Pesquisar este blog

quinta-feira, setembro 06, 2012

A lambança dos três patetas



A pior bancada de senadores amazonenses da História, segundo Eduardo Ribeiro

Cesário Camelo (*)
Do Club dos Terríveis

De 2003 a 2010, o Amazonas era representado no Senado por um trio de ferro formado por autênticos cabocos dos pés rachados, que defendiam com galhardia todos os ataques desfechados contra a Zona Franca de Manaus.

Nascido em Lábrea, Gilberto Mestrinho era o maestro da equipe, dosando experiência, visão estratégica e catimba para cadenciar o jogo na medida certa e impor respeito aos adversários.

Nascido em Manaus, Jefferson Péres era o estilista da trinca, aquele que desarmava os adversários sem fazer falta, valendo-se do brilhantismo de seu discurso e de um apurado senso ético e republicano.

Nascido em Manaus, Artur Neto era o aguerrido volante de contenção, que não tinha medo de cara feia, não fugia das divididas, encarava qualquer adversário de igual pra igual e, se preciso fosse, era capaz de interromper o jogo no plenário mediante o artifício legítimo da obstrução.

A coisa começou a degringolar a partir de 2006, quando Gilberto Mestrinho foi substituído pelo potiguar Alfredo Nascimento, que logo trocou o senado para traficar influência no Ministério dos Transportes.

Em 2008, Jefferson Peres atravessou o espelho de Alice.

Considerado uma referência ética no Senado Federal, ele cumpria o segundo mandato pelo PDT do Amazonas e era líder da agremiação no Senado.

Dois anos depois, sua vaga seria ocupada pelo paraense Eduardo Braga, que logo pavoneou-se todo para ser ministro, mas foi abatido em pleno voo pelos velhos caciques de seu próprio partido.

Em 2009, Gilberto Mestrinho atravessou o espelho de Alice e foi se encontrar com Jefferson Peres.

No ano seguinte, em meio a uma das maiores fraudes eleitorais da história, Artur Neto perdeu seu posto para a catarinense Vanessa Grazziotin, que com menos de dois anos no cargo já quer deixar o senado para ser prefeita de Manaus.

No início do ano passado, conversei longamente com os senadores Gilberto Mestrinho e Jefferson Peres durante um luau na catacumba do governador Eduardo Ribeiro, ali no cemitério São João Batista.

Os dois senadores e o governador estavam convencidos de que essa é a pior bancada senatorial da história do Amazonas desde os tempos do Império, opinião corroborada por Fran Pacheco.

– Historicamente, o Amazonas sempre teve dois senadores de situação e um senador de oposição para equilibrar o jogo! – explicou Eduardo Ribeiro. “Antes do golpe militar, nossos senadores eram Vivaldo Lima e Antovila Rodrigues, da situação, e Artur Virgilio Filho, da oposição.

– Mas mesmo após o golpe militar o quadro não mudou muito, governador! – recordou Fran Pacheco. “Nós tivemos os senadores Flávio Brito e Álvaro Maia, da situação, e José Esteves, da oposição. Depois, José Lindoso e João Braga Jr., da situação, e Evandro Carreira, da oposição. Depois, Eunice Michiles e Raimundo Parente, da situação, e Fábio Lucena, da oposição. No governo FHC, a gente tinha Bernardo Cabral e Gilberto Miranda, da situação, e Jefferson Peres, da oposição. No governo Lula, a gente tinha Gilberto Mestrinho e Jefferson Peres, da situação, e Artur Neto, da oposição. Somente no governo Dilma, pela primeira vez na história, os três senadores são da situação. Como diria o Boris Casoy, uma vergonha!

– Com três “amazonenses falsificados” extremamente subservientes à presidente Dilma, não sobrou ninguém para defender os legítimos interesses do Amazonas no Senado! – afirmou, com sua voz rouquenha, o governador Eduardo Ribeiro. “Estava na cara que a Zona Franca de Manaus seria esvaziada. Era só uma questão de tempo...”

A morte anunciada ocorreria em setembro de 2011, com a aprovação da MP 534/11.

Recapitulemos, então.


Os tablets foram apresentados ao mundo no início de 2010, com o lançamento do iPad, da Apple, considerado a última grande criação do genial Steve Jobs.

Trata-se de um gadget em forma de prancheta eletrônica, sem teclado e com tela sensível ao toque.

Para ter uma ideia de como é um, basta pensar em um “iPhone gigante”, com tela entre 7 e 10 polegadas.

Todos os tablets já vem com conexão Wi-Fi e alguns também usam conexão 3G.

O principal foco dos tablets está no acesso à internet.

Navegação na web, e-mail e leitura e edição de documentos simples são algumas das principais atividades que podem ser feitas com eles.

Além disso, é possível assistir a vídeos, ver fotos, ler livros e ouvir músicas.

Devido a limitações de poder de processamento e interface, não é viável trabalhar com programas pesados, como o Photoshop ou abrir arquivos pesados de aplicativos como Word, Excel e PowerPoint.

Outro grande apelo dos tablets são os aplicativos.

Esses programas permitem acessar notícias e redes sociais em uma interface mais confortável, entre outras tarefas.

Há aplicativos para as mais diversas funções, desde simuladores de guitarra e bateria até programas para ensino de química e biologia.

O iPad, por ter sido o pioneiro, é o tablet que tem o maior número de aplicativos


Em abril de 2011, durante uma viagem à China, a presidente Dilma Rousseff se reuniu com o presidente da multinacional Foxconn, que foi fundada em Taiwan, mas concentra suas operações na China.

A Foxconn, que fabrica produtos da Apple em regime de terceirização na China, anunciou a Dilma a intenção de investir US$ 25 bilhões no Brasil em até 5 anos para a produção de iPads, estimando gerar 100 mil empregos no país.

Como o tablet é um gadget que se encontra entre o Smartphone e o notebook, ele não se enquadrava nem na Lei de Informática (não era um computador) nem no Regime Especial da Zona Franca (não era um Smartphone).

A solução foi criar uma nova lei de incentivos para o gadget – e a presidente editou a Medida Provisória 534/11, de 20 de maio de 2011.

O Projeto de Lei de Conversão 23/11, decorrente da Medida Provisória 534/11, incluiu os tablets na Lei 11.196/05, conhecida como Lei do Bem, reduzindo a zero as alíquotas da contribuição para o PIS e Cofins incidentes sobre a receita bruta da venda a varejo desses produtos.

Com sua inclusão nos incentivos fiscais do Programa de Inclusão Digital (PID), o governo federal pretendia reduzir em mais de 30% o preço final do produto ao consumidor.

Relator da proposta no Senado, o senador Eduardo Braga (PMDB-AM) foi autor da emenda aprovada na Câmara que alterou as especificações do produto, incluindo a ressalva de que os aparelhos não podem possuir “função de controle remoto”, sugerida por ele.

Se o que caracteriza o tablet é a tela sensível ao toque pra que diabos alguém fabricaria um iPad com controle remoto?!

Bom, Eduardo Braga é engenheiro eletricista... Não se pode pedir a um sapateiro que toque rabecão...

Sua emenda teve tanta importância quanto instalar cinzeiros em motocicletas.

Com a mudança sugerida pelo senador cripto-amazonense, os tablets passaram a ser classificados como “máquinas de processamento de dados, portáteis, sem teclado, que tenham uma unidade central de processamento com entrada e saída de dados por meio de uma tela sensível ao toque de área superior a 140 e inferior a 600 cm² e que não possuam função de comando remoto”.   

O detalhamento das especificações era uma preocupação dos parlamentares amazonenses.

Eles supostamente lutavam para evitar a ampliação do benefício fiscal às telas de celulares e de televisores fabricadas em outras regiões do país, assegurando assim a competitividade das indústrias instaladas no Polo Industrial de Manaus, que fabricam esses produtos e já recebem outros incentivos.

Na hora da votação, Vanessa foi tomar um cafezinho e Alfredo foi receber uma comissão do Ministério dos Transportes.

No frigir dos ovos, os três fizeram um belíssimo gol contra com a marca da subserviência.

Tivessem uma visão mínima de estadistas e uma preocupação comezinha com as novas gerações, nossos senadores teriam brigado para os tablets serem fabricados na ZFM abrindo mão de todos os demais benefícios fiscais já em vigor – e ameaçando, veladamente, que, em caso de negativa, o Amazonas poderia deixar de ser o guardião perpétuo da maior floresta tropical do planeta...

Afinal de contas, para que preservar esse imenso território a troco de nada?

Ok, vamos supor que a presidente Dilma Rousseff topasse o negócio.

Seria o fim do polo de eletroeletrônicos, do polo de duas rodas, do polo de celulares, do polo de... O que mais mesmo que ainda está sendo feito na ZFM?... Ah, sim, do polo de fitoterápicos...

Qualquer primeiranista de Economia está convencido de que todas essas empresas poderiam fechar as portas em Manaus e ir cantar em outra freguesia desde que a ZFM se tornasse o único lugar no território nacional a conceder benefícios fiscais para a produção de tablets.


Examinemos o caso da Foxconn, que decidiu se instalar na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Sabe-se que três ou quatro plantas fabris fazem parte do plano de investimentos da companhia no país, que deve superar, até 2019, US$ 12 bilhões.

A presença da companhia com as novas fábricas no país deve gerar cerca de 100 mil empregos diretos, sendo 20 mil para engenheiros e 15 mil para técnicos.

A Foxconn e suas empresas satélites vão gerar em Belo Horizonte mais empregos do que as atuais 500 empresas instaladas no PIM ao longo de 45 anos.

Isso porque várias empresas devem integrar o complexo tecnológico da multinacional chinesa, de maneira a contemplar parte considerável da cadeia produtiva do material necessário à montagem do tablet.

A EBX, de Eike Batista, por exemplo, já anunciou seu interesse em investir US$ 2,5 bilhões em uma fábrica de telas para o iPad, também Minas Gerais.

A Foxconn tem 1 milhão de funcionários em todo o mundo, fatura US$ 100 bilhões e exporta US$ 86 bilhões.

A perspectiva é de que, a exemplo de experiências similares em Taiwan e nos Estados Unidos, a Foxconn consiga atrair mais de 200 empresas para seu entorno, gerando empregos diretos e indiretos de uma mão de obra altamente qualificada de engenheiros, cientistas, mestres e Phds em eletrônica, química e física, entre outras.

Fica claro, então, que se a Região Metropolitana de Manaus se transformasse em berço exclusivo da nascente e promissora indústria de tablets, todas as empresas do setor espalhadas pelo país se transfeririam de mala e cuia para a nossa aldeia, praticamente duplicando o número de empregos existentes hoje no Polo Industrial de Manaus.

Aí, sim, valeria a pena continuar preservando a Amazônia.

Em resumo, foi disso que a ZFM abriu mão ao apoiar bovinamente o PLC 23/11, que teve como relator o líder do governo no Senado, senador Eduardo Braga.

Eduardo Ribeiro, Gilberto Mestrinho e Jefferson Peres tem razão de estarem se mexendo em seus túmulos.


(*) Cesário Camelo é um espírito-de-porco, que está sentado ao lado esquerdo de Steve Jobs, além e acima da manada

Nenhum comentário: