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sábado, fevereiro 06, 2010

Relembrando a Oposição Sindical Metalúrgica Puxirum (Parte 1)


Jaques Castro, primeiro presidente da CUT-Amazonas e seu harém particular (mãe e irmãs), cuja trajetória de luta alguns revisionistas de meia tijela tentam embaçar

No início de 1980, meu brother Jaques Castro resolveu voltar para sua terra natal, Cruzeiro do Sul (AC), onde passou um ano sabático executando atividades sociais na periferia da cidade. Quando retornou a Manaus, no começo do ano seguinte, havia se convertido em um ferrenho marxista-leninista.

Como sempre tive um pé no marxismo e outro, no anarquismo, aquela mudança política dele não promoveu nenhum abalo em nossa amizade (se ele tivesse virado stalinista, eu nunca mais o cumprimentaria).

Passei pra ele minha coleção de livros clássicos de Marx, Engels, Lênin e Trotsky e alguns exemplares do jornal O Inimigo do Rei. Ele adorou os livros, mas detestou o jornal.

Alguns meses depois, Jaques foi trabalhar como supervisor na CCE da Amazônia e criou um grupo de estudos marxistas dentro da fábrica.

Um dia, ele me convidou para participar de uma das reuniões da turma, na Casa da Cultura, que funcionava no bairro de Aparecida. Eu sabia que aquilo era uma espécie de aparelho do clandestino PCB porque havia me tornado amigo do Orlando Farias e do Rui Brito, desde a época do ICHL.

Pelo que entendi, eles haviam sido recrutados pelo Lino Chíxaro, da Juventude Comunista do partidão, para desenvolverem um trabalho sindical no meio operário.

Era um grupo pequeno, mas muito valoroso e voluntarioso. Além de Jaques, participavam Gilberto, Ana Maria, Eleninha, Telma, Paulo Eider, Luciana, Carlos Buiu, Zé Gustavo e Jussara. Alguns militantes secundaristas do PCB, como Adenilton Pinto e Edmilson Pai da Mata, acabaram se agregando ao núcleo inicial.


Eu, o ex-vereador Jorge Maia e o jornalista Orlando Farias, no aprazível balneário particular do ex-vereador

Me enturmei com eles e começamos a produzir um jornalzinho mimeografado, intitulado “Alavanca”, que era distribuído clandestinamente nas fábricas do Distrito Industrial. O informativo era creditado à Oposição Sindical Metalúrgica de Manaus.

Para a Articulação Nacional de Movimentos Populares e Sindicais (Anampos), criada em João Monlevade (MG), em janeiro de 1980, colocar seus bate-paus escarafunchando a região Norte e nos descobrir, foi conta de multiplicar.

Comecei a trocar correspondência com a Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo, cujo sindicato estava nas mãos de Joaquim dos Santos Andrade (aka “Joaquinzão”, 1926-1997).

Ele presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo durante 22 anos, até 1987. Comprava e vendia greves, mas em janeiro de 1976 foi o único presidente de sindicato de metalúrgicos a protestar pela morte do operário Manuel Fiel Filho, assassinado no DOI-Codi do então 2º Exército.

O sindicalismo do ABC, surgido nos anos 70, considerava-o ícone da corrupção sindical do entardecer da ditadura. Joaquinzão morreu pobre, numa modesta casa de repouso.

Todos os seus sucessores, bem como os seus principais adversários, tornaram-se pessoas patrimonialmente prósperas e politicamente poderosas. (Quem quiser pode conferir: ele deixou um carro, uma pequena casa num bairro popular e um sítio.)

O atual presidente Lula, seu jovem rival no século passado, comanda hoje um contubérnio de sindicalistas com fundos estatais, corredores do Planalto e saletas do Ministério do Trabalho. Mas isso é um papo mais lá pra frente.


Joaquinzão e o atual ministro Joaquim Barbosa, considerado o Joaquinzão do Lula

O sindicalismo, que havia sido dizimado pelo golpe militar de 1964, começa a ser retomado ainda sob as barbas dos militares, no fim da década de 1970, fortalecido pela indignação da massa trabalhadora que, além da repressão política e do arrocho salarial, era enganada de forma descarada, como se verificou na manipulação dos índices da inflação de 1973 pelo governo federal denunciada pelo DIEESE em 1977.

Esta retomada foi marcada por um período de muitas greves, pelo surgimento de lideranças entre os trabalhadores e pela proliferação de ideologias e bandeiras. O movimento, entretanto, precisava de uma direção.

Em janeiro de 1980, a Comissão Nacional da Unidade Sindical, representando sindicalistas de todo o Brasil, reuniu-se no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e decidiu que os trabalhadores deveriam lutar por um salário mínimo real e unificado, garantia no emprego, reforma agrária e combate à carestia.

Para isso, foram programados o 1º de maio nacional unificado e a realização da 1ª Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras (Conclat), marcada para agosto de 1981.

Apesar de ter sido convidada para participar, a Oposição Sindical Metalúrgica de Manaus acabou ficando de fora do evento, que ocorreu entre 21 e 23 de agosto de 1981, na Praia Grande, em São Paulo.

Foi a primeira grande reunião intersindical realizada no Brasil desde 1964, com representações de várias facções do sindicalismo brasileiro e cerca de cinco mil trabalhadores, entre eles Lula, Joaquinzão, Antonio Rogerio Magri, presidente dos eletricitários de São Paulo, Arnaldo Santos, presidente dos metalúrgicos de Santos e Zé Francisco, presidente da Contag.

Na pauta constavam assuntos como direito ao trabalho, saúde e previdência social, política econômica e salarial, problemas nacionais etc.

Além disso, havia o projeto de criação de centrais sindicais que atendessem as demandas daquele momento da classe trabalhadora no Brasil.

No plano de ação foi aprovado a convocação de um dia nacional de luta em 1º de outubro e a indicação de uma greve geral.

O Congresso girou em torno da idéia da unificação, mas, o embate de dois projetos dividiu o movimento entre “pelegos” e “progressistas”.

A direção da Comissão pró-Central Única dos Trabalhadores (ou pró-CUT, para os íntimos) foi formada a partir de uma negociação entre a Unidade Sindical (ligada aos “pelegos”) e a Anampos (ligada aos “progressistas”).

Um novo Conclat foi marcado para 1982, logo adiado devido às eleições daquele ano – as primeiras em que a população votaria pra governador.

Em dezembro de 1981, fiz vestibular para Direito Noturno, na FUA. Fui aprovado e pedi aproveitamento das matérias que já havia cursado em Administração.

Por causa dos créditos disponíveis, eu praticamente só ia estudar na Faculdade de Direito a partir de março de 1983.

Eu tinha um ano inteiro para ficar coçando o saco, já que não pretendia mais concluir o curso de Administração (eu havia feito 180 créditos dos 220 previstos no curso).

Em março de 1982, por meio do Mário Adolfo, plantamos uma “notinha” no jornal A Crítica convidando todos os operários metalúrgicos a participarem de uma reunião ampliada no Instituto de Educação do Amazonas para conhecerem melhor a Oposição Sindical Metalúrgica de Manaus. Compareceram umas 60 pessoas.

Eu e Jaques abrimos a reunião, explicamos a importância daquela reunião e depois passamos a palavra para alguns convidados especiais.

Responsável pela criação de dezenas de cooperativas de trabalhadores no interior do estado, o engenheiro agrônomo Zé Roberto Garcia, na época namorado da Gabriela, explicou a necessidade de organização para sermos vitoriosos na eleição e nos deu a régua e o compasso para atingirmos aquele objetivo.

O professor universitário Antonio Lavor Barreto nos incentivou a não desistir da luta e nos deu uma injeção de ânimo.

– Existem mais de 20 mil operários no Distrito e somente vocês estão aqui. Isso significa que vocês são a vanguarda do movimento. Mesmo porque para esse tipo de luta o que conta é a qualidade e não a quantidade! –, explicou.

Os dois convidados foram aplaudidos entusiasticamente pela platéia.

No final da reunião, um rapaz acompanhado da esposa pediu para falar comigo. Estranhei o fato de ele estar portando uma bíblia embaixo do braço, mas não dei muita importância ao fato – a despeito de minha aversão natural a evangélicos. Ele se identificou.

Disse se chamar Ricardo Moraes, era operário da Philips da Amazônia e comandava um pequeno grupo ligado à Pastoral Operária.

Seu preceptor era o padre Renato, um italiano de esquerda com grande atuação no bairro da Compensa. Combinamos de nos encontrar no sábado seguinte, em um porão da Cúria Metropolitana, na avenida Joaquim Nabuco, onde eles costumavam se reunir.

No local também funcionava a Associação Kukuro, de defesa da causa indígena, comandada pelo saudoso Ricardo Parente.

Mediado pelo padre Renato, foi um encontro interessante para as duas partes. A Pastoral Operária não tinha muitos militantes (somente Ricardo Moraes, Élson Farias, José Silvestre, Magno Frazão, Nilton Massulo e Elias Sereno), mas tinha um local fixo para reuniões.

A gente tinha o triplo de militantes, mas não tinha um local para se reunir (o PCB havia desmobilizado a Casa da Cultura). Juntamos a fome com a vontade de comer.

Resolvemos adotar o nome oficial de Oposição Sindical Metalúrgica Puxirum (sinônimo de “Mutirão”) e começamos a produzir um boletim com esse nome.

Pra se ter uma pálida idéia da indigência cultural do pessoal da Pastoral Operária, eles eram tão desinformados que sequer eram filiados ao Sindicato dos Metalúrgicos.

Como é que a gente ia disputar uma eleição sindical se era necessário, no mínimo, ter um ano de filiação no sindicato e dois anos na categoria? Quase na marra, eu intimei que eles se filiassem ao sindicato.

Comecei a passar para eles o material impresso que recebia mensalmente da Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo. Os textos acabaram se transformando em objeto de estudo e discussão do novo grupo unificado.

A gente combinou de discutir as táticas e estratégias de campanha todo sábado à tarde e a participar das reuniões mensais no Sindicato dos Metalúrgicos no domingo de manhã.

Adverti, entretanto, que nas reuniões do sindicato a gente tinha de dar a impressão de não se conhecer porque bastava um telefonema do Chico Risadinha, então presidente da entidade, para o sujeito ser demitido.

As reuniões mensais do sindicato eram hilárias. Havia, no máximo, umas 50 pessoas no auditório. Dessas, 24 eram diretores do sindicato. Os demais eram freqüentadores ocasionais.

Os diretores se limitavam a ler os balancetes do mês e aprovar, sem grandes questionamentos. Depois, ofereciam um lanche para os presentes – invariavelmente sanduíche de mortadela e ki-suco de cereja.

Discussão sobre os problemas dentro das fábricas, que era bom, não passava nem pelo corredor. Quando a gente começou a freqüentar o pardieiro, a pelegada ficou assustada.

Sentados de dois em dois, mas espalhados pelo recinto como se fôssemos estranhos uns aos outros, a gente começou a colocar fogo no circo.

O diretor financeiro, Alcides Mota, começava a ler o balancete do mês. De repente, o Chico Fera levantava uma questão de ordem:

– Companheiro, essa nota fiscal aí foi citada no balancete do mês passado...

Começava a discussão. Foi, não foi, iam buscar o balancete do mês passado. A nota fiscal estava lá.

Chico Risadinha fingia estar dando um esculacho no tesoureiro, prometia consertar o erro, encerrava a leitura do balancete e nos convidava pra lanchar. Um artista!

No mês seguinte era Jonacy que levantava a lebre:

– Essa nota fiscal aí foi citada no balancete de março e nós estamos aprovando o balancete de maio...

Começava a discussão. Foi, não foi, iam buscar o balancete do mês de março. A nota fiscal estava lá.

Chico Risadinha fingia estar dando um novo esculacho no tesoureiro, prometia consertar o erro, encerrava a leitura do balancete e nos convidava para lanchar. Um cara de pau!

Uns dois meses depois, foi a vez de o Jaques Castro chutar o pau da barraca:

– Companheiro, a gente gostaria de receber uma cópia desses balancetes para analisar com calma. Só o diretor financeiro citando números, fica difícil a gente se inteirar da situação e aprovar as contas...

Dessa vez, Chico Risadinha entrou em pânico. Ele começou a rir nervosamente, pálido como um defunto, encarando o autor da impertinente questão de encaminhamento. Quando se recompôs, consultou o tesoureiro, aí explicou a impossibilidade técnica de atender ao pedido, mas disse que os balancetes estavam à disposição de quem quisesse consultar, na sala da Tesouraria.

Ele encerrou a leitura dos balancetes e não nos convidou para lanchar. Intui instantaneamente que o Jaques havia ficado marcado.

Naquele mesmo ano, quando Gilberto Mestrinho veio enfrentar a ditadura pelo PTB, depois migrou pro PP e, finalmente, estacionou no PMDB, me apresentei como candidato a vereador, já que militava no partido desde 1978.

Resolvi me afastar temporariamente da oposição sindical Puxirum, deixando claro que não pretendia misturar questões sindicais com questões político-partidárias.

Na hora agá, meu candidato a deputado federal, Artur Neto, puxou o freio. Sua cota de indicação de candidatos a vereador já havia sido esgotada (ele havia indicado Nestor Nascimento e Francisco Marques).

A cota do PCB também já havia sido esgotada (João Thomé havia indicado seu ex-cunhado Celso Seixas).

Faltando três dias para a convenção do PMDB, Sici Pirangy me levou até a casa do empresário Carlos Alberto Di Carli, ali no conjunto Vieralves, e explicou a situação.

Candidato a deputado federal e coordenador da campanha do boto navegador, o Di Carli gostou de mim. Ele impôs meu nome na convenção e disse que ia me ajudar no que fosse possível.

Para mostrar que não estava blefando, me autorizou a produzir 5 mil cartazes, me cedeu uma kombi com motorista (o maluco-beleza Julinho Andrade, que acabou indo morar conosco no conjunto Dom Pedro) e me autorizou a escolher a quantidade de sprays que fosse necessária para pichar muros.


O jornalista Mário Adolfo cuidou da criação do cartaz, influenciado pela nossa paixão por gibis.

Fotografado de frente e de perfil pelo Carlos Dias, o cartaz era uma cópia daqueles cartazes de bandidos procurados no velho oeste.

Na parte de cima do cartaz, as letras garrafais de “Procura-se”. Embaixo da foto, a frase explicativa: “Um vereador de coragem”. Aí, na parte inferior, vinha o meu nome, meu número, o nome partido e o nome do resto dos candidatos (Gilberto, Fábio Lucena, Di Carli e Messias).

Aquele cartaz ganharia o primeiro lugar em qualquer exposição de criativos da propaganda.

Fui à luta com aquela disposição suicida de que 5 mil cartazes me elegeriam vereador (sempre fui otimista!). Simultaneamente, Mário Adolfo desenhou uma cartilha contando a minha vida e rodamos 5 mil exemplares, distribuídos no início com uma parcimônia mal-disfarçada e apenas para quem era de confiança.

O então vereador Messias Sampaio, candidato a deputado estadual em dobradinha com o Di Carli, conseguiu convencer o Marcílio Junqueira (um eterno gentleman!), a apostar no meu nome. A gráfica da CCE rodou as cartilhas sem me cobrar um centavo.

Mas havia um outro complicador. Como eu exercia um cargo de chefia dentro da Philco da Amazônia, não me sentia à vontade para pedir votos dos funcionários da fábrica. Achava que aquilo seria uma arrogância desmedida, uma espécie de assédio moral.

Hoje sei que foi uma bobagem, mas na época era assim que minha cabeça funcionava. Decidi que minha praia seria fazer campanha exclusivamente na saída (ou entrada) de outras fábricas.

A tática, descobri logo depois, não daria certo nunca. A Philco foi a primeira empresa do Distrito Industrial a criar horários heterodoxos. Ela inventou o tal de dois turnos.

A primeira turma de operários entrava 5h30 e saía 13h30. A segunda entrava às 14h e saía às 22h. Nas outras fábricas, o horário de entrada era às 7h e o de saída, às 17h.

Como meus poucos cabos eleitorais (meus subordinados no setor de Engenharia de Fábrica) tinham que cumprir o horário da empresa, na maioria das vezes apenas eu, Jonacy, Zé Raimundo e José Carlos Marinho íamos panfletar nas portas de fábricas. Era impossível distribuir mais de 100 cartilhas em cada fábrica.

Ainda assim, esgotamos o primeiro lote de 5 mil cartilhas em pouco mais de um mês. Aí fiquei com vergonha de pedir um novo lote do querido Marcílio Junqueira.

Os 5 mil cartazes, nós colamos no centro da cidade em uma única madrugada de sábado. Causou um estardalhaço miserável. Na manhã seguinte, eles já haviam sido encobertos por cartazes de candidatos mais abonados e filhos da puta.

Minha salvação estava no programa eleitoral, apesar da vigência da Lei Falcão.

A gente (eu, Chico Fera, Alberto Gordo, José Carlos Marinho, Jaques Castro, Carlos Lacerda e Zé Raimundo) estava em um boteco no centro da cidade, quando começou o horário eleitoral. Na hora em que anunciaram os candidatos a vereadores do PMDB, nos aproximamos da televisão.

De repente, apareceu minha foto, com nome e número, enquanto uma voz em off anunciava: “Simão Pessoa é amazonense de Manaus. Engenheiro eletrônico e acadêmico de Administração e Direito na Universidade do Amazonas. É correspondente em Manaus do Boletim Pensamento Ecológico e do jornal Iniciativa Planetária. É militante da Oposição Sindical Metalúrgica de Manaus.”

Nós vibramos como se o Pelé tivesse feito um gol em uma final de Copa do Mundo. Infelizmente, aqueles foram os meus únicos 15 segundos de fama.

Meu pequeno currículo nunca mais voltou a ser exibido no horário eleitoral. No estilo Rei Momo, foi uma aparição primeira e única.

De qualquer forma, os meus candidatos (Gilberto, Fábio Lucena, Di Carli e Messias Sampaio) foram eleitos. Eu tive quase 2 mil votos, mas fiquei na 17ª suplência. (o PMDB elegeu 12 vereadores em 17, sendo o “fona” com 3 mil votos).

Tivéssemos 10 mil cartilhas e 10 mil cartazes, imagino – mas sem nenhuma convicção! –, a história teria sido outra. Quando vejo, hoje, determinados candidatos gastarem R$ 500 mil para obter 2 mil votos pra vereador, chego a sentir vertigem.

Começamos a sonhar alto. E se parte daqueles operários que haviam votado em mim se juntassem à Oposição Sindical Metalúrgica Puxirum? Com certeza, a gente teria condições de enfrentar o Chico Risadinha, que presidia o Sindicato dos Metalúrgicos há 12 anos e tinha o apoio dos sindicatos pelegos, alguns, inclusive, ligados ao PCB.

Voltamos a freqüentar as portas de fábricas para conversar com os operários e convidá-los a participar das reuniões no porão da Cúria Metropolitana.

Meus cabos eleitorais se juntaram ao núcleo inicial da oposição sindical metalúrgica. Entre militantes e simpatizantes, a gente já passava de uma centena, 80% deles convidados por mim.

Em abril de 1983, o Jaques Castro e sua atual esposa, a assistente social Selma, foram demitido sem mais nem menos da CCE da Amazônia.

Os dois malucos criaram um Clube de Leitura na empresa e rechearam a biblioteca com obras marxistas. Foram entregues para a direção da empresa. Aquilo só podia ser coisa do Chico Risadinha.

Era hora de submergir e se fingir de mortos. Convenci a galera a parar de freqüentar as reuniões mensais do sindicato. A gente ia começar a se revezar, indo, no máximo, de três a quatro militantes de cada vez.

Apesar dos protestos do Ricardo Moraes, Jaques Castro continuou participando ativamente das reuniões do Puxirum. Nossas brigas começaram aí.

Ricardo, já demonstrando seu ranço autoritário, achava que pelo fato de ter sido demitido, Jaques não fazia mais parte da categoria.

Eu contra-argumentava com uma sinceridade de doer: quem tinha começado aquele movimento todo tinha sido o Jaques. Por que ele seria alijado da luta? Se a gente ganhasse o sindicato, o Jaques poderia ser aproveitado em um cargo administrativo, já que não estava em discussão seus princípios ideológicos e capacidade de luta.

O problema é que Jaques ficou tão ressentido com a presepada que, cerca de três meses depois, se afastou voluntariamente das reuniões. E o pior é que ele seria meu candidato natural a disputar a presidência do sindicato. Jaques tinha sido o pai da criança, volto a repetir.


O comandante Eron Bezerra, atual secretário estadual de Produção Rural, que há 30 anos comanda o PCdoB

Em maio de 1983, o governo baixa o Decreto-Lei 2.025, que previa a extinção de benefícios dos trabalhadores das empresas estatais.

Para conter os protestos que se desencadeavam, o governo e a “grande imprensa” iniciam uma campanha contra esses trabalhadores com a alegação de que eram “privilegiados”, que ganhavam acima da média e contavam com benefícios que a sociedade não podia bancar. Os funcionários públicos passaram a ser chamados de marajás (Collor não chegou sequer a ser original).

No dia 16 de junho, 35 entidades sindicais e associações de funcionários públicos aprovam o estado de greve, em protesto contra o decreto. Diversos setores da sociedade – estudantes, partidos de esquerda, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Associação Brasileira de Imprensa (ABI), entre outros – se solidarizaram com os trabalhadores, manifestando publicamente suas posições.

Várias bases de petroleiros aderem ao estado de greve em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pará e Minas Gerais.


O atual senador João Pedro (PT), ex-dirigente estadual do PCdoB, eu e Carlos Araújo, durante uma discussão sobre politica cultural no ginásio do Sesc

O governo recuou, mas no dia 29 de junho o presidente Figueiredo anuncia mais um decreto de arrocho, o nº 2.036, que retira praticamente todos os direitos do funcionalismo público, acabando com o abono de férias, as promoções, os auxílios alimentação e transporte, o salário adicional anual e a participação nos lucros.

Alguns dias depois, em 5 de julho, os petroleiros do turno da noite da Refinaria de Paulínia (Replan) entram em greve, desafiando a ditadura militar. Foram 153 trabalhadores demitidos – o correspondente a 10% do efetivo, além da intervenção no Sindicato e cassação de dirigentes.

Os petroleiros de Mataripe, na Bahia, também entraram em greve. O sindicato foi igualmente interditado e ocorreram mais 205 demissões.

Os metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema pararam em solidariedade aos petroleiros e o sindicato da categoria foi outro que sofreu intervenção, com o exército de prontidão no ABC Paulista.

No dia 14 de julho de 1983, um novo decreto – o famoso 2.045 – foi publicado pelo governo com o objetivo de arrochar ainda mais os salários. A medida atingia também os aluguéis e o Sistema Financeiro da Habitação (SFH).

A greve geral era iminente e uma intensa mobilização de membros do governo federal foi desencadeada para tentar evitar a paralisação com ações severas para reprimir o movimento. Mesmo sob ameaças, os dirigentes sindicais trabalhavam freneticamente para dar os últimos retoques nos preparativos da greve.

Milhares de panfletos foram distribuídos por sindicatos e pela Comissão Pró-CUT, orientando os trabalhadores. Um comando-geral da greve dirigia os preparativos por meio de uma central de informações instalada na Câmara Municipal de São Paulo.

Com toda essa mobilização, o dia 21 de julho de 1983 amanheceu com cerca de 3 milhões de trabalhadores parados em vários estados. As pressões e a feroz repressão desencadeada contra as direções dos sindicatos que lideraram a greve foram intensas. Só na Grande São Paulo, houve mais de 800 prisões.

Aqui em Manaus, só a ADUA e a APPAM enfrentaram as baionetas. O resto dos sindicatos, quase todos ligados aos “pelegos” da Unidade Sindical, se fingiram de mortos. Mas o saldo da greve geral foi considerado amplamente positivo.

No dia 22 de julho, uma sexta-feira, um dirigente da Anampos telefona pra minha casa.

Eles haviam emitido um bilhete aéreo em meu nome para eu representar a Oposição Sindical Metalúrgica Puxirum num encontro que seria realizado em Taboão da Serra, em São Paulo, naquele final de semana. Meu ponto de encontro seria no Centro Cultural Vergueiro.

Viajei na madrugada de sábado, com a cara e a coragem. Houve um atraso de quase três horas no aeroporto de Brasília. Quando finalmente cheguei ao Centro Cultural Vergueiro, por volta das 12h30, não havia mais ninguém me esperando.

Bateu o desespero. Além de eu não saber aonde era o encontro, também não estava com o bilhete de volta na mão. Naquela época, quem perdia o vôo perdia o bilhete. Como eles não tinham certeza se eu ia ou não, emitiram só o trecho Manaus-São Paulo. No império da pelegada, oposição sindical era sinônimo de pindaíba financeira.

Eu estava ali, matutando, e fumando um cigarro atrás do outro, quando surgiu um sujeito na mesma situação. A diferença é que ele era presidente de um sindicato de Santa Catarina. Conversamos alguns minutos.

Ele foi a um orelhão e disparou uma série de telefonemas. Dali a uma hora, apareceu uma kombi e nos levou para o local do encontro. O sujeito já entrou na plenária pagando geral. Que aquilo era uma falta de companheirismo, que era esse tipo de desorganização que fodia os trabalhadores e por aí afora.

A organização do encontro nos pediu desculpas e me colocou em um alojamento com outros três sujeitos: Paulo Paim, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas (RS), Olívio Dutra, da Oposição Sindical Bancária de Porto Alegre (RS) e Jacó Bittar, presidente do Sindicato dos Petroleiros de Campinas e Paulínia (SP). Passamos o resto da noite conversando.

Na manhã de domingo, a plenária continuou discutindo os resultados da greve geral e os preparativos para o 1º Congresso Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), que seria realizado em agosto, em São Bernardo do Campo (SP).


Paulo Paim e Avelino Ganzer colocando a boca no trombone

Por volta de meio-dia, Luis Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, interrompeu a reunião para fazer um anúncio:

– Eu tenho o prazer de anunciar a chegada do companheiro Avelino Ganzer, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santarém do Pará. Ele saiu ontem, de Belém do Pará, e veio de ônibus pela Belém-Brasília, em uma viagem heróica. O companheiro Avelino Ganzer e o companheiro Simão Pessoa, da Oposição Sindical Metalúrgica de Manaus, são os únicos representantes da região Norte aqui em nosso encontro. Eu gostaria de pedir uma salva de palmas a eles dois porque não foi fácil para esses companheiros chegarem até aqui e participar dessa nossa luta pela classe trabalhadora.

A plenária toda se levantou e bateu palmas. Eu me senti um autêntico popstar. Quando me chamaram para falar sobre a greve geral em Manaus, eu estava tão nervoso que parecia que o microfone estava dando choque, de tanto que ele tremia em minhas mãos.

Voltei pra Manaus na madrugada de segunda-feira, com vários contatos importantes e a garantia do próprio Lula de que apoiaria nossa eleição. A única contrapartida da Oposição Sindical Metalúrgica Puxirum seria enviar um representante para o 1º Conclat. Nem discuti.

A vitória da greve não conseguiu impedir que se agravasse a divisão do movimento sindical. O PCB e o PCdoB levantaram uma acirrada polêmica em torno do artigo 8.º do regimento do Conclat, que garantia que as oposições sindicais podiam eleger delegados onde os sindicatos pelegos se recusassem a participar do processo. Acreditava-se que este artigo poderia dar a vitória aos sindicalistas ligados a Anampos.

O Amazonas tinha direito a 11 delegados. Em Manaus, Chico Risadinha não quis chamar a assembléia do Sindicato dos Metalúrgicos para escolher o representante. A Oposição Sindical Metalúrgica Puxirum fez uma assembléia com mais de 100 pessoas na sede da União Portuguesa, onde fui escolhido.

O Sindicato dos Comerciários também não quis chamar uma assembléia. A Oposição Sindical Comerciária fez uma assembléia na frente do sindicato e Jaques Castro foi eleito. O resto dos delegados foram escolhidos por obscuros sindicatos rurais ligados ao PCdoB.

Como o primeiro dia do congresso – uma sexta-feira, dia 26 de agosto – seria dedicado exclusivamente ao credenciamento, a delegação amazonense resolveu viajar unida naquela mesma noite. O vôo estava marcado para as 21h.

Na época, quem saísse de Manaus poderia levar U$ 2 mil dólares de mercadorias importadas da Zona Franca, que revendidas no sul do país renderiam em torno de U$ 5 mil.

O PCdoB montou um esquema para seus 20 delegados (10 titulares e 10 suplentes) passarem sem serem importunados pela alfândega. Se tudo corresse bem, o comandante Eron Bezerra embolsaria algo em torno de 100 mil dólares.

Eu tinha um problema um pouco mais sério. O sindicalista Zé Rufino (aka “Magrão”), do Sindicato dos Eletricitários de Campo Grande (MT), que eu conhecera através do jornal Inimigo do Rei, necessitava de uma aparelhagem de som para o sindicato.

Pesquisei na cidade o que ele queria, escolhi os equipamentos de menor preço, ele depositou o dinheiro na minha conta e comprei um amplificador, um mixer doméstico pra dois microfones e duas caixas acústicas de 600W. A aparelhagem não custou U$ 1.800,00.

Entrei na fila junto com a turma do Eron, cada um deles levando um videocassete, uma filmadora, um aparelho três em um e uma televisão a cores. Todos os produtos absolutamente iguais, vendidos pelo mesmo lojista.

Eu era o último da fila. Um sujeito boa pinta, parecido o falecido ator Patrick Swayze, conferia a declaração de bagagens dos comunistas, carimbava e mandava embora.

Quando chegou a minha vez, ele pediu para eu abrir as caixas dos produtos. Levei uns dez minutos para arrancar os grampos das caixas de papelão. Ele conferiu o modelo dos aparelhos, confrontou os dados com um manual da alfândega que devia ter umas 5 mil páginas e resolveu criar caso com o simplório mixer.

Com uma arrogância mal disfarçada, o sujeito disparou:

– Aqui no nosso manual, um mixer custa U$ 1.500,00, mas essa sua nota fiscal diz que ele custou U$ 300,00. O lojista deve ter subfaturado o preço...

Pedi pra ver a referência do modelo descrita no manual. Era um mixer profissional, com doze entradas, do tipo que eu usava na boate Privé. Tentei explicar pro cidadão a diferença entre um e outro.

– Como é que você sabe desses detalhes todos? – reagiu ele, com desprezo.

– Porque eu já fui DJ profissional durante muito tempo e sou engenheiro eletrônico há seis anos! – devolvi.

Sem mais nem menos, o cara ficou puto nas calças.

– Você é metido a esperto demais pro meu gosto, meu amigo! – disparou, me encarando com ódio. “O aparelho vai ficar retido junto com a nota fiscal. Eu só vou liberar o amplificador e as caixas de som.”

O pior é que aquela voz vagabunda do Infraero já estava chamando o meu vôo pela última vez. Ou eu ficava discutindo com o cara ou eu perdia o vôo. Preferi ir embora. Quando voltasse a Manaus, eu resolveria aquela merda.

Fui o último sujeito a entrar no avião. Os passageiros todos me olhando com cara de desprezo. Também fui o último a sair do aeroporto porque as gigantescas caixas acústicas foram deixadas para serem despachadas no final do desembarque.

Enquanto eu esperava pelas tranqueiras conversando com o Jaques, chegaram uns trotskistas, conversaram um pouco e ele foi embora.

A turma do Eron entregou disciplinadamente todos os aparelhos para um sujeito, que colocou tudo numa kombi e foi embora. Dali a pouco, chegou um ônibus e os stalinistas também foram embora. Socialismo de resultados é assim.

Meia hora depois de todo mundo ter ido embora, eu ainda estava na frente do aeroporto, encostado nas duas caixas acústicas gigantescas, fumando um cigarro atrás do outro e esperando o filho da puta do Magrão.


Estava um frio de cortar a alma. De repente, se aproximou uma sósia da Luma de Oliveira na flor de seus vinte anos:

– Me desculpe, mas o senhor é o sindicalista Simão Pessoa, da Oposição Sindical Metalúrgica de Manaus?

– Sou sim. Algum problema?... – devolvi, meio irritado, já desconfiando que ia ser vítima de algum novo golpe da paulistada.

Ela abriu um sorriso que iluminou a madrugada.

– Ôi! Eu sou a Ana Alice, diretora financeira do Sindicato dos Eletricitários de Campo Grande. É que o Magrão não pôde vir para o congresso e me pediu para vir pegar a encomenda. Você me ajuda a despachar?...

Expliquei o que havia acontecido com o mixer, ela fez um jeito de “deixa pra lá”. Chamei um carregador e fomos a um balcão da Varig. Foi um cu de boi o sujeito aceitar despachar os equipamentos sem a nota fiscal.

– Meu amigo, esse documento aqui foi emitido pela receita federal de Manaus liberando a mercadoria. Ele tem mais valor do que uma nota fiscal... – eu argumentava.

O sujeito olhava para a declaração de bagagem, mas continuava irredutível.

Aquilo não podia estar acontecendo de novo.

A esfuziante Ana Alice, com seu sorriso espetacular e um pouco de grana usada como propina, derrubou a resistência do diligente funcionário. As caixas de som e o amplificador foram despachados em um cargueiro da Varig.

Devia ser umas 2h da madrugada.

– Eu estou de carro. Você tem reserva em algum hotel? Eu posso te deixar lá... – avisou Ana Alice.

Expliquei que a delegação amazonense já tinha ido embora, que eu ia ficar bebendo em algum boteco até o dia amanhecer e que depois iria até a Estação da Luz e compraria uma passagem até São Bernardo. Lá eu descobriria onde os vagabundos estavam hospedados.

– Eu estou hospedada na casa de umas amigas! – devolveu Ana Alice. “Se você não se importar com a bagunça de uma casa só de mulheres, você pode passar a noite lá e amanhã viajar pra São Bernardo...”

Resolvi encarar mais essa provação dolorosa.

Entramos em uma casa de estilo colonial lá pras bandas da Vila Madalena. Era uma residência bonita, imensa, toda arrumadinha, no estilo “casa da Barbie”. Coloquei minha mochila em cima de um estofado, já pensando em estirar as pernas nele.

Sem falar nada, Ana Alice apanhou a mochila, abriu um quarto, colocou a mochila em um armário embutido, ligou o ar condicionado e avisou:

– Se quiser tomar um banho quente, o banheiro é ali. Eu vou pegar uma toalha limpa!

Ela disse isso e saiu do quarto.

Entrei no banheiro, me deitei dentro da imensa jacuzzi e liguei a água. Regulei a temperatura para 20ºC e fiquei ali, feito uma capivara jiboiando. Uns dez minutos depois, a Ana Alice berrou:

– A toalha está na maçaneta da porta! Eu vou dormir...

Porra, aquilo era muita mordomia! Eu tinha um quarto só pra mim. Comecei a estudar a possibilidade de dormir dentro da jacuzzi. Depois de uns vinte minutos, saí do banheiro.


Quando abri a porta, levei um susto. Nua em pelo, a Ana Alice estava dormindo de bruços na imensa cama de casal.

Pé ante pé, para não acordá-la, sai em direção à porta. Quando meti a mão na maçaneta, a porta estava trancada. Ainda meio sonolenta, ela deu um toque:

– Ô, metalúrgico de Manaus! Ou você vem aqui me abraçar e me aquecer que nem um edredom, ou desliga esse ar condicionado que está fazendo um frio desgraçado...

Acho que a gente só parou de fazer amor por volta do meio-dia, quando as outras meninas começaram a bater na porta para saber se a Ana Alice havia morrido.

Era uma república de universitárias, quase todas simpáticas ao anarquismo. Quando souberam que eu tinha contato com o editores de O Inimigo do Rei, virei celebridade instantânea.

É evidente que eu não tinha mais nenhuma motivação política para participar do Conclat. Fiquei em companhia de Ana Alice, Rosana, Isabel, Maria Cristina, Fátima, Lucinha, Silvana e Elisandra, todas lindas de doer, até domingo à noite, quando embarquei de volta para Manaus.

Naquelas 36 horas, devo ter sido o cara mais invejado de Vila Madalena.


As oito malucas fizeram questão de me deixar no aeroporto. Na despedida, Ana Alice me sussurrou no ouvido, para não virar alvo de gozações:

– Eu estou no meu período fértil e tenho certeza de que nós produzimos um novo socialista libertário. Quando ele nascer, vou te avisar. Ou não...

Não liguei muito, achando que era só tiração de onda.

Já em Manaus, soube que a Central Única dos Trabalhadores (CUT) tinha sido criada no domingo. A presidência ficou com Jair Meneguelli, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema.

Como representantes do Amazonas foram escolhidos Adonay Sabbá (APPAM) e Francisco Nogueira (Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Careiro).

Na suplência, Jaques Castro (Sindicato dos Comerciários) e Jurandir Lima (Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Coari).

Na terça-feira, eu fui a Receita Federal acompanhado do dono da loja que havia me vendido o simplório misturador.

Os auditores fiscais nem discutiram. Pediram desculpas pelo mal entendido, me devolveram o produto e me entregaram uma autorização para despachar o aparelho de avião. Fiz a operação no mesmo dia.


À noite, liguei pro Magrão. Ele já havia recebido a encomenda, a aparelhagem de som estava fazendo o maior sucesso no sindicato e passou o telefone para “uma anarquista que estava morrendo de saudades de mim”.

A Ana Alice, rindo sem parar, disse que o teste havia dado positivo. Conversamos quase meia hora. Foi a última vez que falei com ela. Será que tenho um filho em Campo Grande? Não creio.

Uma semana depois, no Bar do Armando, contei a presepada do fiscal da Receita Federal para Antonio Paulo Graça e Rogelio Casado. Eles foram unânimes em afirmar que aquilo tinha sido uma armação do PCdoB para eu não participar do Conclat.

Eu continuava cabreiro. Caraco, eu era o único que estava verdadeiramente ajudando a causa operária – os outros delegados, com exceção do Jaques, estavam tirando proveito de uma relação mercantilista – e aquele viadinho havia cismado logo comigo!


Eu e Rogelio Casado no Bar do Armando. Em primeiro plano, o inesquecível escritor Antonio Paulo graça

Quase um ano depois, eu estou entrando no Bar do Armando para me encontrar com o Mário Adolfo quando vejo o Patrick Swayze conversando animadamente em uma mesa com o Rogelio Casado. Entrei chutando na linha de cintura:

– Porra, Rogê, vê se melhora as tuas amizades. Foi esse filho da puta aí que tentou embaçar a minha ida pro Conclat...

O Patrick Swayze ficou vermelho feito um pimentão.

– Calma, poeta. Esse aqui é o companheiro Paulo Evandro, simpatizante do nosso glorioso PT! – devolveu Rogelio.

– Então entre os simpatizantes do glorioso PT só tem filho da puta. Foi esse viadinho aí que criou caso comigo e prendeu aquele mixer doméstico dos eletricitários de Campo Grande. Pra mim, esse vagabundo aí não passa de um zé buceta da pior espécie... – continuei.

O Patrick Swayze continuava vermelho feito um pimentão, sem abrir a boca.

Fui beber com o Mário Adolfo dentro do bar.

Meia hora depois, o Patrick Swayze veio me pedir desculpas. Explicou que quando me viu chegar todo bem vestido e se juntar aos comunistas do PCdoB, imaginou que eu era um “meganha” infiltrado no movimento operário.

E ficou totalmente convencido de que estava certo quando eu disse que era DJ e engenheiro eletrônico, ou seja, um pequeno burguês.

Para preservar os sindicalistas, resolveu me segurar no aeroporto na maior cara dura.

Reconhecia o preconceito, mas não podia fazer nada além de me pedir desculpas.

E era esse tipo de gente que queria transformar o Brasil em um país socialista...

Um comentário:

Anônimo disse...

J'ai appris des choses interessantes grace a vous, et vous m'avez aide a resoudre un probleme, merci.

- Daniel