Nos tempos magérrimos, na pré-história da carreira luminosa feita com a ajuda das “mulatas que não estão no mapa”, Oswaldo Sargentelli morava num apartamento desses catre-penico-bico-de-gás.
O contrato de locação era meio de boca e o senhorio, aproveitando-se disso, aumentava o aluguel todo mês, sem que o inquilino pudesse fazer algo para evitar a exploração.
Mas um dia pôde. Sargentelli ficou na calçada em frente ao prédio olhando interessado um ponto qualquer da fachada. Foi juntando gente.
– O que houve? – perguntou um popular ao Sargento.
– Não está vendo? Olha lá, bem naquele canto. Uma fissura. E o prédio está meio inclinado, reparou?
– É mesmo, rapaz! Esse troço pode cair a qualquer hora!
Meia hora depois chega a polícia. Inteirada do perigo, isola o quarteirão. Chamam a Defesa Civil, os engenheiros do Estado, o Corpo de Bombeiros.
Comprovam, mesmo sem maior investigação, que o prédio corre sério risco de desabar e deve ser evacuado e interditado imediatamente.
“Prédio pode ruir a qualquer momento”, diz a manchete do jornal O Dia. As primeiras páginas dos outros jornais gritavam mais ou menos o mesmo.
Famílias ao desabrigo, reunião de emergência com o secretário de Obras, que garante não haver perigo iminente.
– Os engenheiros estão estudando o assunto com o maior cuidado! – disse a autoridade.
– Isso é um descalabro! Um desaforo! – berrava Sargentelli. “E os preços extorsivos dos aluguéis que pagamos? Só funciona um elevador, imagine! Vou processar o condomínio!”.
E se mudou do cabeça-de-porco, deixando o caos instaurado.
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