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sexta-feira, março 13, 2020

A propaganda quase enganosa do publicitário Jefferson Coronel



Meu ex-chefe na Secom, o radialista Jefferson Coronel, ao lado da filha Nathália

Setembro de 1994. O publicitário Sérgio Bastos estava tomando banho de mangueira e enchendo a cara de manguaça em uma manhã de sábado quando escutou na rádio Novidade uma propaganda inusitada: qualquer pessoa que entrasse naquele dia na revendedora Bambino’s Veículos sairia de lá dirigindo um carro. Não era preciso apresentar documentação, assinar contrato ou dar um centavo de entrada. Bastava ir até a revendedora, escolher o carro e ir embora. Serjão não pensou duas vezes.

Em quinze minutos, só de sunga, sandálias havaiana e óculos escuros, ele estava descendo de um táxi e entrando na revendedora. Os atendentes levaram um susto. Morto de doido, Serjão explicou que só estava ali por causa da propaganda que acabara de escutar na rádio Novidade. Não levara documentos nem nada. Exaltado, avisou que se não pudesse sair dali dirigindo um carro iria direto ao Procon abrir um processo contra a empresa por conta da “propaganda enganosa”.

Nervosíssimo, o gerente da revendedora disparou uma série de telefonemas para o patrão, para o responsável pela propaganda (o radialista Jefferson Coronel, na época responsável pelo setor de marketing da Bambino’s Veículos), para os advogados da empresa e finalmente concordou em atender aquele consumidor turrão e cheio de direitos. Serjão escolheu um Corcel Scort Hobby amarelo-canário todo incrementado (tala larga, aros de magnésio, descarga Kadron, toca-fitas Roadstar e antena elétrica).

Para entregar o veículo ao publicitário, os manobristas precisaram primeiro retirar 150 carros do pátio da empresa, congestionando completamente a Rua Salvador, em Adrianópolis, onde ficava localizada a revendedora. O trânsito naquela artéria virou um inferno. O bate-boca entre os apressados motoristas particulares e os manobristas era digno de discussão de quengas embriagadas em inferninhos de quinta categoria.

Depois de meia hora de confusão, Serjão entrou no carro e foi embora. Como garantia, havia dado apenas o número do telefone da agência G&F Comunicações, onde era meu parceiro de dupla de criação. Passou o final de semana se exibindo pelos botecos da cidade com seu novo brinquedo.

Na segunda-feira, quando entrei na agência para trabalhar, percebi que ele estava meio macambúzio. Meia hora depois, Sérgio me chamou na sua sala e relatou o ocorrido. De quebra, ele já havia amassado um dos para-lamas do carro sabe Deus onde. Pra completar, o pessoal da Bambino já havia ligado trocentas vezes para a agência solicitando que ele fosse assinar o contrato de compra do veículo, mas Serjão estava se fingindo de morto. Ele queria devolver o carro, já que não teria condições de pagar as prestações.

Penalizado de sua depressão pós-ressaca, resolvi ajudá-lo e fiz a única coisa que me pareceu sensata naquele momento: liguei para a revendedora, me identifiquei como chefe do Sérgio e expliquei a situação. O gerente da revendedora ficou possesso. Começamos a discutir.

– Vocês fazem uma propaganda idiota dessas e ainda querem ter razão? – disparei. “O Serjão não assinou nenhum documento. Vocês deram a chave do carro por livre e espontânea vontade. Além disso, pelo Código Nacional de Trânsito, vocês cometeram um crime ao deixar um sujeito embriagado dirigir um carro...”

Do outro lado da linha, o sujeito enlouqueceu de vez. Falou que eu não sabia com quem estava se metendo, insinuou que teria conexões nas altas esferas, que o Serjão iria ser preso, essas bobagens.

Resolvi encerrar o papo:

– Negócio seguinte: o carro de vocês está estacionado aqui na Rua Rio Ituxi, na frente da agência G&F Comunicações, e a chave está com o vigia da agência. Se daqui a meia hora o carro ainda estiver aí na frente, vou ligar para a polícia dizendo que desovaram um carro roubado aqui no Vieiralves...

Meia hora depois um sujeito desceu de uma picape em frente da agência, pegou a chave com o vigia Baiano, entrou no Hobby amarelo-canário todo incrementado e foi embora. Salvo engano, o Serjão ainda pagou duas diárias pela utilização do veículo no fim de semana.

Eu, se fosse o Bambino, teria descontado o resto do prejuízo no salário do radialista Jefferson Coronel, pra ele aprender a fazer propaganda decente.

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