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quinta-feira, março 10, 2011

Um novo molho branco na old black music


MC Willy Alligator, de Santarém (PA)

No começo deste ano, o selo Oi Música, em parceria com a Urban Jungle, realizou o lançamento de mais um álbum internacional: “A Strange Arrangement”, do americano Mayer Hawthorne.

Este foi o quarto lançamento da empresa que, em 2010, apresentou ao público brasileiro os artistas The Beautiful Girls, General Elektriks e The Apples in Stereo

Lançado em 2009, nos Estados Unidos, o álbum recebeu ótimas críticas.

Em 14 faixas Hawthorne mostra um estilo sweet soul, que lembra clássicos da Motown e de produtores como Lamont Dozier.

O destaque do disco, que mistura histórias românticas em baladas com músicas agitadas, é para a música “Just Aint Gonna Work Out”, que foi lançada primeiramente como single, em vinil vermelho com formato de coração.



O cantor, produtor, multi-instrumentista e engenheiro de som Mayer Hawthorne foi criado em Ann Arbor, Michigan, próximo ao subúrbio de Detroit, e apesar de crescer em uma família musical (o pai é baixista e a mãe pianista e cantora), o americano branquelo com jeito de nerd não pensava em ser cantor.

Foi seu pai quem lhe ensinou a tocar vários instrumentos.

Apesar de ter crescido ouvindo muito soul e R&B dos anos 60 na capital oficial da black music, suas raízes foram fincadas no hip-hop, como produtor dos grupos Now On e Athletic Mic League, sob o nome de DJ Haircut.


O codinome Mayer Hawthorne (seu nome é Andrew Mayer Cohen) não passava de uma brincadeira caseira, onde experimentava estilos de gravação vintage em seu homestudio, tocando todos os instrumentos: da bateria ao piano, passando pelos metais e por linhas de baixo.

Após ser apresentado a Peanut Butter Wolf, responsável pelo selo musical Stones Throw, que ouviu essas gravações caseiras, é que sua carreira como cantor começou a ganhar formato.

Sua influência é muito ampla e vai desde The Police a Smashing Pumpkins, passando por Steel Pulse, Stereolab, Public Enemy, Slum Village e, claro, os clássicos da Motown, Barry White, Curtis Mayfield e outros.

O CD “A Strange Arrangement” está disponível digitalmente na loja www.oi.com.br/diversao e no site www.oimusica.com.br.

Em janeiro, Mayer Hawthorne se apresentou no Brasil, ao lado de Amy Winehouse e Janelle Monae, passando por Floripa, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo.

O grande problema é que o retrô muitas vezes pode ser irritante. Tentar soar como algo antigo e não acrescentar nada de novo quase nunca acaba bem.

Bless God!, não é o que acontece em “A Strange Arrangement”.

A capa equivocada entretanto, traz uma imagem de Mayer vestindo um terno azul e falando ao telefone em um lugar propositalmente brega.

Tudo parece piada e pode afastar possíveis interessados naquilo que é o mais importante, a música presente ali dentro: um soul muito bem tocado com timbres impecáveis e excelentes arranjos, fiéis às principais influências de Mayer.

O álbum conta com dois inegáveis e imediatos hits: “Just Ain’t Gonna Work Out” e “Maybe So, Maybe No”, que aparecem logo em seu começo.

Como em todo soul que se preze, o baixo marca bem o ritmo ao lado da bateria, os vocais contém boa dose de emoção e até lindos naipes de metal dão o ar da graça ao lado de teclados gordos.

Vale citar aqui que Mayer tocou praticamente tudo o que você ouve no disco, com exceção de um ou outro detalhe.



Mayer acerta na mosca quando cita Smokey Robinson, Leroy Hutson e Curtis Mayfield como inspiração, uma vez que os timbres do disco e sua voz suave nos faz lembrar exatamente desses nomes.

Isso fica mais do que claro em faixas como “I Wish It Would Rain”, “One Track Mind” e “Shiny & New”, três dos maiores destaques do álbum, que mantém o nível quase sempre no topo até seu final, alcançando resultados bem melhores do que nomes como Jamie Lidell, por exemplo.

Mas isso não quer dizer que “A Strange Arrangement” não tenha problemas. Talvez o principal deles esteja na voz de Mayer, um pouco fraca para o gênero.



Sinto falta também de uma gravação menos limpa, mais crua e solta – algo tão presente nos discos de soul do final da década de 60 –, embora talvez eu esteja sendo chato demais.

Pois esse é um daqueles álbuns que, apesar de provavelmente não conseguir o merecido destaque na mídia, pode te fazer companhia por muitos e muitos anos. Experimente.

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