Andréa Zílio
A poesia foi seu passaporte para a filosofia e a música. Aos poucos ele descobriu que além da escrita era bom também com a voz. Canções que ficaram conhecidas nas vozes de outros cantores da Amazônia, como Nilson Chaves, Sérgio Souto, entre outros, hoje são interpretadas pelo próprio criador das obras.
Para mostrar essa diversidade de riqueza nas letras e a magia de vários ritmos, Eliakin Rufino, 47 anos, volta ao Acre depois de participar do Festival Acreano de Música Popular (Famp) para gravar o CD do evento e realizar dois shows que prometem qualidade e diversão.
O bom-humor o acompanha em todos os momentos, o que não lhe permite ficar sem um sorriso no rosto. O professor, poeta, cantor e compositor nasceu
Depois de muito tempo debruçado no papel e na caneta e dando aulas de filosofia na Universidade Federal de Roraima, ele percebeu que suas obras estavam ganhando voz ao serem transformadas em canções por diversos artistas.
Seu último livro, Poeta de Água Doce, lançado em 1998, foi todo musicado. Percebeu então que seu conhecimento com o violão e a filosofia lhe permitia dar mais riqueza e musicalidade a tudo que escrevia.
Os poemas eram na verdade grandes canções a espera de melodias. “A filosofia e o violão me deram mais bagagem teórica, preparo intelectual e diversidade de ritmos. Fiz filosofia não para seguir carreira, mas para ser um bom artista”.
Em 1997, Eliakin conseguiu solidificar o primeiro trabalho na nova fase com o CD Amazônia Legal. Em 1998, deu continuidade com o CD Me Toca. Nos últimos quatros anos participou de vários trabalhos de outros cantores.
Nos planos para 2004, o artista pretende gravar seu novo CD junto ao lançamento de mais um livro. Diz que desde a gravação do primeiro pretende manter a unificação dos dois trabalhos porque um faz parte do outro.
As letras dos poemas musicais de Eliakin percorrem por uma temática livre, mas ele não esconde que os prediletos são os que abordam como temas a liberdade e os direitos humanos, a natureza e as críticas sociais que consegue fazer de maneira humorada.
Um trabalho social que dá orgulho ao artista e está sendo conhecido pelo Brasil é a versão poética que deu ao Estatuto da Criança e do Adolescente, onde 5 mil exemplares foram impressos e distribuídos
Um poeta de voz, Eliakin vai mostrar todo seu talento e experiência adquiridos com um trabalho solidificado pela crítica e aceito por colegas artistas de renome em duas únicas apresentações no Estado. Na quinta-feira, ele faz uma participação especial a partir das 23 horas, no bar da Malu, junto à banda Gaia. No sábado, ainda com a banda, ele se apresenta a partir das 21 horas na Casa da Gameleira, prometendo uma apresentação de qualidade, diversidade e muita animação, numa viagem a ritmos variados.
(Fonte: jornal Página 20, de 8 de janeiro de 2004)
mosquito da malária
hoje quem defende a amazônia
é o mosquito da malária
se não fosse esse mosquito
a floresta virava palha
salve salve salve ele
viva sua febre incendiária
o maior ecologista da amazônia
é o mosquito da malária
não adianta sucam
jogar ddt na sua área
super-defensor da amazônia
é o mosquito da malária
o caboclo e o rio
uma luz no meio do rio
é um caboclo pescador
não tem roupa não tem frio
não tem fome nem calor
só tem olhos para o rio
só conhece tempo bom
sabe o segredo dos peixes
a pescaria é seu dom
pescador de piraíba
quando sai para pescar
só sabe a hora da ida
não tem hora de voltar
uma luz no meio do rio
de repente se apagou
mas o povo crê e conta
o caboclo se encantou
no lugar que ele sumiu
quem passa a noite por lá
vai ver no fundo do rio
uma lamparina acesa
que nunca vai se apagar
água viva
água bate no barranco
água clara do rio branco
água bate na canoa
água mansa água boa
terras caídas no rio
no fio da correnteza
água barrenta água lenta
água mãe água deusa
água calma de remanso
é minha voz quanto canto
água viva de banzeiro
é meu corpo inteiro
perigo
as garças não sabem da guerra
os peixes não sabem do míssel
marrecas repousam
na calma do lago
nenhum maguarí sabe a dor do canhão
os peixes não pensam nos homens
as aves não sabem das armas
arraias descansam
na praia da ilha
nenhum bem-te-vi vê a televisão
animais do ar
da água e do chão
não sabem da guerra
não sabem o perigo
da vida na terra
animais do ar
da água e do chão não sabem da guerra
pensam
que é só um trovão
o sonho do xamã
um xamã yanomami sonhou
que a fumaça da civilização
abriria um buraco no céu
e o céu cairia no chão
o xamã resolveu avisar
o que o sonho queria dizer
mas ninguém parou pra escutar
pouca gente tentou entender
muito tempo depois deste sonho
a ciência pode então descobrir
que o buraco na camada de ozônio
é por onde o céu pode cair
o meu sonho é que nada aconteça
que a vida não tenha final
que o xamã não desapareça
que o sonho não seja real
sentimentos cintilantes
as estrelas que flutuam nesse rio
são os olhos das serpentes encantadas
cobras grandes habitantes dessas águas
e estas luzes que vagueiam pelas praias
claridades de paixão e de areia
são meus olhos
encharcando o chão das várzeas
são de alegria estas lágrimas brilhantes
são diamantes que meus olhos choram
são loucos sentimentos cintilantes
buritizeiro
buritizeiro do norte
que nasce em qualquer lugar
nós temos a mesma sorte
viver a vida a cantar
tu cantas com o vento forte
eu canto na calmaria
canto o silêncio do campo
tu cantas na ventania
buritizeiro meu canto
no campo vou espalhar
tu cantas pra eu dormir
eu canto pra te acordar
buritizeiro meu mano
teu vinho quero beber
aí nós vamos cantar
até o dia nascer
eu sou palmeira do campo
o vento é meu companheiro
eu vivo porque eu canto
eu sou buritizeiro
vida e morte
a certeza da morte não me assusta
o que virá depois não me faz medo
quero a vida na medida justa
do tamanho do mistério e do segredo
quero esconder o sol no solo frio
na hora de dormir dentro da terra
joguem sobre meu corpo pingos do rio
enterrem meu coração no pé da serra
eu sei que certamente a morte vem
arrancar a vida pela raiz
mas a certeza de saber que morrerei
faz a minha vida mais feliz
cavalo selvagem
eu sou cavalo selvagem
não sei o peso da sela
não tenho freio nos beiços
nem cabresto
nem marca de ferro quente
não tenho crina cortada
não sou bicho de curral
eu sou cavalo selvagem
meu pasto é o campo sem fim
para mim não existe cerca
sigo somente o capim
eu sou cavalo selvagem
selvagem é minha alegria
de ser livre noite e dia
selvagem é só apelido
meu nome é mesmo cavalo
cavalo solto no pasto
veloz carreira que faço
lavrado todo atravesso
caminhos no campo eu traço
eu corro livre galope
transformo galope em verso
eu sou cavalo selvagem
sou garanhão neste campo
eu sou rebelde alazão
sou personagem de lendas
sou conversa nas fazendas
sou filho livre do chão
eu sou cavalo selvagem
meu mundo é a imensidão
capivara
A capivara pára captando sinais de perigo!
(perigo!)
A capivara intuitivamente sente
(intuitivamente sente)
A sorrateira presença matreira do homem armado
(cuidado!)
A capivara dá um grito: uh!uh!
E salta pra longe do alcance do soco
e da possibilidade do tiro!
(cuidado! perigo!)
brincando de esfinge
tu me decifras
eu te devoro
5 comentários:
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esse blog esta mais ou menos
Adorei
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