A pior bancada de
senadores amazonenses da História, segundo Eduardo Ribeiro
Cesário Camelo (*)
Do Club dos
Terríveis
De 2003 a 2010, o Amazonas era representado no Senado por um
trio de ferro formado por autênticos cabocos dos pés rachados, que defendiam
com galhardia todos os ataques desfechados contra a Zona Franca de Manaus.
Nascido em Lábrea, Gilberto Mestrinho era o maestro da
equipe, dosando experiência, visão estratégica e catimba para cadenciar o jogo na
medida certa e impor respeito aos adversários.
Nascido em Manaus, Jefferson Péres era o estilista da
trinca, aquele que desarmava os adversários sem fazer falta, valendo-se do
brilhantismo de seu discurso e de um apurado senso ético e republicano.
Nascido em Manaus, Artur Neto era o aguerrido volante de
contenção, que não tinha medo de cara feia, não fugia das divididas, encarava
qualquer adversário de igual pra igual e, se preciso fosse, era capaz de
interromper o jogo no plenário mediante o artifício legítimo da obstrução.
A coisa começou a degringolar a partir de 2006, quando
Gilberto Mestrinho foi substituído pelo potiguar Alfredo Nascimento, que logo
trocou o senado para traficar influência no Ministério dos Transportes.
Em 2008, Jefferson Peres atravessou o espelho de Alice.
Considerado uma referência ética no Senado Federal, ele
cumpria o segundo mandato pelo PDT do Amazonas e era líder da agremiação no
Senado.
Dois anos depois, sua vaga seria ocupada pelo paraense Eduardo
Braga, que logo pavoneou-se todo para ser ministro, mas foi abatido em pleno
voo pelos velhos caciques de seu próprio partido.
Em 2009, Gilberto Mestrinho atravessou o espelho de Alice e
foi se encontrar com Jefferson Peres.
No ano seguinte, em meio a uma das maiores fraudes
eleitorais da história, Artur Neto perdeu seu posto para a catarinense Vanessa
Grazziotin, que com menos de dois anos no cargo já quer deixar o senado para
ser prefeita de Manaus.
No início do ano passado, conversei longamente com os
senadores Gilberto Mestrinho e Jefferson Peres durante um luau na catacumba do
governador Eduardo Ribeiro, ali no cemitério São João Batista.
Os dois senadores e o governador estavam convencidos de que
essa é a pior bancada senatorial da história do Amazonas desde os tempos do
Império, opinião corroborada por Fran Pacheco.
– Historicamente, o Amazonas sempre teve dois senadores de
situação e um senador de oposição para equilibrar o jogo! – explicou Eduardo
Ribeiro. “Antes do golpe militar, nossos senadores eram Vivaldo Lima e Antovila
Rodrigues, da situação, e Artur Virgilio Filho, da oposição.
– Mas mesmo após o golpe militar o quadro não mudou muito,
governador! – recordou Fran Pacheco. “Nós tivemos os senadores Flávio Brito e Álvaro
Maia, da situação, e José Esteves, da oposição. Depois, José Lindoso e João
Braga Jr., da situação, e Evandro Carreira, da oposição. Depois, Eunice
Michiles e Raimundo Parente, da situação, e Fábio Lucena, da oposição. No
governo FHC, a gente tinha Bernardo Cabral e Gilberto Miranda, da situação, e
Jefferson Peres, da oposição. No governo Lula, a gente tinha Gilberto Mestrinho
e Jefferson Peres, da situação, e Artur Neto, da oposição. Somente no governo
Dilma, pela primeira vez na história, os três senadores são da situação. Como
diria o Boris Casoy, uma vergonha!
– Com três “amazonenses falsificados” extremamente subservientes
à presidente Dilma, não sobrou ninguém para defender os legítimos interesses do
Amazonas no Senado! – afirmou, com sua voz rouquenha, o governador Eduardo Ribeiro.
“Estava na cara que a Zona Franca de Manaus seria esvaziada. Era só uma questão
de tempo...”
A morte anunciada ocorreria em setembro de 2011, com a
aprovação da MP 534/11.
Recapitulemos, então.
Os tablets foram apresentados ao mundo no início de 2010,
com o lançamento do iPad, da Apple, considerado a última grande criação do
genial Steve Jobs.
Trata-se de um gadget em forma de prancheta eletrônica, sem
teclado e com tela sensível ao toque.
Para ter uma ideia de como é um, basta pensar em um “iPhone
gigante”, com tela entre 7 e 10 polegadas.
Todos os tablets já vem com conexão Wi-Fi e alguns também usam conexão 3G.
O principal foco dos tablets está no acesso à internet.
Navegação na web, e-mail e leitura e edição de documentos
simples são algumas das principais atividades que podem ser feitas com eles.
Além disso, é possível assistir a vídeos, ver fotos, ler
livros e ouvir músicas.
Devido a limitações de poder de processamento e interface,
não é viável trabalhar com programas pesados, como o Photoshop ou abrir
arquivos pesados de aplicativos como Word, Excel e PowerPoint.
Outro grande apelo dos tablets são os aplicativos.
Esses programas permitem acessar notícias e redes sociais em
uma interface mais confortável, entre outras tarefas.
Há aplicativos para as mais diversas funções, desde
simuladores de guitarra e bateria até programas para ensino de química e
biologia.
O iPad, por ter sido o pioneiro, é o tablet que tem o maior
número de aplicativos
Em abril de 2011, durante uma viagem à China, a presidente
Dilma Rousseff se reuniu com o presidente da multinacional Foxconn, que foi
fundada em Taiwan, mas concentra suas operações na China.
A Foxconn, que fabrica produtos da Apple em regime de
terceirização na China, anunciou a Dilma a intenção de investir US$ 25 bilhões
no Brasil em até 5 anos para a produção de iPads, estimando gerar 100 mil
empregos no país.
Como o tablet é um gadget que se
encontra entre o Smartphone e o notebook, ele não se enquadrava nem na Lei de
Informática (não era um computador) nem no Regime Especial da Zona Franca (não
era um Smartphone).
A solução foi criar uma nova lei
de incentivos para o gadget – e a presidente editou a Medida Provisória 534/11,
de 20 de maio de 2011.
O Projeto de Lei de Conversão 23/11, decorrente da Medida
Provisória 534/11, incluiu os tablets na Lei 11.196/05, conhecida como Lei do
Bem, reduzindo a zero as alíquotas da contribuição para o PIS e Cofins
incidentes sobre a receita bruta da venda a varejo desses produtos.
Com sua inclusão nos incentivos fiscais do Programa de
Inclusão Digital (PID), o governo federal pretendia reduzir em mais de 30% o
preço final do produto ao consumidor.
Relator da proposta no Senado, o senador Eduardo Braga
(PMDB-AM) foi autor da emenda aprovada na Câmara que alterou as especificações
do produto, incluindo a ressalva de que os aparelhos não podem possuir “função
de controle remoto”, sugerida por ele.
Se o que caracteriza o tablet é a tela sensível ao toque pra
que diabos alguém fabricaria um iPad com controle remoto?!
Bom, Eduardo Braga é engenheiro eletricista... Não se pode
pedir a um sapateiro que toque rabecão...
Sua emenda teve tanta importância quanto instalar cinzeiros
em motocicletas.
Com a mudança sugerida pelo senador cripto-amazonense, os
tablets passaram a ser classificados como “máquinas de processamento de dados,
portáteis, sem teclado, que tenham uma unidade central de processamento com
entrada e saída de dados por meio de uma tela sensível ao toque de área
superior a 140 e inferior a 600 cm² e que não possuam função de comando
remoto”.
O detalhamento das especificações era uma preocupação dos
parlamentares amazonenses.
Eles supostamente lutavam para evitar a ampliação do
benefício fiscal às telas de celulares e de televisores fabricadas em outras
regiões do país, assegurando assim a competitividade das indústrias instaladas
no Polo Industrial de Manaus, que fabricam esses produtos e já recebem outros
incentivos.
Na hora da votação, Vanessa foi tomar um cafezinho e Alfredo
foi receber uma comissão do Ministério dos Transportes.
No frigir dos ovos, os três fizeram um belíssimo gol contra
com a marca da subserviência.
Tivessem uma visão mínima de estadistas e uma preocupação
comezinha com as novas gerações, nossos senadores teriam brigado para os
tablets serem fabricados na ZFM abrindo mão de todos os demais benefícios
fiscais já em vigor – e ameaçando, veladamente, que, em caso de negativa, o
Amazonas poderia deixar de ser o guardião perpétuo da maior floresta tropical
do planeta...
Afinal de contas, para que preservar esse imenso território
a troco de nada?
Ok, vamos supor que a presidente Dilma Rousseff topasse o
negócio.
Seria o fim do polo de eletroeletrônicos, do polo de duas
rodas, do polo de celulares, do polo de... O que mais mesmo que ainda está
sendo feito na ZFM?... Ah, sim, do polo de fitoterápicos...
Qualquer primeiranista de Economia está convencido de que
todas essas empresas poderiam fechar as portas em Manaus e ir cantar em outra
freguesia desde que a ZFM se tornasse o único lugar no território nacional a
conceder benefícios fiscais para a produção de tablets.
Examinemos o caso da Foxconn, que decidiu se instalar na
Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Sabe-se que três ou quatro plantas fabris fazem parte do plano de investimentos da companhia no país, que deve superar, até 2019, US$ 12 bilhões.
A presença da companhia com as novas fábricas no país deve
gerar cerca de 100 mil empregos diretos, sendo 20 mil para engenheiros e 15 mil
para técnicos.
A Foxconn e suas empresas satélites vão gerar em Belo
Horizonte mais empregos do que as atuais 500 empresas instaladas no PIM ao
longo de 45 anos.
Isso porque várias empresas devem integrar o complexo
tecnológico da multinacional chinesa, de maneira a contemplar parte
considerável da cadeia produtiva do material necessário à montagem do tablet.
A EBX, de Eike Batista, por exemplo, já anunciou seu
interesse em investir US$ 2,5 bilhões em uma fábrica de telas para o iPad, também
Minas Gerais.
A Foxconn tem 1 milhão de funcionários em todo o mundo,
fatura US$ 100 bilhões e exporta US$ 86 bilhões.
A perspectiva é de que, a exemplo de experiências similares
em Taiwan e nos Estados Unidos, a Foxconn consiga atrair mais de 200 empresas
para seu entorno, gerando empregos diretos e indiretos de uma mão de obra
altamente qualificada de engenheiros, cientistas, mestres e Phds em eletrônica,
química e física, entre outras.
Fica claro, então, que se a Região Metropolitana de Manaus
se transformasse em berço exclusivo da nascente e promissora indústria de
tablets, todas as empresas do setor espalhadas pelo país se transfeririam de
mala e cuia para a nossa aldeia, praticamente duplicando o número de empregos
existentes hoje no Polo Industrial de Manaus.
Aí, sim, valeria a pena continuar preservando a Amazônia.
Em resumo, foi disso que a ZFM abriu mão ao apoiar
bovinamente o PLC 23/11, que teve como relator o líder do governo no Senado,
senador Eduardo Braga.
Eduardo Ribeiro, Gilberto Mestrinho e Jefferson Peres tem
razão de estarem se mexendo em seus túmulos.
(*) Cesário Camelo é um espírito-de-porco, que está sentado ao lado esquerdo de Steve Jobs, além e acima da manada
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