Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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sábado, maio 09, 2009
O Perigoso
Em março de 1990, quando a economista Zélia Cardoso de Mello e sua equipe receberam a missão de consertar a política econômica, o País estava à beira da hiperinflação.
O Banco Central era forçado a girar diariamente uma dívida pública de US$ 60 bilhões. Se esse dinheiro saísse do mercado financeiro em direção ao mercado de bens e serviços, corria-se o risco de haver uma explosão de preços.
Por isso, o Banco Central oferecia juros cada vez mais altos e, assim, os credores do governo continuavam a financiar a dívida. Uma autêntica bola de neve.
Foi essa a justificativa do bloqueio de 65% dos ativos financeiros decretado por Fernando Collor de Mello assim que assumiu a Presidência da República.
O Plano Collor exigiu dezenas de medidas provisórias, resoluções e portarias. O Congresso “engolia” tudo. O programa impôs uma recessão que reduziu o PIB em 4% em menos de um ano de governo.
Aos “descamisados” aclamados na campanha collorida restou assistir ao empobrecimento do País.
Dez meses depois de lançar um plano econômico antiinflacionário que resultou em 20% de inflação ao mês, o governo resolveu começar tudo de novo, editando o Plano Collor 2, em fevereiro de 1991.
Nesse momento, porém, o combate à inflação ficou na dependência das políticas tradicionais.
Preços e salários foram congelados, o governo suprimiu algumas siglas que serviam para orientar a atividade econômica como o BTN e criou outras, como a TR.
A recessão se agravou, o desemprego cresceu e a inflação, apesar de tudo, voltou a acelerar-se.
O saldo positivo desse período ficou por conta das reformas. Iniciou-se um programa de abertura comercial, mexeu-se na política de informática e estimulou-se o poder de competição da indústria. Enfim, mudanças compatíveis com a política liberal prometida na campanha de Collor de Mello.
O curto reinado de Zélia Cardoso de Mello foi marcado pelas turbulências. Zélia adicionou nada menos de 26 novas atribuições a seus poderes e somou confrontos com parlamentares, empresários, trabalhadores, ministros e credores externos.
O romance com o então ministro da Justiça, Bernardo Cabral, colaborou no processo de desgaste da ministra, mas a gota d'água para a queda de Zélia foi o confronto com o secretário de Desenvolvimento Regional, Egberto Batista.
Zélia derrubou uma portaria na qual Baptista entregava à Suframa o poder de conceder cotas de importação além dos limites estabelecidos pelo Ministério da Economia.
O embaixador brasileiro em Washington, Marcílio Marques Moreira, foi escolhido para substituir Zélia.
O “romance que abalou o Planalto” começou discreto, com Zélia e Bernardo apenas se insinuando e se encontrando às escondidas.
Nesta época, nem o próprio Fernando Collor sabia ou sequer desconfiava do relacionamento dos dois.
Tempos depois, quando ambos não tinham mais como esconder o fato, resolveram contar ao presidente que estavam namorando. Collor definiu muito bem o fato: “É nitroglicerina pura”.
O namoro teria constrangido o presidente por envolver adultério: o ministro era casado e não teria demonstrado a intenção de se separar de sua mulher.
Em setembro de 1990, durante a festa de aniversário de Zélia, realizada na badalada Academia de Tênis de Brasília, o romance tornou-se público: jornalistas do Estadão, já desconfiando que havia algo entre os dois ministros, foram à festa e presenciaram uma tórrida dança entre Zélia e Bernardo, ao som de “Besame Mucho”, que durou 15 minutos.
Os dois rodopiaram pelo salão, de rosto colado, com Bernardo alisando carinhosamente a “poupança” da ministra.
Depois de uma matéria de primeira página sobre o aniversário, o caso repercutiu de maneira estrondosa e, em outubro, Bernardo Cabral entregou sua carta de demissão ao presidente, após uma fritura que todo o país acompanhou.
Antes, porém, várias outras histórias rechearam o episódio, entre elas, o bilhete trocado pelo casal em que Cabral descrevera a saia curta de Zélia como “deliciosa”.
Os dois pombinhos ainda voltariam a se encontrar em dezembro, em Paris. Lá pelas tantas, Bernardo Cabral falou pra Zélia que ia ao dentista fazer um tratamento de canal, mas que voltaria logo.
Do hotel em que ambos estavam hospedados, ele foi direto para o aeroporto Charles de Gaulle, onde embarcou para o Rio de Janeiro, deixando a ministra inconsolável.
A presepada foi contada no livro “Zélia, uma paixão”, considerada a pior obra escrita pelo saudoso Fernando Sabino.
Em 1996, Bernardo Cabral resolveu disputar uma das duas vagas para o Senado.
Numa de suas viagens pelo interior, ele desceu do barco numa comunidade do rio Badajós e começou a visitar os moradores.
Dois caboclos começaram a seguir o ex-ministro a distância. A cada morador que se aproximava, um deles apontava o beiço em forma de “bico” para Bernardo e advertia:
– Perigoooooso...
O outro fazia a mesma coisa:
– Perigoooooso...
No início, Bernardo Cabral achou engraçado, mas lá pela décima quinta vez ele ficou de saco cheio e resolveu interpelar os capiaus:
– Que história é essa de perigoso? Vocês sabem quem eu sou?...
– Claro que nóis sabe – disse um deles. “O sinhô é o diputado federau Bernado Cabrau e foi rilatô da constituini de 88”
– É, e foi miniztru do Colo... – avisou o outro.
– E daí? E o que isso tem de perigoso? – contra-atacou Cabral.
– Ulha, diputado, se o sinhô foi capaiz de inrabá uma miniztra, qui dirá noiz, qui é tudo bestin, bestin...
– É, diputado – acudiu o outro. “Nóis num vira as costas pro sinhô é cum nojo...”
Aí, fazendo o beiço em forma de “bico” arrematou:
– Perigoooooso...
O certo é que mais perigoso do que nunca, Bernardo Cabral foi o senador mais votado do pleito.
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