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segunda-feira, setembro 24, 2012

Comparar Getúlio Vargas a Lula é um insulto à memória do presidente suicida



Augusto Nunes

Uma nota oficial encomendada por Lula, redigida por Rui Falcão e subscrita por seis presidentes de partidos governistas comunicou à nação ─ no meio do palavrório que enfileira falsidades, safadezas e vigarices ─ que está em curso uma trama política semelhante à que resultou no suicídio de Getúlio Vargas.

Conversa fiada, resumiu o comentário de 1 minuto para o site de VEJA.

Só um ajuntamento de palermas, oportunistas e casos de polícia conseguiria vislumbrar conspiradores em ação nos três partidos oposicionistas mais dóceis da história.

Só um bando de cretinos fundamentais ousaria confundir Aécio Neves com Carlos Lacerda, Geraldo Alckmin com Afonso Arinos ou tucanos em sossego no poleiro com militares sublevados nos quartéis.

E apenas sócios remidos do clube dos cafajestes se atreveriam a comparar Luiz Inácio Lula da Silva a Getúlio Dornelles Vargas.

Coerentes com a folha corrida de cada um, os signatários do besteirol fuzilaram sem clemência, e sem vestígios de rubor na face, a memória do gaúcho que governou o Brasil por quase 20 anos.

“Querem fazer comigo o que fizeram com Getúlio Vargas”, recita o palanque ambulante sempre que se mete em enrascadas de grosso calibre.

“Assim foi em 1954, quando inventaram um ‘mar de lama’ para derrubar o presidente Vargas”, reincidiram nesta quinta-feira os carrascos da verdade escalados para o espetáculo da vassalagem.

Alguém precisa contar-lhes aos gritos que foi o próprio Getúlio quem usou pela primeira vez a expressão “mar de lama”.

Alguém precisa ordenar-lhes aos berros que parem de estuprar os fatos para fabricar mentiras eleitoreiras.

Na versão malandra do PT e seus parceiros alugados, a procissão de escândalos que afronta os brasileiros honestos desde a descoberta do mensalão não passa de invencionice dos netos da UDN golpista, que se valem de estandartes moralistas para impedir que outro pai dos pobres se mantenha no poder.

Se a oposição não sofresse de afasia medrosa, a confraria dos 171 já teria aprendido que não há qualquer parentesco entre os dois Brasis.

E não se animaria a inventar semelhanças entre figuras antagônicas.


Em agosto de 1954, Getúlio Vargas era sistematicamente hostilizado por adversários que negavam até cumprimentos protocolares ao ex-ditador que voltara ao poder pela rota das urnas.

Não há uma única foto do presidente ao lado de Carlos Lacerda.

Passados quase 60 anos, Lula e Dilma lidam com adversários que fizeram a opção preferencial pela covardia e inventaram a oposição a favor.

Muitos merecem cadeiras cativas na Irmandade dos Amigos do Cara, dirigida por velhas abjeções que Lula combateu até descobrir que todos nasceram uns para os outros.

Há 58 anos, surpreendido por delinquências praticadas às suas costas, acuado pela feroz oposição parlamentar, sitiado por ódios decorrentes dos horrores do Estado Novo, desafiado por oficiais rebeldes, traído por comandantes militares, abalado pela deserção dos aliados, Getúlio preferiu a morte à capitulação humilhante.

No Ano 10 da Era da Mediocridade, o Grande Pastor do rebanho lulopetista só é ameaçado pelo Código Penal, por um STF disposto a cumprir a lei e pela incapacidade de aceitar imposições do destino.

Neste começo de primavera, o que se vê é um populista que se nega a encarar a aproximação do inverno.

Os truques do animador de comício não surpreendem mais ninguém.

Tornaram-se enfadonhos.


Lula é uma caricatura de si próprio.

É uma lenda precocemente no ocaso.

Daqui a algum tempo, será um asterisco nos livros de história que nunca leu.

Getúlio perdeu a disposição de resistir ao constatar que, sem saber, convivera com criminosos.

Na última reunião do ministério, foi defendido por figuras como Oswaldo Aranha e Tancredo Neves.

Lula defendeu a permanência de Antonio Palocci e José Dirceu no primeiro escalão infestado de corruptos.

E tenta o tempo todo livrar da cadeia bandidos de estimação para mantê-los a seu lado.

Depois de tentar inutilmente adiar o julgamento do mensalão, faz o que pode para pressionar ministros que nomeou, desqualificar a Justiça e impedir a consumação do castigo.

Há uma semana, o protetor de pecadores foi empurrado para o meio do pântano pelas revelações de Marcos Valério divulgadas por VEJA.

Em vez de rebater as acusações e interpelar judicialmente o acusador, o mais loquaz dos palanqueiros emudeceu.

Entre amigos, gasta a voz debilitada em insultos a ministros do Supremo, mensaleiros trapalhões ou advogados ineptos ─ e promete, de meia em meia hora, vinganças tremendas.

Em público, pede votos para candidatos amigos e calunia concorrentes.

O suicídio de Vargas, reiterei há um ano, foi um ato de coragem protagonizado pelo político que errou muito e cometeu pecados graves, mas nunca transigiu com roubalheiras, nunca barganhou com assaltantes de cofres públicos nem foi coiteiro de ladrões.

Lula fez da corrupção endêmica um estilo de governo e um instrumento de poder.

O tiro disparado na manhã de 24 de agosto de 1954 atingiu o coração de um homem honrado.

Um saiu da vida para entrar na história.

Outro ficará na história como quem caiu na vida.

Getúlio matou-se por ter vergonha na cara.

Lula morrerá sem saber o que é isso.

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