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quarta-feira, maio 16, 2012

Manuscrito do livro “On the road” é exibido em museu na França



A partir desta quarta-feira, 16, o manuscrito do livro “On the road”, versão original datilografada por Jack Kerouac, está sendo exposto no Museu das Letras e Manuscritos, em Paris. O rolo de 36 metros ficará em exposição até o dia 19 de agosto.

Jack Kerouac escreveu sua obra-prima, que seria consagrada mais tarde como a “Bíblia Hippie”, em apenas três semanas. O fôlego narrativo alucinante do escritor impressionou bastante seus editores.



Jack usava uma máquina de escrever e uma série de grandes folhas de papel manteiga, que cortou para servirem na máquina e juntou com fita para não ter de trocar de folha a todo momento. Redigia de forma ininterrupta, invariavelmente sem a preocupação de cadenciar o fluxo de palavras com parágrafos.

O material bruto que chegou às mãos de Malcom Cowley, da editora Viking Press, em 1957, deu trabalho. Os rolos quilométricos de texto tiveram de ser revisados, foram inseridos pontos e vírgulas e praticamente 120 páginas do original foram eliminadas. 


O estilo-avalanche de Jack tinha ainda um elemento intensificador. Ao contrário das ideias correntes, segundo as quais trabalhou em cima do livro sob o efeito de benzedrina (uma droga estimulante), Kerouac garantiu que realizou seu trabalho usando nada mais do que doses industriais de café.

A obra ganhou filme dirigido pelo brasileiro Walter Salles, que estreia em junho e tem Kristen Stewart, Amy Adams, Kristen Dunst e Viggo Mortensen no elenco.


Num primeiro momento a história resume-se a Sal Paradise e sua decisão de viajar de New Jersey a San Francisco para encontrar Dean Moriarty (o escritor Neal Cassady), seu amigo ainda não tão amigo assim, no exato ano de 1947. Com uns 50 doláres no bolso ele bota o pé na estrada e adeus vidinha simples casa-trabalho-casa.

Sal passa por diversas cidades e Kerouac descreve-as brevemente, nunca enchendo o leitor de detalhes mas sempre falando o suficiente para que possamos vislumbrá-las aos olhos do protagonista. Além disso, parte da viagem é feita por ônibus, parte via caronas (daquelas que envolvem o dedão), e tudo parece lindo. Os carros, os motoristas, os passageiros, os caronistas, os habitantes locais... cruzar os Estados Unidos de carona parece ser a melhor experiência do mundo.

Bom, este primeiro momento engana. A história não é sobre uma viagem, é sobre várias. E não é apenas sobre viagens, é sobre o sonho americano e a liberdade que o Oeste – leia-se Califórnia – oferece.

Sal chega a San Francisco, encontra seu amigo Dean e juntos fazem diversas outras coisas. É um vai e volta entre Leste e Oeste tão grande que em determinado momento você não sabe mais onde eles estão: se em Frisco, Denver ou New York, e no final nem faz diferença, porque onde quer que eles estejam a vida é a mesma.


Passeios noturnos por becos e bares undergrounds tocando o ensandecido bop, garotas loucas para se agarrarem a eles, promessas vãs sobre atravessar o país e construir uma vida nova repleta de sonhos e realizações: é o nascimento do estilo beat de ser e agir.

E num ritmo frenético, numa narrativa simples e sem rodeios, Kerouac consegue filosofar suas loucuras através de Dean e seus pensamentos mais profundos e confusos por Sal.

É exatamente neste momento em que se percebe que o livro o enganou. A história não é sobre viagens ou sobre o sonho americano, é sobre amizade, especificamente a que rola entre Sal e Dean.


O livro é também sobre como o sonho americano é hipócrita, e a melhor maneira de ilustrar isso é copiando aqui um parágrafo do livro, que diz tudo:

“Dean me mostrou outras fotos. De repente percebi que eram essas as fotografias que nossos filhos olhariam algum dia, com espanto, pensando que seus pais tinham vivido vidas ordeiras, tranquilamente, tudo conforme o figurino, e que eles acordariam de manhã para percorrer orgulhosamente as calçadas da vida, sem jamais sonhar com a loucura esfarrapada e a balbúrdia de nossas vidas reais, de nossa noite real, o inferno disso tudo e a estrada do pesadelo sem sentido. Tudo isso num vazio sem começo nem fim. Oh, a santa ignorância dessas pobres crianças.”

A edição da L&PM vale a pena: o preço é de um pocket brasileiro e a edição tem prefácio e posfácio escritos por Eduardo Bueno, grande fã da obra e do autor, além de assinar a tradução para o português. Inclusive no posfácio ele comenta sobre ter ido de New York a Porto Alegre de carona!

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