Acusar corporações de
querer dominar o mundo? Desmascarar agentes infiltrados? Ao longo do tempo,
algumas pessoas foram tachadas como paranoicas e radicais, mas elas não estavam
tão loucas assim
Rafael Godoy de Almeida Pires
Como diria o autor Joseph Heller: “Só porque você é
paranoico, não significa que eles não estão atrás de você!”. Essas palavras
foram imortalizadas nas cabeças daqueles que, ao longo dos tempos da História
recente, foram vistos e julgados como pessoas radicais, malucos e paranoicos de
plantão, querendo apenas dar as caras na mídia com informações polêmicas e
furadas.
Em alguns ambientes (como espionagem e política), induzir à
paranoia é algo extremamente comum — qualquer teoria que seja fora do padrão é
automaticamente vista como farsa pelos veículos tradicionais de comunicação.
Contudo, no final das contas nem sempre essas suspeitas eram mentirosas ou
meras ilusões da mente de alguns malucos. É hora de você conhecer alguns desses
caras:
1. James Jesus
Angleton
Durante muitos anos, o chefe de contra-espionagem da CIA
tinha uma missão praticamente impossível a cumprir: capturar todos os espiões
soviéticos e seus aliados em terreno americano. Depois de certo tempo, ele
acabou suspeitando de algo absurdo: existiam muitos agentes da CIA falsos, que
na verdade eram membros de grupos soviéticos.
É claro que muita gente criticou James e até o acusaram de
sofrer de paranoia aguda — devido à intensidade de seu trabalho. Porém, ao
longo do tempo descobriu-se que essa suspeita não tinha nada de “maluquice”:
realmente existiam agentes duplos na CIA, que repassavam segredos importantes
aos soviéticos e israelenses — Aldrich Ames, Robert Hanssen, Jonathan Pollard,
e Christopher Boyce são alguns deles.
2. Richard Stallman
Esse guru descabelado do software livre ficou conhecido ao
levantar a bandeira das “Quatro Liberdades”, em que ele defendia o uso de
sistemas operacionais livres (sem firmware blobs, como acontece no Linux e
Android) para combater a espionagem de governos e corporações diabólicas, que
querem dominar o mundo ou que usam programas específicos e códigos para
monitorar os canais de comunicação privados.
Todo mundo achou que ele estava pirando completamente, e que
essa teoria não tinha nada de verídico. Contudo, você deve saber muito bem dos
recentes escândalos do Sr. Obama em relação à espionagem e controle de
informações, não é verdade? Após o Wikileaks e Snowden revelarem como os
serviços de inteligência monitoram regularmente e uso do telefone — até a
Verizon foi forçada a entregar dados de milhões de telefonemas —, as suspeitas
de Richard foram dadas como certas e ninguém mais o chamou de paranoico.
3. Joseph McCarthy
O jovem e famoso senador de Wisconsin foi julgado como
maluco e muito radical ao acusar centenas de pessoas do departamento de estado
e do exército americano de serem cripto-comunistas nos anos 50. E ele não
estava errado: realmente existia uma conspiração soviética no meio.
Depois dos EUA interceptarem alguns documentos da KGB —
chamados de VENOMA — a verdade veio à tona, revelando que existiam agentes
infiltrados no governo. Tudo bem que não eram centenas de pessoas, mas McCarthy
tinha razão em desconfiar dos capangas europeus.
4. Ahmed Suedani
O coronel Suedani — chefe do serviço de inteligência militar
na Síria — era a pessoa mais desconfiada do mundo nos anos 60: ele não
acreditava em ninguém que estava do lado dele. A sua principal desconfiança
girava em torno de Kamel Amin Tabet, que era amigo pessoal e confidente do
presidente Amin El-Hafez.
Ahmed dizia que todo o charme, educação e pró-atividade de
Kamel era uma verdadeira farsa, e que ele era inimigo da Síria. Pois é, ninguém
acreditou na paranoia dele, e acabaram caindo do cavalo: com a ajuda de
equipamentos de investigação e operadores de rádio, a máscara de Amin Tabet
caiu, revelando que seu nome verdadeiro era Eli Cohen e que ele nasceu no
Egito.
Como se não bastasse, ele também estava atuando como um dos
líderes israelenses. Depois da descoberta, Kamel foi executado — sem dó — e
Suedani se tornou chefe de Estado Maior.
5. Sir John Cockroft
Prêmio Nobel da Física em 1951, esse gentleman inglês
manifestava diversas preocupações acerca do Centro de Pesquisa de Energia
Atômica (em Windscale), em que ele jurava encontrar sérios problemas nos
reatores nucleares — mesmo eles sendo vistos como extremamente seguros por
grande parte da mídia na época —, e acabou por desenvolver alguns tubos e
ventilações que iriam evitar sérios riscos.
Pois é, John estava certo: o urânio usado acabou pegando
fogo em um dos dutos de Windscale, fazendo com que milhares de partículas
radioativas fossem soltas no ar da cidade. Se não fosse por todo o conhecimento
de John ao desenvolver os tubos, essa tragédia iria se igualar a Chernobyl,
matando muita gente.
6. Wild Bill Hickok
Ícone do Velho Oeste americano, Bill era o dono dos saloons
— exterminou uma galera em Kansas, E.U.A. Temendo em ser muito visado por seus
inimigos e com receio de se dar mal a qualquer momento, ele recusava se sentar
de costas para a porta — seja ela qual for.
Conforme os anos passaram e ninguém o ameaçava, ele ficou
mais tranquilo e relaxou um pouco. Até que um belo dia, durante um jogo de
pôquer em Deadwood (Dakota do Sul), ele acabou se sentando de costas para a
porta em um saloon, e isso foi o seu fim: foi baleado por Jack McCall — até
hoje ninguém descobriu o motivo de ele ter matado o grande Bill. Bang!
7. Mao Zedong
Líder chinês de 1949 até 1976, durante os tempos de Guerra
Civil. Homem poderoso, influente e membro do Bando dos Quatro (grupo de
políticos comunistas com origem em Xangai), a intenção de Mao era transformar o
território chinês em uma verdadeira sociedade comunista, e ele lutou muito por
isso.
Desconfiado de todas as pessoas que estavam por perto, ele
acabou brigando muitas vezes com gente inocente — que nada tinha a ver com a
desconfiança dele. Entre aqueles que não tinham a sua confiança, o principal
acusado era Deng Xiaoping, considerado ser de direita e conspirar contra o
avanço do comunismo na China.
Depois de certo tempo, Mao realmente estava paranoico com
isso, mas não era à toa: depois de sua morte, Deng virou um dos principais
líderes da China e alavancou um projeto de reforma no país, fazendo com que
todas as leis e costumes da região fossem de encontro ao capitalismo. O Bando
dos Quatro foi exterminado completamente, incluindo a própria esposa de Mao.
8. Saddam Hussein
Um dos ditadores mais conhecidos no planeta também não
escapou da paranoia: assustado e com medo de sofrer um atentado a qualquer
momento, Saddam desconfiava do mundo inteiro (até das formigas), fazendo com
que a maioria de suas aparições em público fosse feita por algum sósia — ele
tinha alguns.
Deixando de lado o fato de ele ter participado e ajudado os
Estados Unidos nos anos 80, a sua mania de perseguição não estava errada:
depois de bombardear e caçar o ditador em diversos locais, os americanos
acabaram por calar de uma vez por todas um dos homens mais temidos da História.
9. Martha Mitchell
Mulher de John N. Mitchell (procurador-geral dos Estados
Unidos), ela tinha sérios problemas com alcoolismo, o que resultou no divórcio
do casal. Depois de separada, ela começou a dizer alguns absurdos na imprensa,
acusando que o Governo Americano estava envolvido em atividades ilegais e
mascarava tudo isso — era sigilo, segredo de estado.
Certa vez, Martha até foi sedada e trancada em um quarto de
hotel para não dar as caras na mídia e botar mais lenha na fogueira dos boatos
anteriormente mencionados. Todos os médicos disseram que ela estava delirando,
ficando completamente paranoica — pra variar.
E, como você já deve suspeitar (pelo que percebeu ao longo
da matéria), ela também não estava maluca: na época, o presidente americano era
o ilustre Richard Nixon, e, como depois veio se tornar público, ele estava
envolvido em diversas tramas diabólicas.
Com isso, houve uma invasão geral aos escritórios do Partido
Democrata americano em Washington — conhecido como escândalo de Watergate.
Depois de dois anos de investigações, Nixon renunciou.
10. Rick Rescorla
Famoso soldado americano durante os tempos de guerras na
Rodésia do Norte (atual Zâmbia) e no Vietnã, esse cara fez fama ao aparecer na
capa de um livro sobre jovens que vão à guerra — lançado nos Estados Unidos.
Depois disso, se tornou um segurança importante no extinto World Trade Center,
trabalhando para Dean Witter Reynolds.
Porém, se as pessoas tivessem ouvido ele, as Torres Gêmeas
ainda estariam em pé. Enquanto Rick e seu amigo — Daniel Colina — trabalhavam
lá, eles chegaram a seguinte conclusão: o WTC era inseguro e poderia ser
facilmente bombardeado por um caminhão cheio de explosivos, se este chegasse ao
estacionamento dos prédios. Pois é, isso aconteceu de verdade em 1993, culpa
dos terroristas islâmicos.
Como se não bastasse, Rick também avisou que as Torres
Gêmeas eram vulneráveis a ataques aéreos, sugerindo que todos os escritórios se
mudassem para outro lugar, em Nova Jersey. Não é preciso dizer que ele estava
certo, de novo, pois você deve se lembrar do que aconteceu em 11 de setembro de
2001 — um dos episódios mais tristes para o povo americano.
Foi justamente nessa data que as pessoas viram Rick pela
última vez. Atualmente, existem algumas homenagens oficiais para o eterno
soldado americano.
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