem hoje cerca de 300 milhões de blogs na Web. Pelo menos 0,01% (30 mil) deles publicam coisas interessantes.
As informações estão ali, na mão, e só precisam de alguns segundos de pesquisa no Santo Google pra você encontrar um assunto que lhe desperte a atenção.
A verdade verdadeira, meu caro Magal, é que as pessoas não lêem porque não querem.
A maioria do povo brasileiro ainda prefere ficar quatro horas diárias hipnotizada pela telinha colorida a fazer seus neurônios trabalharem um pouco mais.
A esse respeito é elucidativo o artigo do Miguel Reale Júnior, advogado, professor titular da Faculdade de Direito da USP e membro da Academia Paulista de Letras, que transcrevo abaixo:
Programas como Big Brother indicam a completa perda do pudor, ausência de noção do que cabe permanecer entre quatro paredes. Desfaz-se a diferença entre o que deve ser exibido e o que deve ser ocultado.
Assim, expõe-se ao grande público a realidade íntima das pessoas por meios virtuais, com absoluto desvelamento das zonas de exclusividade. A privacidade passa a ser vivida no espaço público.
O Big Brother Brasil, a Baixaria Brega do Brasil, faz de todos os telespectadores voyeurs de cenas protagonizadas na realidade de uma casa ocupada por pessoas que expõem publicamente suas zonas de vida mais íntima, em busca de dinheiro e sucesso.
Tentei acompanhar o programa. Suportei apenas dez minutos: o suficiente para notar que estes violadores da própria privacidade falam em péssimo português obviedades com pretenso ar pascaliano, com jeito ansioso de serem engraçadamente profundos.
Mas o público concede elevadas audiências de 35 pontos e aciona, mediante pagamento da ligação, 18 milhões de telefonemas para participar do chamado "paredão", quando um dos protagonistas há de ser eliminado.
Por sites da internet se pode saber do dia-a-dia desse reino do despudor e do mau gosto. As moças ensinam a dança do bumbum para cima.
As festas abrem espaço para a sacanagem geral. Uma das moças no baile funk bebe sem parar. Embriagada, levanta a blusa, a mostrar os seios. Depois, no banheiro, se põe a fazer depilação.
Uma das participantes acorda com sangue nos lençóis, a revelar ter tido menstruação durante a noite.
Outra convivente resiste a uma conquista, mas depois de assediada cede ao cerco com cinematográfico beijo no insistente conquistador que em seguida ridiculamente chora por ter traído a namorada à vista de todo o Brasil.
A moça assediada, no entanto, diz que o beijo superou as expectativas. É possível conjunto mais significativo de vulgaridade chocante?
Instala-se o império do mau gosto. O programa gera a perda do respeito de si mesmo por parte dos protagonistas, prometendo-lhes sucesso ao custo da violação consentida da intimidade.
Mas o pior: estimula o telespectador a se divertir com a baixeza e a intimidade alheia.
O Big Brother explora os maus instintos ao promover o exemplo de bebedeiras, de erotismo tosco e ilimitado, de burrice continuada, num festival de elevada deselegância.
O gosto do mal e mau gosto são igualmente sinais dos tempos, caracterizados pela decomposição dos valores da pessoa humana, portadora de dignidade só realizável de fixados limites intransponíveis de respeito a si própria e ao próximo, de preservação da privacidade e de vivência da solidariedade na comunhão social.
O grande desafio de hoje é de ordem ética: construir uma vida em que o outro não valha apenas por satisfazer necessidades sensíveis.
Proletários do espírito, uni-vos, para se libertarem dos grilhões da mundialização, que plastifica as consciências.
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Um comentário:
Legal esse post.. o BB.. humm, melhor nem dizer, pois concordo com tudo que disseste em genero, numero e grau. Sempre bom te ler. Um abraço.
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