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sábado, agosto 07, 2010
Da série 'Vale a pena ler de novo": Stan Lee, o Pai dos Quadrinhos Modernos
Marcel Plasse
Capitão América, Thor, Hulk, Homem Aranha, Demolidor, Surfista Prateado, mais o Quarteto Fantástico, X-Men e o Homem de Ferro estão ao seu lado, aguardando ansiosos pela fala do criador. Você soltou um grito? Duvidou?
Pois pode começar a tremer, porque você não se enganou: BIZZ falou com Stan Lee.
“Alô? Não, você discou o número errado. Aqui é da Escola para Jovens Superdotados do professor Xavier.” OK, obrigado. “Não, aqui é a portaria do edifício Baxter.” Tudo bem. “Indústrias Stark...”
Hmm...
“Isto é uma gravação. Você discou para a mansão dos Vingadores. Sentimos não poder atendê-lo no momento, pois estamos ocupados tentando salvar o mundo. Deixe seu recado após o bip...”
Incrível. Tudo estava acertado para uma entrevista telefônica com Stan Lee, mas seu número parecia estar enfrentando uma barreira mística. Pelos veneráveis poderes de Hoggoth! isso me sugeriu alguma artimanha dos inimigos do Dr. Estranho.
Nova tentativa. “Nelson e Murdock, advogados.” Droga!
Talvez fosse um trabalho de Loki, o Príncipe do Mal, tentando se vingar do criador de seu odiado meio irmão.
De repente, um relâmpago risca os céus, iluminando um funesto personagem num canto sombrio da saia. Ele disse: “Eu sou o Dr. Destino”.
Outro relâmpago sublinha sua apresentação teatral. Ele se aproximou: “Eu estou aqui para eliminar a existência do criador do Quarteto Fantástico”.
Minha memória biônica começa a funcionar: Quarteto Fantástico, grupo criado em 1961 por Stan Lee e Jack Kirby. Os primeiros heróis Marvel.
Sinto o toque metálico do Dr. Destino em meu pescoço. “Disque!”, ele ordenou. Desta vez, não houve enganos: “S-Stan Lee?”, perguntei. A recepcionista do escritório da Marvel Entertainment Group em Los Angeles pediu um instante. Não precisava mais do que isso para a vida passar diante dos olhos.
A vida de Stanley Martin Lieber, nascido na cidade de Nova York em 1922. Aos 20 anos, ele já era editor de quadrinhos (da Timely, a empresa que depois viraria Atlas e finalmente Marvel).
Durante os anos 40, ele escreveu diversas histórias do Capitão América e de vários personagens que não se tornaram tão populares, como Young Aliens, Black Marvel etc. Mas foi a partir de 1961, com os artistas Jack Kirby e Steve Ditko, que o criador Stan Lee virou lenda.
Dentre os personagens que surgiram de sua criativa imaginação estão o Quarteto Fantástico, os X-Men, Os Vingadores, Thor, Hulk, Homem-Aranha, Dr. Estranho, Homem de Ferro, Demolidor, Surfista Prateado etc.
Foram mais de dez anos escrevendo roteiros para mais de dez revistas simultaneamente, sobre super-heróis frágeis, com problemas com garotas e considerados ameaças para a humanidade. Por tudo isso, ele é tido como o pai dos quadrinhos modernos
“Stan Lee falando.” O Dr. Destino ri. “Faça sua entrevista”, ordena, conectando um estranho aparelho ao telefone. “Isso é uma arma capaz de seguir os impulsos telefônicos através do globo e... destruir!” explica. Eu não perguntei nada. O que eu pergunto agora? “Comece pelo início”, explica Dr. Destino.
BIZZ - Vamos começar pelo início. Como você se apaixonou por quadrinhos?
Lee - Well... Na verdade, eu lia muito quando era criança. Eu adoro ler. Nunca pensei que fosse entrar no ramo dos quadrinhos por trabalho. Isso aconteceu por acidente.
BIZZ - Como foi isso?
Lee - Eu comecei a trabalhar numa empresa chamada Timely. Pensei que o emprego fosse temporário, embora eu realmente quisesse estar lá e escrever. Acabei permanecendo na companhia e ela se transformou na Marvel. Na verdade, eu ainda estou na empresa que me contratou quando eu era garoto.
BIZZ - Você criou uma nova espécie de super-herói, que destoava completamente do universo de superseres da época (1961-63). Essas histórias são clássicas, renderam vários prêmios... O que você acha das mudanças no seu trabalho original feitas pelos novos artistas da Marvel? Você acredita que o espírito continua o mesmo?
Lee - Well... O espírito nunca é exatamente o mesmo. Quando um novo escritor assume um personagem, quer usar suas próprias idéias e seu próprio estilo. Se eu começasse a trabalhar sobre a criação de outra pessoa provavelmente faria o mesmo.
BIZZ - Qual é o seu herói favorito?
Lee - É difícil pra mim ter um favorito. Eu me divirto com todas as coisas que criei. Eu provavelmente ache melhor o Surfista Prateado, porque acabei de fazer uma nova história dele. Mas geralmente eu costumo dizer que é o Homem-Aranha.
BIZZ - O Homem-Aranha é realmente um herói especial. Você sabe melhor do que ninguém o que o faz especial: sua fraqueza, azar... Suas primeiras histórias ainda parecem novas e de fato muito melhores que as atuais. Você não concorda?
Lee - Eu certamente gosto das minhas histórias (risos) mais talvez seja difícil manter um personagem interessante o tempo inteiro. Depois de um tempo não resta nada mais para escrever. Eu não sei. You know, as histórias que são publicadas hoje tem um tipo de graça diferente das de anos atrás.
BIZZ - Existe alguém que você possa chamar de “o novo Stan Lee”? Quem está Trazendo novas idéias e personagens aos quadrinhos?
Lee - Eu... não... sei. Eu realmente não sei. A DC teve algo chamado The Watchmen, uma boa história, da qual gostei, com conceitos novos. Há novas idéias. Mas eu não vi ninguém que trouxesse tanta coisa nova quanto eu nesses últimos anos. Eu gostaria de poder responder a você (risos). Mas eu não conheço ninguém que tenha criado tantos personagens novos e tenha obtido tanto sucesso. Não sei quem citar.
BIZZ - OK, esta é a resposta... E o que você acha do Novo Universo?
Lee - Eu receio que não foi tão bem-sucedido, foi?
BIZZ - Não era uma tentativa de resgatar a velha substância da Marvel?
Lee - (seco) Só que não funcionou.
BIZZ - Quais são suas atuais funções na Marvel?
Lee - Estou aqui na Califórnia (o escritório central é em Nova York) desenvolvendo filmes, desenhos animados e projetos para a TV. Eu ainda escrevo algumas histórias ocasionalmente. Como disse, eu acabo de escrever uma aventura do Surfista Prateado, mas na maior parte do tempo eu estou envolvido com filmes e televisão.
BIZZ - Você não gostaria de voltar a produzir mais quadrinhos e criar mais personagens?
Lee - Eu adoro escrever quadrinhos e criar personagens. Mas depois de passar tanto tempo fazendo isso, estou gostando de fazer algo novo. Mas acredito que em breve volte a lazer novos quadrinhos. Porque eu sinto falta disso.
BIZZ - Em que filmes você está trabalhando agora?
Lee - O primeiro a chegar nos cinemas é baseado num personagem chamado Justiceiro. O segundo será sobre o Homem-Aranha. Eu espero fazer um sobre o Homem de Ferro, Quarteto Fantástico e alguns outros. (Os olhos do Dr. Destino brilham. Ele blasfema alguma coisa na língua latveriana.) É difícil dizer, porque muitas coisas podem dar errado. Nós tínhamos um número de filmes que pensávamos que íamos produzir, mas que no último minuto foram cancelados... Então, agora, eu não gosto de falar sobre eles até que estejam finalizados.
BIZZ - OK... Qual é seu artista favorito?
Lee - Eu não posso responder isso, não é justo, porque eu posso esquecer alguém importante. Posso mencionar os artistas com quem trabalhei: John Romita, John Buscema, Jack Kirby e Steve Ditko, of course. Hoje, há um artista francês chamado Moebius (Jean Giraud)... Ele fez a arte da minha história do Surfista Prateado. Eu trabalhei com tantos artistas! E realmente difícil ter favoritos.
BIZZ - Como está a disputa entre Marvel e DC?
Lee - Não há realmente disputa. A maioria das pessoas são amigas.
BIZZ - Então, nós podemos esperar outros crossovers como aquele entre Super-Homem e Homem-Aranha?
Lee - Yeah, podem haver outros. Nós não realizamos muitos crossovers, mas sempre é divertido fazê-los.
BIZZ - Aqui no Brasil há uma boa torcida pela realização de um crossover entre Batman e Demolidor, assinado por Frank Miller. Isso é possível?
Lee - Oh! (risos) Eu não sei se DC ou Frank Miller gostariam de fazer isso, mas certamente é possível.
BIZZ - Miller fez um ótimo trabalho com o Demolidor e especialmente com Elektra. Ele voltará para a Marvel?
Lee - Yeah, eu gosto muito da minissérie de Elektra e espero ver mais trabalhos dele na Marvel. Mas eu não estou exatamente atualizado com o que está acontecendo no perímetro editorial. E não sei o que Miller está fazendo agora.
BIZZ - Você criou os X-Men. E agora os mutantes do professor Xavier se multiplicaram por seis revistas (Classic X-Men, The Uncanny X-Men, The New Mutants, X-Factor, Excalibur e a minissérie X-Terminators). Qual é a razão de tanto sucesso?
Lee - Well... Eu acho que fazemos tantas revistas porque os fãs querem comprá-las (risos). Acho que o sucesso atual dos X-Men vem das histórias de Chris Claremont. Ele tornou todos os personagens muito interessantes, desenvolvendo suas personalidades de forma assustadora.
BIZZ - O que você acha dos quadrinhos adultos?
Lee - A idéia de quadrinhos não é apenas para crianças, mas isso não significa que nós queremos torná-los terrivelmente sexys e violentos. Adultos vão ao cinema, e quadrinhos são uma espécie de filme. A única diferença é que eles não possuem movimento. Pouco a pouco, estamos conquistando leitores mais velhos. Quadrinhos agora são encontrados em livrarias, coisa que não acontecia antes.
BIZZ - Você tem lido o Quarteto Fantástico? (Dr. Destino desconfia de algo e me aperta a garganta).
Lee - Não. Eu vejo as capas e é só. É muito frustrante pra mim lê-los, porque se eu ler e ver algo que não está certo ou algo que deveria ser consertado, eu não me sentiria confortável. Eu não quero começar a dizer às pessoas o que eu acho que está errado, especialmente por não trabalhar mais no escritório de Nova York.
BIZZ - Ainda há lugar para o Capitão América dos dias de hoje?
Lee - Eu lembro quando trouxemos o Capitão América de volta, 20 anos atrás, e todo mundo dizia que não havia mais lugar pra ele. E ele se tornou popular. Eu penso que sempre haverá lugar para o Capitão América nos Estados Unidos.
BIZZ - O que você curte mais nos quadrinhos?
Lee - Well... Eu gosto da inovação. Eu odeio ler sempre a mesma coisa. É como ver os mesmos filmes na TV, isso me deixa doente. Basicamente, o que eu gosto é o que todo mundo gosta: novas histórias, boas idéias e personagens interessantes. (pausa) O Brasil é um grande mercado para histórias em quadrinhos?
BIZZ - Sem dúvida. Quando você começou com a Marvel, pensou em ter, algum dia, histórias publicadas no Brasil?
Lee - (risos) Não. Eu só pensava em escrevê-las boas o suficiente para manter o meu emprego.
BIZZ - E como você se sente agora?
Lee - Eu ainda tenho o meu emprego! (risos)
Olho Dr. Destino e vejo que seu aparelho está pronto para um grande desfecho. De repente, a parede da sala se derrete. Chamas atacam o vilão, que ri sarcasticamente. “Eu esperava vocês”, ele diz.
A mesa onde está o telefone voa sem motivo. O telefone cai no chão. Súbito, o prédio começa a tremer, como se alguém superforte estivesse erguendo sua estrutura.
O aparelho mortal do Dr. Destino está em pedaços. Agarro o telefone. Stan está falando: “I enjoy it”.
Dr. Destino: “Vai ser a última coisa que você apreciará!” E detona sua engenhoca. Estaria realmente quebrada? Alô, alô? Stan desligou. Ou...?
Então, um braço elástico arrasta Dr. Destino para fora do prédio. Corro até o rombo na parede, mas ele já sumiu. O que houve? Será que...? Não percam o desfecho nas bancas. Quanto a mim, ninguém vai acreditar nesta história.
(publicado na revista Bizz de outubro de 1988)
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