Augusto Nunes
Uma nota oficial encomendada por Lula, redigida por Rui
Falcão e subscrita por seis presidentes de partidos governistas comunicou à
nação ─ no meio do palavrório que enfileira falsidades, safadezas e vigarices ─
que está em curso uma trama política semelhante à que resultou no suicídio de Getúlio
Vargas.
Conversa fiada, resumiu o comentário de 1 minuto para o site
de VEJA.
Só um ajuntamento de palermas, oportunistas e casos de
polícia conseguiria vislumbrar conspiradores em ação nos três partidos
oposicionistas mais dóceis da história.
Só um bando de cretinos fundamentais ousaria confundir Aécio
Neves com Carlos Lacerda, Geraldo Alckmin com Afonso Arinos ou tucanos em
sossego no poleiro com militares sublevados nos quartéis.
E apenas sócios remidos do clube dos cafajestes se
atreveriam a comparar Luiz Inácio Lula da Silva a Getúlio Dornelles Vargas.
Coerentes com a folha corrida de cada um, os signatários do
besteirol fuzilaram sem clemência, e sem vestígios de rubor na face, a memória
do gaúcho que governou o Brasil por quase 20 anos.
“Querem fazer comigo o que fizeram com Getúlio Vargas”,
recita o palanque ambulante sempre que se mete em enrascadas de grosso calibre.
“Assim foi em 1954, quando inventaram um ‘mar de lama’ para
derrubar o presidente Vargas”, reincidiram nesta quinta-feira os carrascos da
verdade escalados para o espetáculo da vassalagem.
Alguém precisa contar-lhes aos gritos que foi o próprio
Getúlio quem usou pela primeira vez a expressão “mar de lama”.
Alguém precisa ordenar-lhes aos berros que parem de estuprar
os fatos para fabricar mentiras eleitoreiras.
Na versão malandra do PT e seus parceiros alugados, a
procissão de escândalos que afronta os brasileiros honestos desde a descoberta
do mensalão não passa de invencionice dos netos da UDN golpista, que se valem
de estandartes moralistas para impedir que outro pai dos pobres se mantenha no
poder.
Se a oposição não sofresse de afasia medrosa, a confraria
dos 171 já teria aprendido que não há qualquer parentesco entre os dois Brasis.
E não se animaria a inventar semelhanças entre figuras
antagônicas.
Em agosto de 1954, Getúlio Vargas era sistematicamente
hostilizado por adversários que negavam até cumprimentos protocolares ao
ex-ditador que voltara ao poder pela rota das urnas.
Não há uma única foto do presidente ao lado de Carlos
Lacerda.
Passados quase 60 anos, Lula e Dilma lidam com adversários
que fizeram a opção preferencial pela covardia e inventaram a oposição a favor.
Muitos merecem cadeiras cativas na Irmandade dos Amigos do
Cara, dirigida por velhas abjeções que Lula combateu até descobrir que todos
nasceram uns para os outros.
Há 58 anos, surpreendido por delinquências praticadas às
suas costas, acuado pela feroz oposição parlamentar, sitiado por ódios
decorrentes dos horrores do Estado Novo, desafiado por oficiais rebeldes,
traído por comandantes militares, abalado pela deserção dos aliados, Getúlio
preferiu a morte à capitulação humilhante.
No Ano 10 da Era da Mediocridade, o Grande Pastor do rebanho
lulopetista só é ameaçado pelo Código Penal, por um STF disposto a cumprir a
lei e pela incapacidade de aceitar imposições do destino.
Neste começo de primavera, o que se vê é um populista que se
nega a encarar a aproximação do inverno.
Os truques do animador de comício não surpreendem mais
ninguém.
Tornaram-se enfadonhos.
Lula é uma caricatura de si próprio.
É uma lenda precocemente no ocaso.
Daqui a algum tempo, será um asterisco nos livros de
história que nunca leu.
Getúlio perdeu a disposição de resistir ao constatar que,
sem saber, convivera com criminosos.
Na última reunião do ministério, foi defendido por figuras
como Oswaldo Aranha e Tancredo Neves.
Lula defendeu a permanência de Antonio Palocci e José Dirceu
no primeiro escalão infestado de corruptos.
E tenta o tempo todo livrar da cadeia bandidos de estimação
para mantê-los a seu lado.
Depois de tentar inutilmente adiar o julgamento do mensalão,
faz o que pode para pressionar ministros que nomeou, desqualificar a Justiça e
impedir a consumação do castigo.
Há uma semana, o protetor de pecadores foi empurrado para o
meio do pântano pelas revelações de Marcos Valério divulgadas por VEJA.
Em vez de rebater as acusações e interpelar judicialmente o
acusador, o mais loquaz dos palanqueiros emudeceu.
Entre amigos, gasta a voz debilitada em insultos a ministros
do Supremo, mensaleiros trapalhões ou advogados ineptos ─ e promete, de meia em
meia hora, vinganças tremendas.
Em público, pede votos para candidatos amigos e calunia
concorrentes.
O suicídio de Vargas, reiterei há um ano, foi um ato de
coragem protagonizado pelo político que errou muito e cometeu pecados graves,
mas nunca transigiu com roubalheiras, nunca barganhou com assaltantes de cofres
públicos nem foi coiteiro de ladrões.
Lula fez da corrupção endêmica um estilo de governo e um
instrumento de poder.
O tiro disparado na manhã de 24 de agosto de 1954 atingiu o
coração de um homem honrado.
Um saiu da vida para entrar na história.
Outro ficará na história como quem caiu na vida.
Getúlio matou-se por ter vergonha na cara.
Lula morrerá sem saber o que é isso.
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