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segunda-feira, março 14, 2011

Como carcar uma vizinha solteira


Está escrito nas estrelas: todo garanhão da AMOAL tem sempre uma vizinha comível que mora sozinha.

O primeiro passo para se obter sucesso na conquista daquele Boeing 747 Extra Extended, que reside ao lado de seu ninho, é uma calma e desinteressada observação.

Repare como a aeronave vive no hangar, como faz o taxiamento, como cuida da fuselagem e por aí afora, para só depois tentar seqüestrá-la. Com você pilotando, claro.

Antes de mais nada, é importante saber se não há nenhum outro candidato a Carlos, o Chacal, nas imediações.

Ou se esse terrorista-concorrente já não se instalou no Boeing e pretende ficar lá mandando bala por muito tempo.

Neste caso, você tem de escolher entre três opções: cancelar a viagem, ir pra Envira em barco de linha ou tentar forçar a sua entrada no vôo.

Eu te conheço: se tu fores mesmo espada-matador de sangue bom, vais passar por cima do policial que confere os passaportes, por cima do funcionário do Infraero, da menina que serve as biritas na sala Vip, do motorista do trator que leva as malas, vai pisar no pescoço da comissária de bordo e invadir a aeronave a qualquer preço, dizendo que vai explodir aquela merda no World Trade Center.

Calma. A Primeira Lei da Obtenção de Intimidades com a vizinha-avião manda ter cautela.

Dois comandantes disputando o mesmo manche acabam derrubando um avião.

E é sempre melhor ter um Sêneca monomotor na mão do que dois Airbus voando. Por isso, paciência nunca é demais.

Mesmo se você cruzar com uma vizinha estonteante dessas no elevador lotado e ela for “single”, mantenha a parcimônia.

É verdade: aquele par de seios maravilhosos vai estar a alguns centímetros do seu nariz, querendo sair pelo decote. E você não é propriamente um iogue.

Mas tem de ficar sobriamente sério, autocentrado, pensando em outra coisa. Não vá fazer aquela cara de Jim Carrey ao olhar para os seios dela.

Repita mentalmente: “Estou sozinho neste elevador, estou sozinho neste elevador, estou sozinho neste elevador com uma gata morta de gostosa e dois melões maduros a meio palmo do meu focinho que estão perturbando a minha concentração!”.

Tudo bem, no começo é difícil, mas com o tempo você chega lá.

Pensar numa coisa desagradável também funciona.

Como quando, no jardim da infância, riam das tuas orelhas de abano.

Ou quando você tomou aquele porre federal de licor de ovos e vomitou no colo da menina mais bonita da festa, que, aliás, era sua namorada.

Ou quando o filho da puta do Zico perdeu aquele pênalti contra a França.

Ou, se a tentação for enorme, pense num grupo de pagode tocando no Programa Raul Gil.

Mas cuidado para não chorar. Choro em elevador é coisa de viado.

A primeira aproximação, nunca esqueça, deve ser sutil.

Não cometa aproximações bombásticas nesta fase de reconhecimento do terreno.

Não coloque uma máscara de suíno e entre no apartamento da vizinha, de calção verde, chuteiras e camiseta do Palmeiras, grunhindo feito um demente, só porque descobriu que o signo dela no horóscopo chinês é Porco.

Seja sutil. Nada de bilhetes, caixas de bombons suíços, gigantescos buquês de flores, trovadores urbanos cantando “La Vie en Rose” embaixo da janela, telegramas animados ou presentes vivos (cachorros, gatos, papagaios, peixinhos, você embrulhado em papel pardo com laço de cetim vermelho).

Os exageros neste momento podem ser destruidores.

Apenas a título de ilustração, relembro um fato ocorrido há pouco tempo.

Um de meus amigos, o compositor Pedrinho Ribeiro, estava obsessivamente ligado à imagem de sua vizinha, a cópia cagada e cuspida (mais cagada do que cuspida, é verdade) da Kim Bassinger.

O sacana queria porque queria um encontro com ela, de qualquer maneira.

Mesmo sendo alertado por mim, fantasiou-se de Pókemon e entrou à noite em sua residência.

Terminou sendo destroçado pelo rottweiler dela, que odeia este tipo de boneco estúpido de formato estranho.

Mas ser sutil demais também pode ser perigoso.

Tive um outro amigo que, para mostrar desinteresse pela sua vizinha descasada, fingia que era viado.

Quando ela entrava no hall, o sacana, mesmo de terno e gravata, começava a desmunhecar, cantar músicas da Sandra de Sá e revirar os olhinhos que nem a Elke Maravilha.

Algumas semanas depois, ela o convidou para um jantar íntimo.

Ele achou que ela tinha mordido a isca.

Mas durante o jantar, a vizinha o apresentou ao seu (dela) irmão, um mecânico da Scania Vabis, ex-motorista da Viação Cometa.

Hoje, ele está vivendo junto com o Nilsão, um sujeito maravilhoso, que lhe fez a cabeça e o compreende por inteiro.

Transar com a vizinha solteira, com uma desconhecida e até com uma boneca inflável exige que você mostre confiança em si mesmo e que demonstre isso à parceira.

Por isso, nunca se esqueça de demonstrar ao máximo o seu total controle da situação.

Passados os momentos de observação, pegue o telefone e diga a ela quem é você.

Isso, inclusive, vai servir para entabular uma boa conversa.

Apenas como exercício filosófico, tente o seguinte modelo de ligação telefônica, para deixar gravado na secretária eletrônica da sacana:

“Como vai, Suelen? Aqui quem fala é o Engels, do apartamento 1.042, ao lado do seu. Você acertou a nossa rifa! Venha buscar o seu peru de Natal aqui em minha casa hoje à noite. Nós aproveitamos, tomamos um vinho branco e ouvimos o último CD do Amado Batista. Combinado? Te espero às nove. Tchau”.

Determinação. Segurança. Firmeza. É isso que toda vizinha solteira quer ouvir.

Não importa se ela não entrou em rifa nenhuma, se ela não sabe quem você é, se ela odeia peru, e, muito menos, se o seu telefonema aconteceu a onze meses do Natal.

O importante é que você a fez acreditar em suas palavras.

Ninguém conversa com uma secretária eletrônica impunemente.

Depois do recado pelo telefone, chegou a hora da conversa ao vivo.

Na primeira oportunidade, aborde a vizinha solteira. Pode ser no hall, no corredor, no elevador ou na garagem do prédio.

Mas não esqueça que começar uma conversa com perguntas do tipo “Será que vai chover hoje?” ou “Pra você aquele Júnior Baiano transava ou não transava com a Vera Verão?” é altamente desaconselhável.

Inicie o papo de maneira simples, impessoal, sem grandes preocupações com o conteúdo da pergunta.

Mas mantenha a originalidade. Dependendo da resposta, você vai conhecer, de antemão, o tipo de personalidade dela. Exemplo:

– Só por curiosidade, Suelen, você dorme pelada, de baby-doll ou apenas de calcinha de renda transparente?

Se ainda não foi esbofeteado, continue na mesma linha.

Na seqüência, encaixe uma segunda pergunta, mais investigativa, mais íntima, mas sempre mantendo um certo ar de distanciamento:

– Tenho notado que você reside sozinha e quase não recebe visitas. Há quanto tempo o seu botão de rosa não recebe o velho e cansado orvalho da madrugada?...

Perceba a importância da ordem das perguntas, da construção do seu discurso. Mas cuidado: a distância entre o cavalheirismo e a grosseria é pequena.

Por essa razão, deixe apenas para o final uma pergunta que pode levantar polêmica:

– Você é contra ou a favor do sexo anal como forma contraceptiva verdadeiramente natural como pregam os muçulamanos? Em caso negativo, explique a sua resposta.

Não se intimide em conduzir a conversa para onde você quiser.

Seja implacavelmente firme, direto e objetivo.

Não mude o tom por nada. Exemplo:

Você: “Suelen, eu tenho uma proposta radical. Nesta altura do nosso conhecimento mútuo, creio que quanto mais cedo formos para a cama, melhor será para ambos...”.

Sim, acontecerão contratempos, mas não dê ouvidos.

A Vizinha: “Como assim, ir para a cama? Eu mal te conheci há cinco minutos, cara...”.

Prossiga:

Você: “Sexta-feira, dia 17, às nove, no meu apartamento, acho que é um bom dia...”.

Mesmo sendo xingado ou apanhando de bolsa na cara, feche os ouvidos e vá em frente.

A Vizinha: “Seu cretino, cafajeste, canalha, filho da puta!”.

A obstinação faz a diferença.

Você: “Ok, marcado na agenda: sexta, dia 17. Te espero lá, hein? Não vá furar. Um beijo na bunda”.

A Vizinha: “Vou ligar pra Delegacia da Mulher, seu cachorro!!!”.

Mesmo tendo recebido um “não” ou uma bolsada na cara, você não se dirigiu à vizinha solteira a troco de nada. Você gostaria de fazer um bem pra ela.

Obviamente, você quer resolver um problema seu (colocar um novo nome na sua galeria de troféus), mas também proporcionar um bem-estar a ela, quem sabe até lhe arranjando o primeiro orgasmo da vida.

Portanto, mesmo recebendo uma negativa forte nesse primeiro contato, sempre haverá um próximo estágio do processo que poderá acontecer mais tarde. Não se avexe.

Mesmo tendo sido xingado ou agredido fisicamente, respire fundo, olhe diretamente nos olhos dela e diga:

– Muito bem, Suelen, acho que hoje avançamos em nosso relacionamento até onde era possível. Eu gostaria de marcar uma outra cantada para daqui a uma ou duas semanas, para mostrar-lhe exatamente o que pretendo em relação a você. Dia 29, estaria bom?

Diga isso ajeitando ostensivamente o pau pro lado esquerdo, para ela saber que você é um cara sério, e que suas intenções são verdadeiras.

Se ela ainda não pegou o spray de pimenta e tentou lhe deixar cego é porque está quase no papo.

Agora, se tudo deu errado, tente o “contato de choque”.

Esta expressão pode se traduzida simplesmente por: “Chega de lenga-lenga e conversa fiada. Mete logo o pé na porta da vizinha, pra filha da puta saber que você está a fim de passar-lhe a vara”.

Esta atitude pode ser entendida como um substituto cibernético de “clava na cabeça da vadia”, bastante apreciada pelos nossos antepassados pré-históricos.

Aqui na aldeia, o “contato de choque” é diferente do que ocorre em todas as partes do mundo dito civilizado.

Devido à nossa cultura de colonizados, os vizinhos, que só querem ser o que a folhinha não marca, normalmente moram em apartamentos sofisticados, bastante acima do seu poder aquisitivo.

Para chamar a atenção das suas vizinhas solteiras, os filhos das putas mandam para elas o boleto bancário do condomínio atrasado há seis meses.

Junto vai um bilhete pedindo que a vizinha pague o boleto o quanto antes, porque ele se encontra inadimplente, desempregado, fodido e mal pago.

O choque costuma ser tão grande que as moçoilas acabam desmaiando.

Aí é só reanimar a vadia, fazer uma sopinha, tirar a temperatura, a saia e a calcinha, e correr para o abraço.

Tenho um monte de amigos que utilizam esta tática.

E até hoje, que eu saiba, nenhum deles foi preso.

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