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segunda-feira, novembro 02, 2009

Alô Alô Terezinha revisita época de Chacrinha


Jornalista e crítico de cinema por formação, o carioca Nelson Hoineff estreou no cinema com o documentário O Homem Pode Voar, sobre o pioneiro da aviação Santos Dumont. Ele vem se especializando em filmes sobre personalidades polêmicas.

Em seu currículo estão Caro Francis, já exibido em festivais como o de Paulínia (SP), em julho de 2009, e ainda inédito no circuito comercial. Seu protagonista é o também jornalista Paulo Francis, falecido em 1997, famoso por colecionar inimigos por seu estilo agressivo e polêmico.

Também neste ano Hoineff lançou outro documentário, Alô Alô Terezinha (assista ao trailer clicando aqui), que examina um dos maiores fenômenos da televisão brasileira - o apresentador Abelardo Barbosa (1917-1988), o Chacrinha.

Em sua primeira exibição pública, no Cine-PE, em abril, o documentário conquistou os prêmios de melhor filme, tanto do júri oficial quanto do júri popular, além do de melhor montagem.

Na prática, o filme não é apenas sobre Chacrinha, mas também sobre os personagens de seus programas - que foram exibidos em várias emissoras, entre o final dos anos 1950 e meados dos anos 1980. E é na forma que opta por retratá-los que o filme se mostra discutível.

Hoineff demonstra que, em termos de ética cinematográfica, é o extremo oposto de outro documentarista, o veterano Eduardo Coutinho, que pauta trabalhos como Edifício Master, Peões e Jogo de Cena por um grande respeito aos seus entrevistados.

O diretor de Alô Alô Terezinha, ao contrário, expõe as chacretes e ex-calouros do programa muitas vezes por um ângulo francamente escandaloso e mesmo desrespeitoso.

Exemplos disso não faltam. Ao entrevistar artistas que frequentavam assiduamente os programas de Chacrinha - Jerry Adriani, Wanderley Cardoso, Fábio Jr. e outros -, o cineasta revela-se acima de tudo interessado em saber se eles iam ou não para a cama com as chacretes. Para elas, também sua principal pergunta é com quem dormiram.

Com as chacretes, a exposição vai mais longe. Com uma delas, hoje senhora e gordinha, o diretor insiste para que experimente o maiozinho justo que usava na TV décadas atrás, documentando todo o seu esforço inútil. A mais famosa delas, Rita Cadillac, é entrevistada na cama por um fã.

A situação mais constrangedora, no entanto, é quando se mostra outra delas, a índia Potira, nua numa fonte em frente a um restaurante onde trabalha - o que seria, segundo o filme, um "antigo sonho" dela.

O diretor se defende dizendo que apenas reproduz o universo de humor cruel que vigorava dentro dos programas de Chacrinha.

A favor deste argumento, são vistos exemplos disso no documentário - que mostra trechos em que o apresentador questionava a opção sexual de um candidato e buzinando sem dó diversos desafinados. Um deles revela seu trauma até hoje, derramando lágrimas ao lembrar dos vexames sofridos.

Infelizmente, Alô Alô Terezinha perde uma ótima oportunidade para apresentar de maneira mais distanciada e equilibrada este passado da TV brasileira.

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