Nos anos 80, no Recife, inaugurei um serviço especial de
“poemas de amor sob encomenda”, que eu apelidei de “Miss Corações Solitários”,
como no livro de Nathanael West, que acabara de ler. Marketing da necessidade
de um escriba só o couro e o osso, que olhava a sua própria sombra magra e
tinha medo. A estratégia foi um sucesso. Depois de um anúncio no “Diário de
Pernambuco”, eu não dava mais conta dos pedidos e passei a terceirizar sonetos
e acrósticos, tarefa fácil na terra de Manuel Bandeira e João Cabral.
Ajudei a começar
romances, reatar namoros, dar esperanças, iludir “boyzinhas”, parabenizar
amadas, encorajar amantes, suspirar viúvos, incendiar mancebos e reacender o
fogo de lindas afilhadas de Balzac. A felicidade não se compra, como já nos
avisou o cinema, mas que amealhei algumas patacas, amealhei. Recife virou uma
festa, melhor do que a Paris de Hemingway.
O motivo dessa crônica, no entanto, não é o de ficar apenas
mascando o chiclete da nostalgia. Nada disso. O motivo é de arrepiar. E se
chama Marina Cavalcante. Pernambucana de Olinda, hoje habitante do bairro de
São Matheus, na zona leste de São Paulo, tinha 20 anos quando me encomendou um
poema para o namorado.
Agora com 39, viu este mal-assombro que vos escreve no
programa de TV do Lobão – o “Saca-Rolha”, que passa no canal 21 de SP – e, via
email, me contou a sua história. “Ele, Roberto, achava que eu o traia, por isso
pedi o poema sobre a minha fidelidade, pra fazer ele chorar, lembra?” ela
pergunta. Claro que não recordo. Eram tantos casos. O poeta Jaci Bezerra, velho
amigo e testemunha ocular da história, que o diga.
E aí, conta logo, Marina: “Ele, Roberto, acreditou em mim,
vivemos um lindo amor por cinco anos, o amor da minha vida, por isso a minha
felicidade de achar o sr. na televisão, pra agradecer, tanto tempo depois”.
Homem que é homem chora bonito, chora mais alto. Não me
contive com o episódio. Marina casou com outro aqui em São Paulo, hoje está
separada, e diz que não esquece o motivo daquele velho poema. Bela história.
Deu até vontade de retomar as encomendas, as costuras para fora. Bom saber que
a poesia comove até um macho à moda antiga, do tipo que ainda manda flores,
caso do amor de Marina. (XS)
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