Conheço o senador Artur Neto há exatos 32 anos. Diferente de alguns políticos que começaram sua vida política na direita (Arena, PDS, PFL) e depois migraram para a esquerda, Artur Neto começou na esquerda e lá permanece até hoje.
Em 1978, seu pai, o saudoso Artur Virgílio Filho, sem sequer nos conhecer direito (a mim e a Adalberto de Melo Franco, Engels Medeiros, Mário Adolfo, Carlos Almeida e Geraldo Nogueira), nos ajudou a se livrar de uma presepada armada pelos bate-paus da repressão por meio do também saudoso advogado Alberto Simonetti.
Além de ficarmos amigos de infância e eternamente gratos ao senador pelo resto da vida, eu e Mário Adolfo passamos a frequentar seu apartamento no edificio Antonio Simões para conversar sobre política, recitar poemas de Pablo Neruda e encher a cara de birita.
O querido “Tio Àrtur” (era assim que eu e Mário Adolfo o chamávamos, com a sílaba tônica no “a” como na pronúncia inglesa porque pra gente Artur Virgilio Filho era um sofisticado lorde inglês perdido no meio da barbárie tropical) nos apresentou ao seu filho mais velho, o querido Artur Neto, então candidato a deputado federal, e nós dois viramos cabos eleitorais dele na mesma hora.
Artur Neto nasceu em Manaus, mas passou a adolescência e a juventude no Rio de Janeiro, onde se formou em Direito. Foi um destacado líder estudantil nos anos de chumbo e se filiou ao MDB velho de guerra em 1966.
Diplomata de carreira, concluiu o Instituto Rio Branco em 1976. Foi professor de inglês e francês, tendo realizado cursos de aperfeiçoamento nas Universidades de Michigan (USA) e Cambridge (UK).
Em 1978, ele saiu candidato a deputado federal pelo MDB, mas acabou ficando na primeira suplência. Em 1982, se elegeu deputado federal pelo PMDB.
Exemplo raro de cafuzo sem melanina, daí o apelido de “Macaxeira”, Artur Neto virou político por uma contingência familiar.
Em dezembro de 1968, nas vésperas do AI-5, o ex-líder do PTB no Senado e então vice-líder do MDB, Artur Virgílio Filho, fazia um discurso destemperado, valente, raivoso, denunciando os horrores da ditadura militar, numa sessão do Congresso.
– Que nos fechem hoje, mas com o povo que nos assiste ao nosso lado, e não nos fechem amanhã, ingloriamente, com o aplauso do povo brasileiro, como aconteceu em 1937! – vociferava o senador.
Vice-líder do MDB na Câmara e amigo de Artur Virgílio, o deputado Paes de Andrade pede-lhe um aparte, para se solidarizar com ele. Artur Virgílio faz que não vê. Paes insiste, Artur Virgílio não dá a mínima. Quando desceu da tribuna, Paes foi lhe cobrar:
– O que é isso, Virgílio? Como é que você me negou um aparte?...
– Paes, eu hoje não fiz um discurso, fiz um requerimento. Esse discurso é um requerimento de cassação. Você não tinha nada que entrar no meu requerimento. Cumpri meu dever de trabalhista e vice-líder da oposição e sei que eles vão me cassar. Estou indo embora, mas você precisa ficar para continuar lutando pela redemocratização do país.
Dito e feito. No mês seguinte, o senador foi cassado.
Catorze anos depois, o filho mais velho estava em Brasília dando continuidade à luta do pai.
Dono de um discurso fluente e vigoroso, Neto logo conquistou o Congresso e virou “arroz-de-festa” dos movimentos sociais.
Começaram a chover convites para ele fazer palestras em sindicatos e dar apoio político às greves de trabalhadores em todo o país.
Em 1984, ele estava em Fortaleza, participando de uma manifestação dos professores contra o governador Luiz Gonzaga Mota, o “Totó”, na frente do Palácio da Luz, quando o líder do governo na Assembleia, deputado estadual Ciro Gomes (PDS), veio tomar satisfações:
– O senhor não tem vergonha de vir lá do Amazonas participar dessa baderna?... – disparou Ciro, visivelmente irritado.
De cima do trio elétrico, Artur Neto não negou fogo:
– Vergonha devia ter o senhor, que serve com fidelidade canina a um ditadorzinho provinciano com nome de vira-lata. Quem esse Totó pensa que é pra fazer essa cachorrada com os briosos professores da terra de Iracema?...
A multidão aplaudiu ruidosamente Artur Neto, mas o bate-boca entre os dois logo enveredou pela baixaria e contribuiu para torná-los inimigos irreconciliáveis até hoje.
Em 1986, Artur Neto se filiou ao PSB e foi candidato a governador pela oposição. Perdeu para Amazonino (PMDB), apoiado por Gilberto Mestrinho.
Em 1988, foi candidato a prefeito de Manaus, de novo pela oposição, e derrotou Gilberto Mestrinho (PMDB), apoiado por Amazonino.
Em 1989, a pedido do senador Mário Covas, Artur Neto se filiou ao PSDB.
Em 1990, Ciro Gomes se elegeu governador do Ceará pelo PSDB.
No ano seguinte, o ex-vereador Robson Tiradentes, na época um dedicado aspone de Artur Neto na prefeitura, embarcou num avião em Teresina, com destino a Brasília, quando notou o governador tucano lendo um jornal, ao lado de um assento desocupado. Inocente, puro e besta, Robson sentou-se ao lado de Ciro e puxou assunto:
– Eu sou um grande admirador do seu trabalho, governador! – babou ele. “Acho que o senhor está fazendo um governo pai-d’égua!”.
Ciro, com aquele seu ar imperial, dobrou o jornal, virou-se para o desconhecido e o interpelou:
– É? E quem é você?...
– Ah, eu sou lá de Manaus e trabalho com um grande líder do seu partido...
– É? E quem é ele?...
– O prefeito Artur Neto, governador!
Ciro ficou olhando para Robson como se estivesse analisando um inseto. Aí, espumando de ódio, rodou a baiana:
– O senhor é muito atrevido! Muito folgado! Retire-se daqui agora mesmo! Retire-se agora mesmo ou vou perder a compostura!!!
Com medo de ser estapeado, Robson trocou de lugar.
Ele só foi entender a história quando contou o incidente para o prefeito. Que, claro, morreu de rir.
Como deixar de votar em um senador com um senso de humor desse naipe? Nem morto, zifio, nem morto.
Artur Neto merece voltar ao senado - e, se depender de mim, ele já pode se considerar eleito. É isso aí!
2 comentários:
Tava precisando deste depoimento, para consolidar meu voto. Conheci o Artur Neto por via transversa. Ele Prefeito, eu oficial dos Bombeiros. Ele, Deputado Federal, eu, mestrando de História, em Recife (PE). Um dia, mandei-lhe uma mensagem reclamando certa postura dele. No dia seguinte, ele me telefonou e, durante meia-hora de conversa, convenceu-me da posição dele. Meus dois votos para o Senado pertencem a ele. Roberto Mendonça
Grande Simao Pessoa!
Parabéns pelo blog. O momento é propicio para falar sobre politica, você é um cara que entende e vivencia a politica partidária. Não voto em qualquer um, o meu voto é consolidado, independe de propaganda política ou do poder econômico do candidato. O senador Artur Neto sempre teve o meu voto e pode contar comigo para permanecer no Senado Federal. Apesar de ser grato eternamente por ter lembrado o meu saudoso pai, quando era Prefeito de Manaus, ao conceder uma aposentadoria por mérito cultural -, acompanho o seu excelente trabalho em prol do desenvolvimento do Amazonas e do nosso Brasil.
Abraços,
José Martins Rocha - BLOGDOROCHA.
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