Sildomar Abtibol, uma
das estrelas do Íris Internacional
Outubro de 1976. O poderoso Setembro Negro (ex-Murrinhas do Egito) vai enfrentar uma das sensações do Peladão, o Íris Internacional, também da Cachoeirinha, no campo do Comando da Polícia Militar, em Petrópolis, pela fase do “mata-mata” do campeonato.
O time do Íris Internacional contava com três moleques fora de série, que faziam a diferença: Ricardo Guerreiro (aka “Tostão”), Junior Perturbado (um dos melhores craques do Amazonas em todos os tempos) e Sildomar Abtibol (futuro jogador profissional do Nacional e depois vereador de Manaus).
O trio era responsável por 80% dos gols do time e jogava quase por música, como se fosse uma sinfonia de Beethoven onde tudo se encaixava no lugar apropriado. Dava gosto ver aqueles sacanas jogando.
O time ainda contava com os talentos de Vladimir Brother e Paulo Ribas.
Com quinze minutos de jogo, o Íris Internacional já fez 1 a 0 (gol de falta de Sildomar), já carimbou o travessão do Setembro Negro duas vezes (chutes de Junior Perturbado) e já obrigou o goleiro Gato a fazer uma defesa milagrosa, num chute enviesado de Tostão.
Aliás, o moleque de apenas quinze anos está tirando o sono da defesa. Tostão dribla, se desloca, corre, divide, faz o diabo a quatro.
A ruidosa torcida do Setembro Negro começa a exigir uma marcação mais forte em cima do endiabrado centroavante.
O quarto-zagueiro Lúcio Preto se encarrega da tarefa.
No primeiro “rabo de vaca” que leva, Lúcio Preto consegue correr atrás do moleque e, numa entrada violenta, o joga em cima do alambrado.
A torcida do Íris Internacional só falta entrar em campo para chacinar o carniceiro.
O juiz adverte verbalmente o zagueiro.
Tostão passa cinco minutos recebendo atendimento médico e retorna ao campo.
Na primeira bola que recebe, ele dá um balãozinho em Lúcio Preto e dispara em direção à área.
O quarto-zagueiro consegue correr atrás do moleque e, em nova entrada violenta, quase quebra as duas pernas do centroavante.
Tostão cai no chão, urrando de dor.
O juiz se aproxima com a intenção de puxar um cartão amarelo.
Capitão do time, Lúcio Preto argumenta que se tratou apenas de um choque normal entre pessoas de compleição físicas diferentes: Tostão tem apenas 15 anos, ele tem mais de 30.
O juiz guarda o cartão amarelo.
O jogo recomeça. Tostão recebe uma bola de costas pra área, faz que vai passar pra Junior Perturbado, que está entrando pela direita, mas recolhe a bola em um meio giro, fica de frente pro crime e dá um simples tapa no canto esquerdo do goleiro Gato.
É o suficiente. Íris Internacional 2 a 0.
Falta pouco mais de dois minutos para acabar o primeiro tempo.
Sildomar ganha uma bola no meio do campo, toca para Junior Perturbado, que lança Tostão na ponta esquerda.
Lúcio Preto vai em direção ao centroavante e mete uma “voadora” quase mortal.
Tostão cai no chão, se contorcendo de dores.
O juiz puxa o cartão amarelo e corre em direção ao zagueiro que, fingindo uma contusão, também se contorce no chão.
Na mesma hora, entra em campo o major Paulo Ferreira, oficial do dia, com uma arma já engatilhada, que também corre em direção ao Lúcio Preto e avisa, peremptório:
– Escuta aqui, ô bonitão! Se você se aproximar desse guri mais uma vez, eu vou te dar dois tiros no joelho e te prender por trinta dias!
O juiz encerra o primeiro tempo.
Lúcio Preto não voltou para o segundo tempo, com medo de ser preso.
Foi substituído pelo colored Pompeu.
O Íris Internacional ganhou de 3 a 1 do Setembro Negro, com outro gol de Tostão no segundo tempo. O moleque era foda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário