Hoje foi dia de se esbaldar na casa da Selane, aqui ao lado do mocó.
O Mário Dantas descolou alguns quilos de caça certificada (capivara, viado, caititu e picota), o Nelsão encarnou o espírito do badalado chef espanhol Ferrán Adrià e o resultado foi o esperado: quase que nós morremos de tanto comer!
O Mário Dantas descolou alguns quilos de caça certificada (capivara, viado, caititu e picota), o Nelsão encarnou o espírito do badalado chef espanhol Ferrán Adrià e o resultado foi o esperado: quase que nós morremos de tanto comer!
Nós, aí, quer dizer Mário e Michael Dantas (responsável
pelos clicks), Mestre Pinheiro, Nelsão, eu e Simas.
O resto da tarde foi
consumido em conversas impublicáveis, cervejas Antarctica, vodka Absolut, uísque Red Label, cigarros Charm e Marlboro, e trilha sonora do
Larry Levan em um de seus inesquecíveis sets no Paradise Garage. A vida é bela!
Mas não era sobre questões gastronômicas que eu queria
falar. Era sobre outro tipo de fome: a fome de leitura, que ainda grassa no Bananão.
Leitor compulsivo, o governador Omar Aziz acaba de marcar um
gol de letra em favor da inclusão literária de nossos conterrâneos.
O programa “Mania de Ler”, lançado recentemente pela
Secretaria Estadual de Cultura (SEC), tem como objetivo despertar o hábito da
leitura, promover a educação e facilitar o acesso ao conhecimento, tornando os
livros presença constante e de fácil acesso seja pela rede mundial de
computadores, seja em um barco de linha ou em uma praça pública, consolidando
uma saudável mania: a mania de ler.
O programa está subdividido em diversas linhas de atuação.
Vou citar de cabeça apenas algumas delas.
Em parceria com as prefeituras, o programa vai promover a
instalação do “Canto da Leitura” em todos os municípios amazonenses,
disponibilizando equipamentos e acervos para a instalação e aplicação do
projeto, objetivando o fortalecimento e a democratização do acesso ao livro e
da leitura à população do interior do Estado.
Além disso, o programa vai implantar bibliotecas em
conjuntos habitacionais e nos Centros de Convivência construídos pelo governo,
com a função de atender crianças e estudantes, disponibilizando livros
didáticos e paradidáticos para pesquisas, livros para leitura com empréstimo
domiciliar para obras literárias e gibis, acesso a internet, promovendo
entretenimento e a melhoria do desenvolvimento escolar.
Serão implantadas três Bancas Bibliotecas equipadas com
estantes, computadores, programas de gerenciamento e acervo atualizado,
distribuídas nas seis zonas urbanas de Manaus.
Cada banca contará com o “Mensageiro Literário”, que
promoverá a divulgação e entrega do acervo disponibilizado, de casa em casa, no
bairro em que será instalada a banca.
O “Leia Viajando” vai proporcionar à população que utiliza
os meios de transporte rodoviário, fluvial e aéreo, a ocupação do tempo livre
de viagem com a leitura, por meio do empréstimo de livros.
Serão instaladas pela cidade, em locais públicos e privados,
diversas caixas estantes de livros denominadas “Estação da Leitura”, para
facilitar o acesso ao livro e incentivar o hábito da leitura.
A “Rede de Livros” visa atender os municípios e comunidades
rurais, disponibilizando livros em caixas estantes, permitindo rodízio entre
elas e depois com o sistema central de bibliotecas.
O “Banco do Livro” vai promover empréstimo, permutas e
doações de livros.
O “Livro na Praça” vai implantar estantes de livros em
praças e parques públicos para leitura local ou empréstimos.
A “Bienal do Livro”, que rolou no final de abril, tem como
objetivo popularizar o livro, movimentando o mercado literário, oferecendo
encontro com autores, promovendo o intercâmbio cultural e aproximando a
população dos escritores locais.
O “Encontro com o Escritor”, como o próprio nome deixa bem claro,
busca aproximar os autores amazonenses de seu público-alvo.
No último dia 27 de abril, sexta-feira, a convite do Totonho
Ausier, do Departamento de Leitura da SEC, eu participei do projeto “Encontro
com o Escritor”, fazendo uma palestra sobre meu livro “Rock: a música que toca”, na
Escola Estadual Ana Neyre Marques da Silva, localizada à Avenida Marginal
Esquerda Q/2, Conjunto Galileia II, Cidade Nova.
Cerca de 150 estudantes participaram do fuzuê, que teve a
coordenação do gente fina Francisco Neto, também da SEC e roqueiro de carteirinha.
O Francisco Neto é sobrinho do saudoso e inesquecível economista Teodoro Botinelly, com quem fundei o PDT no Amazonas, nos anos 80, e me tornei o primeiro presidente do diretório municipal do partido.
Além da palestra e da mini sessão de autógrafos, ainda tive a cara de pau de colocar pra
tocar algumas músicas clássicas do rock nacional (“Nós vamos invadir a sua
praia”, do Ultraje a Rigor, por exemplo) e contextualizar a situação política
do país na época em que a música foi lançada.
A molecada adorou.
“Eu escutava essa música, mas não entendia direito sobre o
que eles estavam falando”, me confessou a estudante Ana Beatriz, 16 anos. “Agora
eu já sei do que se trata.”
Ana Beatriz, a exemplo dos estudantes que estavam assistindo
a palestra, sequer era nascida quando o rock nacional começou a colocar as
unhas pro lado de fora.
Estou convencido de que dividir informações é a única forma
de não criarmos uma legião de alienados e de incutir na juventude aquele
saudável hábito de protestar contra as coisas erradas.
O “Encontro com Escritor” me parece ser uma bonita trilha
aberta nessa direção e espero, sinceramente, que ele não sofra processo de
descontinuidade.
“Não esqueçam que o que está em jogo aqui nesta escola é o
futuro de vocês!”, provoquei. “Se um professor só estiver embromando,
denunciem. Se a escola não fornece merenda digna, denunciem. Se não encontrarem
livros paradidáticos na biblioteca, denunciem. Vocês são os agentes da mudança
em direção a uma sociedade mais justa e solidária. Não desperdicem essa
oportunidade!”
Os moleques me aplaudiram tanto que me senti uma estrela do
rock.
Uma semana depois, sábado, 4 de maio, participei como mediador dos
palestrantes Daniel Munduruku e Eliane Potiguara, no encontro “Minha Tribo,
Minhas Histórias”, dentro do “Tacacá Literário”, que também rolou na 1ª edição
da Bienal do Livro Amazonas, dessa vez no Studio 5.
Na plateia, a fina flor da intelectualidade baré como a jornalista (progressista, é bom frisar!) Ivânia Vieira, a jornalista e poeta Ana Célia Ossame, o antropólogo Luiz Reyes, o professor universitário Francisco Alberto Conde, o escritor Paulinho Gadelha, o artista plástico Jurandir Ferreira, o teatrólogo Maurício Vilhena e o meu mano e poeta Simas Pessoa, entre outros.
Na plateia, a fina flor da intelectualidade baré como a jornalista (progressista, é bom frisar!) Ivânia Vieira, a jornalista e poeta Ana Célia Ossame, o antropólogo Luiz Reyes, o professor universitário Francisco Alberto Conde, o escritor Paulinho Gadelha, o artista plástico Jurandir Ferreira, o teatrólogo Maurício Vilhena e o meu mano e poeta Simas Pessoa, entre outros.
Eliane é escritora indígena, professora, mãe, avó,
remanescente potiguara e viúva do cantor Taiguara.
Além disso, é Conselheira do Instituto Indígena de Propriedade Intelectual (Inbrapi) e Coordenadora da Rede de Escritores Indígenas na Internet e do Grumin/Rede de Comunicação Indígena.
Emocionadíssima, Eliane contou parte de sua trajetória
pessoal e familiar, que está documentada no livro “Metade Máscara, Metade
Cara”.
Nos transformamos em amigos de infância.
Nos transformamos em amigos de infância.
A nova geração talvez não conheça o cantor Taiguara, autor
de canções clássicas como “Hoje”, “Viagem”, “Universo no Teu Corpo” e “Que as
Crianças Cantem Livres”.
Foi por influência da esposa Eliane Potiguara que, em 1976,
Taiguara gravou o elepê “Imyra, Tayra, Ipy”, recolhido das lojas 72 horas
depois de lançado, por força e estreiteza mental do governo militar.
O disco permanecia como uma relíquia nunca ouvida no formato
CD até ser relançado no Japão, há alguns anos, e hoje pode ser baixado de graça
pela internet.
Taiguara e Eliane tiveram três filhas: Imyra, Tajira e Moína.
O cantor faleceu em 1996, aos 51 anos, vítima de câncer na
bexiga.
Considerado um dos principais autores indígenas do país, com
mais de 40 livros publicados, Daniel Munduruku nasceu em Belém (PA), se formou
em Filosofia, em Manaus, e atualmente vive em Lorena, no interior de São Paulo.
É doutor em Educação pela USP e Comendador da Ordem do
Mérito Cultural da Presidência da República desde 2008.
Seu mais recente
trabalho, “Antologia de Histórias Indígenas”, reuniu diferentes narrativas de
povos indígenas do Norte (sete), Centro-Oeste (seis), Nordeste (duas), Sudeste
(quatro) e Sul (três).
Quatro escritores indígenas do Amazonas estavam na plateia,
entre eles o poeta Carlos Tiago, que conheci na casa do também poeta Thiago de
Mello, lá se vão 12 anos.
A convite de Daniel Munduruku, Carlos Tiago recitou um poema
de sua autoria eletrizando a plateia.
Posso estar enganado, mas desconfio que foi um dos melhores bate-papos de que já participei nessa minha não tão curta existência.
A conversa estava tão boa que estouramos o tempo pré-determinado (75 minutos) em quase meia hora.
Posso estar enganado, mas desconfio que foi um dos melhores bate-papos de que já participei nessa minha não tão curta existência.
A conversa estava tão boa que estouramos o tempo pré-determinado (75 minutos) em quase meia hora.
Agora mudando de pau pra cacete: o meu, o seu, o nosso CANDIRU, considerado pelo New York Times o jornal de maior
penetração da Amazônia, também está com uma conta no Twitter.
Siga o hashtag @candiru2012 e fique por dentro das entranhas
do Poder.
Afinal de contas, como dizia nosso guia espiritual Millôr
Fernandes, “jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”.
4 comentários:
Simão,
sou irmão do Márcio Pucu e escritor independente - escreve edita e vende - e gostaria muito de mostrar um texto (110pp) que pari um dia desses. O que ocorreu dias antes e depois do golpe de 64. O olhar de uma criança residente na 'Casa vermelha' (título) da rua Manicoré.
Se você achar que pode ler, psicar diga: pucu@ibest.com.br.
Abraços da tribo de cá.
Luiz Pucú
Digo aos amigos: -
Se vc não conhece o blog do Simão não é uma boa Pessoa!
Abraço
LP
Ah.. O teu blog é paidégua!!
Simão,
Gostaria que retificasse seu texto, pois a Fátima Macêdo irmã do Junior Macêdo(Barrote)reside até hoje em Mansus, ela passou umas férias em Boa Vista (RR - Roraima) e não em Rondônia-RO, dos dois filhos que ela tem: um vive em Boa Vista-RR e outro em Manaus-AM, inclusive ambos são integrantes do Motoclube Templários do Asfalto Brasil(visite-nos no facebook).
Grato,
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