Xico Sá
Está ai um momento lindamente difícil, primeiro plano,
fechado, só você e a câmera do homem que filma tudo lá de cima, agora em 3D,
para que todos acreditem e não vejam como truque ou chantagem, o justo instante
em que diz, absoluto(a): adeus, acabou chorare, chega de palhaçada!
Dificílima decisão quando você ama o(a) sujeito(a) como nos
versos mais lindos dos Beatles que ouviram do Ipiranga, da Serra do Rola Moça,
do Mucuripe, da beira do Capibaribe ou
do Crato.
Mas que linda iluminação, meu santo Jack Kereouac, o beijo
no vento, o sorriso, o fim da maldição de todas as músicas que parecem
biográficas, sejam de Leonard Cohen, do Chico ou do Waldick Soriano.
Já reparou, amigo(a) que, quando doentes de amor, toda e
qualquer canção é a história cagada e cuspida das nossas vidas?! Entramos no
carro ou em um táxi de madrugada, velho e bom Serginho Barbosa, e lá está a
trilha sonora da existência.
Agora você simplesmente ergue as mãos para os céus e diz:
estou livre!
Penei, sofri, vivi o luto amoroso, mas essa(e) peste não me
merece. Você foi grande, não esnobou com o(a) primeiro(a) que apareceu pela
frente, respeitou, viveu noites de insônia e solenes carências.
Você tomou fortes remédios, enfim, você foi intenso(a) e
segurou a onda em todas as medidas e trenas do possível.
Óbvio que às vezes você se engana, todos nós caímos nessa,
achamos que estamos libertos e temos recaídas, acontece, basta estar vivo,
dane-se, o amor é uma droga pesada, muito bem disseram, passa a régua.
Agora não, você se sente livre mesmo, até recita um verso de
outro grande poeta, o Walt Whitman, aquele que diz mais ou menos assim, não
recordo de memória: “De hoje em diante não digo mais boa sorte / boa sorte sou
eu!”
Pronto. É isso ai, vamos embora e etc.
Você se sente livre mesmo(a), se arruma bem linda, bota flor
no cabelo, você, macho velho, luta boxe sozinho no banheiro, ouve uma do
Rolling Stones ou do Bartô Galeno, você está preparado(a) para uma nova vida,
caiu a pena como um passarinho, caiu o pêlo como um(a) gato(a), mudou de sina e
com todo respeito ao clichê mais vagabundo, a fila anda.
Vixe, nossa!, você fez todas as rezas, orou para Jesus, foi
no terreiro e no centro espírita, baixou os tarôs e tomou todas as carma-colas,
pediu para a menina anônima que viu a virgem na mata e rendeu-se ao
neo-orientalismo, você fez de tudo um pouco, santa, de tudo um pouco como o
nome daquele bom prato do restaurante Buraco de Otília, Recife, rua da Aurora
–a rua da luz mais bonita do mundo, segundo Gilberto Freyre e todos os bons
fotógrafos do planeta.
É, amigo(a), se o pé-na-bunda é em preto e branco como
naqueles bons, mudos e tristes filmes do expressionismo alemão, a salvação é em
3D, mais que Avatar e léguas submarinas, é uma montanha russa, um carrossel de
parque de diversão, uma roda gigante ou uma simples caminhada pelas ruas com um
sorriso enigmático e um bom ventinho na cara. Adeus muchacho(a)!
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