Álvaro Muller
“O que faz o homem se sentir corno sem ser?”, disparou a
aluna, atendendo ao meu clamor por uma pauta para o Boteco. Estupefato, eu, que
jamais passei por essa situação de me sentir corneado – e fique aqui você,
leitor, atormentado pela incerteza se falo ou não a verdade, até porque um
homem com H jamais admite sequer a iminência de um par de chifres pesando-lhe a
cabeça – resolvi atender ao pedido dela, mesmo por preocupação... E os homens
se sentem cornos sem ser? Eu, particularmente, não. Até porque, como diz a lei
do mundo da Cornualha, só é corno que sabe que é. Portanto, como nunca soube,
fico de fora das estatísticas dos cornudos, pelo menos por enquanto.
Mas, se apesar de ainda não acompanhar esta revolução no
psíquico masculino, acredito no protesto das mulheres – acaba de me chegar uma
outra estudante aqui dizendo “Eita! Essa pauta é boa mermo! Esses fio da peste
sempre acham que tomaram gaia!” –, acabo por começar a escrever,
imaginativamente, é claro, quais motivos levam um sujeito a se sentir gaiudo.
Bom. Por conta da minha inexperiência no assunto, vou sair
pela tangente e jogar a culpa, a princípio, na dor de cabeça das mulheres.
Afinal, toda vez em que elas alegam dor de cabeça – principalmente naquelas
horas em que estamos mais carentes por afeto –, acabamos fadados ao desprezo. E
não há Anador ou Aspirina que resolva... Por que as danadas não sentem as
inquietantes pressões na caixa craniana quando estão no shopping center ou no
salão de beleza, onde, curiosamente, suportam intermináveis esticões no couro
cabeludo? Estranho....
A dor de cabeça é um ponto a ser considerado e, portanto,
meu amigo, se a sua mulher tem estado constantemente acometida por este mal,
cuidado. Amanhã, a cabeça a doer poderá ser a sua. Como precaução, comece a
injetar comprimidos de um analgésico qualquer, obviamente esfarelados e
dissolvidos em copos d’água, no suco de laranja, na sopa, na vitamina, na
panela do feijão.... Se o medicamento for em gotas, melhor. Menos trabalho.
Mas, ainda assim, cuidado para não exagerar na dose e deixar que a vítima
desvende a trama pelo gosto estranho na boca.
Mas não só as intermináveis dores de cabeça são sinais da
traição feminina. Outro indício sério é quando a mulher, como num passe de
mágica, passa a não mais se incomodar e, pior, até a deixar o namorado, noivo
ou marido assistir ao futebol com os amigos. Das duas, uma: ou ela enlouqueceu,
ou está enfiando um belo par de chifres no pobre coitado! Mulher que é mulher
jamais concede ao seu parceiro o direito de assistir à pelada com os
companheiros de cerveja. Aliás, a mulherada parece já nascer programada para o
veto e, ainda que tenha algo pra fazer – como ir ao shopping, por exemplo –,
insiste em arrastar o homem com ela. “Amar não é ir somente aos lugares de que
gosta, e sim fazer companhia à pessoa amada”, argumenta, num discurso altamente
fajuto, genuíno atentado à democracia e ao direito de ir e vir... Afinal, que
mulher se predispõe a ir ao estádio de futebol com o homem que ama? Existe,
sim. Da mesma forma que existem os ganhadores da mega-sena.
Mas eu acredito que o grande termômetro para o homem
chifrudo é, sem dúvida, se a sua mulher desistir de discutir o relacionamento.
Não. Aí já é demais. Dores de cabeça propositais, abstinência sexual, crises de
TPM, tudo é passível de variação. Mas mulher que não discute o relacionamento,
não existe. O debate conjugal é, para ela, uma terapia. O segundo maior
passatempo depois do shopping, é claro. E não adianta ao macho andar na linha
durante meses, ou mesmo anos. No primeiro deslize, por mais bobo que seja, lá
vem ela, de forma imperativa. “Precisamos conversar!”. Algumas, mais
dissimuladas, forjam uma postura sujestiva. "Você não acha que precisamos
conversar?". Independentemente do tom das palavras, não tem “caba homi”
capaz de fugir à CPI que, invariavelmente – não sei como elas ainda não se
aperceberam disso –, acaba em pizza, sem solução, assim como a maioria das CPIs
de Brasília. Na melhor das hipóteses, cada um vira para o seu lado da cama e
vai dormir tachando o outro de “cabeça dura”, abraçando suas rijas convicções.
Bom, acho que é isso. Tentando responder ao reclame das
minhas alunas – e, quem sabe, da mulherada em geral –, acredito que as
situações apresentadas neste artigo seriam, prioritariamente, os maiores
indícios de que uma mulher estaria me corneando. Acho até que, quando me sentir
vítima de todos esses distúrbios de uma só vez, em uma só mulher, terei certeza
da minha desgraça. Serei corno, e pronto.
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