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quinta-feira, setembro 20, 2018

A década que não existiu



Topo Gigio e sua criadora Maria Perego

Por Ruy Castro

Tenho uma tese de difícil defesa e baixa possibilidade de aceitação, e que só revelo aos mais chegados quando eles prometem não rir: a de que os místicos anos 60, que apaixonam todo mundo – tanto os que os viveram como os que só os conheceram de livro, disco ou filme –, não existiam.

Com isso quero dizer que, até 1965, ainda não tínhamos saído completamente dos anos 50. E, a partir de 1966, já estávamos nos anos 70 e não sabíamos. Donde os anos 60 não existiam. Tudo bem, é um enunciado ousado, talvez antipático. Mas, somente para argumentar, eis alguns dos motivos que me levaram a tal conclusão.

Até 1965, os homens ainda usavam ternos e gravata. Cuidavam para não desfazer o vinco da calça e aplicavam Glostora ao topete. Os rapazes dobravam as manguinhas da camisa esporte ao estilo James Dean. As mulheres usavam anáguas, armavam o cabelo com Bombril e só saíam à rua de frasqueira. Ia-se a Paris. Ainda não havia a pílula, donde os casais tinham de, literalmente, se virar para fazer amor sem risco de gravidez. Fumava-se Minister e se tomava Old Parr. Tudo como nos anos 50. E, como nestes, lia-se Sartre, Faulkner e Pearl S. Buck.

A partir de 1966, tudo acima foi abandonado, exceto Sartre, premiado com alguma sobrevida. Os homens aderiram aos mocassins, às camisas de malha e às calças jeans, bem justas na perna. Muitos nunca mais foram ao barbeiro. As mulheres converteram-se à minissaia, passaram para a maxissaia e acabaram na midissaia. A Meca passou a ser Londres. Veio a pílula e nos locupletamos todos. Fumava-se maconha e se tomava LSD. Como nos anos 70. E, como nestes, já se lia Marcuse, McLuhan e Mao Tsé-Tung.

Quer saber o que sobrou e que se pode considerar exclusivo dos anos 60? Godard. Barbarella. Twiggy. Ravi Shankar. Geraldo Vandré. Leno & Lilian. Vladimir Palmeira. Ted Boy. Marino. Topo Giggio.

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