Por Douglas Vieira
Fundador e líder do grupo alemão de digital hardcore Atari
Teenage Riot, que se apresenta nesta sexta-feira, 15, em São Paulo, o alemão
Alec Empire, 40 anos, é fanático por música – do menos óbvio jazz ao evidente
punk. Mas, ao longo de mais de uma hora ao telefone, falou pouco sobre isso.
Sua atenção – e não é de hoje – está muito voltada para política e,
principalmente, para o uso político da internet. Disso, ele fala muito. E sem
parar.
Alec é um catalisador de ideias libertárias que encontram na
internet um ambiente perfeito para se propagarem e se alimentarem de outros pensamentos.
Mas ele não se limita a pensar. Está sempre ligado à ação.
Sua atuação aparece claramente no que diz em suas letras, no
que exibe em seus vídeos, mas, principalmente, nas posturas que assume.
E, após 10 anos de intervalo nos trabalhos com sua banda,
ele retomou as atividades justamente enquanto o mundo descobria as ideias
defendidas pelo movimento Occupy Wall Street, que rapidamente chegou a diversos
outros lugares além de Nova York.
A internet foi de grande importância para espalhar as ideias
e, entre os vídeos virais que circulavam, estava o da música “Black Flags”, em
que aparecem tanto os manifestantes do OWS como integrantes do Free Anons,
instituição que recebe doações para apoio financeiro a pessoas ligadas ao grupo
hacktivista Anonymous que estão sendo processadas, e que Alec apoia ativamente.
“Em ‘Black Flags’ eu parto do princípio de que o governo
também é parte do problema. E falo de coisas como WikiLeaks e o caso de Bradley
Manning (ex-soldado americano preso e processado por supostamente ter acessado
e divulgado informações sigilosas dos EUA para o WikiLeaks). Crimes verdadeiros
foram expostos por eles e, por isso, tiveram muitos problemas. Não existem
justificativas para esse tipo de coisa”, sentencia.
Para Alec, diferente do uso que muitos artistas costumam
fazer, a internet é mais do que apenas um acumulado de redes sociais para
manter contato e aumentar o número de fãs e seguidores.
Para ele, é uma experiência que viabiliza a liberdade e a
anarquia, em sentidos mais filosóficos – um espaço para se debater e fazer
política, além de ajudar na organização de ações que contestem e investiguem
governos e a própria sociedade.
“Acredito que cada indivíduo tem mais poder do que realmente
sabe. Falta entendermos realmente as possibilidades do que fazemos online”,
explica. “Uma das melhores coisas que vieram com a internet é o fato de as
pessoas aos poucos perceberem que elas podem fazer algo acontecer de verdade”,
explica.
Alec se refere, entre outras ações, às organizações como o
WikiLeaks de Julian Assange e também menciona sites de compartilhamentos de
arquivos – em comum aos dois, existe a atenção especial de instituições como o
FBI.
Desde os primeiros downloads, lá nos tempos de Napster, o
escritório federal de investigação dos EUA tem passado cada vez mais tempo
pensando em maneiras de limitar as ações de troca de conteúdo na rede – o que
pode significar, de certa maneira, limitar drasticamente o fluxo livre de
informações que nasceu com a própria internet.
E isso o músico e ativista alemão considera inaceitável.
“Quanto mais você tenta regular mais você a destrói”, sentencia. “As pessoas
pensam, então precisam assumir a responsabilidade e estimular as mentes
passivas.”
A postura de hoje exemplifica o ativismo que deu projeção ao
Atari Teenage Riot, e consequentemente ao próprio Alec, no início da década de
90, quando usaram recursos tecnológicos para criar melodias extremamente
agressivas.
Era o peso necessário para ilustrar as mensagens
antifascistas e antinazistas que eles cantavam, justamente em uma época em que
pensamentos neonazistas voltavam a ganhar força, principalmente na Europa.
E, hoje, com o que se vê – seja em comentários em sites e
blogs ou em grupos declaradamente de intolerância, entre inúmeros outros
exemplos – é que esse tipo de pensamento infelizmente ainda tem vocação para
crescer.
“Você pode ser quem você quiser na internet. Pode até ser um
imbecil, que escreve coisas estúpidas. Mas sempre defenderei uma sociedade em
que a internet seja livre e de graça”, conclui.
Para chegar a essa conclusão, Alec parte do que considera um
importante papel da rede: “O primeiro argumento dos conservadores que acreditam
que a internet deve ser regulada é o suposto crescimento de coisas como a
pornografia infantil”, diz, para em seguida contestar.
“Vejo de maneira muito diferente. Há 20 anos, eu não tinha
ideia de que havia tantos pedófilos investindo tempo e dinheiro nesse crime
horrível. Então acredito que a internet não é um caminho para incentivar esse
tipo de coisa. É um meio para as pessoas perceberem mais profundamente o
problema, terem a dimensão de que é maior do que parece. A luz no fim do túnel
é uma tela de computador”.
Serviço
Atari Teenage Riot, no Cine Joia. Pça. Carlos Gomes, 82,
metrô Liberdade,
(11) 3231-3705
Sexta-feira (15), 23h (abertura da casa: 21h). R$ 60/R$ 120.
Informações: www.cinejoia.tv
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