Xico Sá
Miss Corações Solitários é uma velha cigana da Andaluzia – de lá
veio rapariga em botão – e sentou praça na tenda do Lameiro, ali na subida do
Crato (CE) para a chapada do Araripe. No momento, interrompe o justo gozo de
férias, na Serra do Rola-Moça, Minas, para atender as almas aflitas que buscam
o refrigério para os seus caritós.
Carta 01: Extremosa Senhora, mudei-me para o Sul Maravilha,
desde então o banzo me acomete e entrei numa roda-viva de aproveitamento mútuo,
‘leitadas’ casuais que não preenchem meu vazio interior. O modus-vivendi daqui
é deveras diferente do meu Recife, até paquerar tem sido um aprendizado.
Gostaria de saber vossa abalizada opinião sobre meu momento atual e que
caminhos devo seguir.
Queria muito um namorado pra dormir de pé enroscado, fazendo
cafuné e até ganhar ursinho de pelúcia todo dia 12 de junho, mas tenho pena de
maltratar Santo Antonio buscando, desde já, esses fins escusos.
Procuro uma alma gêmea na colônia de pernambucanos do Rio?
Insisto com os cariocas, que parecem ter o item ‘galinhagem’ de série, de
fábrica? Me conformo em ser fubanga? Agradeço desde já a vossa colaboração. Assinado:
Macabéa versão século XXI.
P.S. – “Fubango’’ é um neologismo que aprendi aqui. Os
adeptos da fubangagem têm até comunidade no Instagram. Os dicionários também
contemplam o termo: Fubanga -1. Homem ou mulher que tem relações eventuais, sem
compromissos, porém dentro dos mais rigorosos preceitos éticos com relação a
seu par momentâneo.
Resposta da Miss: Boa alma macabéica, interrompo meu sossego
e vos digo: a fugacidade afetivo-corpórea do carioca é realmente uma desgraça.
Os mancebos do balneário fazem questão de manter esse pendor avícola, só
curável com um bom par de chifres, diga-se. Afinal de contas só uma gaia bem
posta humaniza esse tipo de bípede, seja ele de quaisquer plagas, paulista,
pernambucano, mineiro, cearense... Nada contra a prática da fubangagem, segura
na mão de Deus e vai. Cariño, M.C. Solitários.
Carta 02: O que a sábia e almodovariana senhora diria para
uma mulher que acabou de se amancebar e quer manter o enlace a todo custo,
mesmo casada com um traste, nesse mundão perdido, volúvel e sem porteira?
Beijos, Valzinha, Belo Horizonte.
Resposta: Estimada consulente, aproveite o enlace para
cometer a mais linda e nobre das pornografias: o sexo com intimidade. O mais é
assombro e preconceito de frase feita ou filosofia de pára-choque. Evite as
discussões de relação e os patins nos finais de semana; fuja da pizza
delivery mesmo nos dilúvios e
tempestades – a mussarela em domicílio provoca o fastio da alcova. Evitem idem
a pijamização dos pombinhos. O pijama, tenho dito, burocratiza o desejo, o
pijama, meu coração, é o paletó de madeira do amor. Sem mais, despeço-me,
atenciosamente, sua M.C. Solitários.
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