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Gigio e sua criadora Maria Perego
Por Ruy Castro
Tenho uma tese de difícil defesa e baixa possibilidade de
aceitação, e que só revelo aos mais chegados quando eles prometem não rir: a de
que os místicos anos 60, que apaixonam todo mundo – tanto os que os viveram
como os que só os conheceram de livro, disco ou filme –, não existiam.
Com isso quero dizer que, até 1965, ainda não tínhamos saído
completamente dos anos 50. E, a partir de 1966, já estávamos nos anos 70 e não
sabíamos. Donde os anos 60 não existiam. Tudo bem, é um enunciado ousado,
talvez antipático. Mas, somente para argumentar, eis alguns dos motivos que me
levaram a tal conclusão.
Até 1965, os homens ainda usavam ternos e gravata. Cuidavam
para não desfazer o vinco da calça e aplicavam Glostora ao topete. Os rapazes
dobravam as manguinhas da camisa esporte ao estilo James Dean. As mulheres
usavam anáguas, armavam o cabelo com Bombril e só saíam à rua de frasqueira.
Ia-se a Paris. Ainda não havia a pílula, donde os casais tinham de,
literalmente, se virar para fazer amor sem risco de gravidez. Fumava-se
Minister e se tomava Old Parr. Tudo como nos anos 50. E, como nestes, lia-se Sartre,
Faulkner e Pearl S. Buck.
A partir de 1966, tudo acima foi abandonado, exceto Sartre,
premiado com alguma sobrevida. Os homens aderiram aos mocassins, às camisas de
malha e às calças jeans, bem justas na perna. Muitos nunca mais foram ao
barbeiro. As mulheres converteram-se à minissaia, passaram para a maxissaia e
acabaram na midissaia. A Meca passou a ser Londres. Veio a pílula e nos
locupletamos todos. Fumava-se maconha e se tomava LSD. Como nos anos 70. E,
como nestes, já se lia Marcuse, McLuhan e Mao Tsé-Tung.
Quer saber o que sobrou e que se pode considerar exclusivo
dos anos 60? Godard. Barbarella. Twiggy. Ravi Shankar. Geraldo Vandré. Leno
& Lilian. Vladimir Palmeira. Ted Boy. Marino. Topo Giggio.
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