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quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Celito Chaves e Pedrinho Ribeiro na Terra do Guaraná


Alfredo Loureiro, Garçon, Afonso Toscano, Mrs. Pennington, Celito, Heloisa Chaves e Rita Loureiro. Ao fundo, David Pennington com violão. Essa é mais uma foto-relíquia do fuderoso Rogelio Casado.

Setembro de 1984. O empresário Henrique Mendonça entra no Bar do Armando nervosíssimo. Ele havia contratado o músico Carlinhos e seu teclado mágico para inaugurar uma churrascaria em Maués, na noite daquela sexta-feira, mas havia levado um cano. Carlinhos tinha ido se apresentar em Santarém (PA).

Como ele havia passado um mês anunciando a inauguração e prometido uma atração musical de Manaus, queria saber se ali no recinto havia alguém disposto a substituir o “furão”.

O avião para levar os músicos estava só aguardando no Aeroclube. Cachê e hospedagem não era problema. No dia seguinte, o avião traria os músicos de volta pra Manaus.

Lisos e confiados, os músicos Pedrinho Ribeiro e Celito Chaves, acompanhados de seus respectivos instrumentos (um violão e um atabaque), se apresentaram para a tarefa.

Nenhum dos outros músicos presentes (Afonso Toscano, Guto Rodrigues, Américo Madrugada, Manuel Batera, Beto Blue Bird, etc) topou a empreitada.

Henrique Mendonça acertou o pagamento, colocou os dois músicos no carro e se mandou para o Aeroclube. Uma hora depois, os três estavam descendo no aeroporto de Maués e foram diretamente para a churrascaria.

Pedrinho Ribeiro percebeu logo o tamanho da encrenca. A churrascaria era apenas o anexo de um gigantesco clube, onde seria realizada a festa.

Em vez de um show acústico típico de churrascaria, como eles estavam imaginando, os dois teriam de animar um baile de gala para metade da cidade.

Muitas mulheres de vestido longo e homens trajados impecavelmente já estavam nas mesas, aguardando o início do fuzuê.

Pedrinho conferiu a possante aparelhagem de som e não teve dúvidas: solicitou ao técnico de som que posicionasse quatro microfones na frente do atabaque do Celito, já que para animar o forrobodó aquele atabaque teria que soar como uma bateria sendo tocada pelo lendário John “Bonzo” Bonham, do Led Zeppelin. O Celito que desse o jeito dele.

Acostumado a animar bailes nas noites de Belém, Pedrinho sabia de cor e salteado a dinâmica do espetáculo. Na primeira hora, só músicas lentas, depois, músicas mais frenéticas e, finalmente, uma nova desacelerada para o público tomar fôlego.

O empresário providenciou uma garrafa de uísque para cada um deles e acertou que o baile começaria às 11h da noite de sexta e terminaria às 3h da madrugada de sábado.

No horário estabelecido, Pedrinho Ribeiro iniciou com uma seqüência de músicas lentas (Roberto Carlos, Paulo Sérgio, Márcio Greick, Odair José, Miltinho), que Celito levou só na manha.

O gigantesco salão se encheu rapidamente de casais dançando de rosto colado.

A partir da meia-noite, começou o calvário do Celito.

Pedrinho Ribeiro enfiou uma seqüência da Jovem Guarda (Renato e seus Blue Caps, The Fevers, Golden Boys, Leno e Lílian, Jerry Adriani) e emendou com uma seleção de carimbó (Pinduca, Verequete, Mestre Lucindo, Mestre Ninito). O baile pegou fogo.

Para acompanhar a presepada, Celito teve que incorporar a deusa indiana Lakshmi, que possui quatro braços.

Com os dedos prestes a estourarem de tão inchados, ele cochichava pro Pedrinho Ribeiro:

– Diminui esse ritmo, porra! Diminui esse ritmo que eu não estou mais agüentando...

Pedrinho cochichava de volta:

– Te fode, caralho! Você não é músico? Faz o teu papel que eu faço o meu...

Depois de duas horas naquele ritmo alucinado, Pedrinho Ribeiro começou uma seqüência de boleros (Agustin Lara, Bienvenido Granda, Lucho Gatica, Gregório Barros) e levou naquele diapasão até o encerramento do baile.

Na mesma hora, Celito se livrou do atabaque e foi atrás de gelo para tentar diminuir o estrago. Seus dedos estavam tão inchados que ele não conseguia fechar as mãos.

O empresário Henrique Mendonça ficou tão empolgado com a apresentação dos dois que queria contratá-los para um repeteco no dia seguinte.

Celito, com as duas mãos imersas em um saco de gelo, não topou:

– Se meus dedos não gangrenarem de hoje pra amanhã, eu só volto a pegar em atabaque daqui a seis meses. Esse Pedrinho Ribeiro é um filho da puta!...

No dia seguinte, os dois músicos voltaram pra Manaus. Nunca mais Celito quis acompanhar Pedrinho Ribeiro no atabaque.

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