Em 1882, um comerciante português chamado Antonio José da
Costa, proprietário de uma quitanda na Rua da Instalação, mandou confeccionar
uma tabuleta com a pintura de um homem coberto de trapos e abaixo do desenho
colocou uma legenda: “Ao Pobre-Diabo”.
Devido à existência dessa tabuleta na entrada de seu
comércio, o comerciante passou a ser chamado pela população de “pobre-diabo”.
Em 1895, ele se casou com Cordolina Rosa de Viterbo e passou
a residir na Praça Floriano Peixoto, na média Cachoeirinha, onde montou uma
casa de diversões chamada High Life.
Alguns anos depois, o comerciante ficou muito doente
deixando sua jovem esposa cada vez mais aflita.
Por ser devota de Santo Antonio, ela fez uma promessa a esse
santo rogando a cura do marido.
Caso este ficasse restabelecido da enfermidade, ela mandaria construir uma igreja em louvor ao santo.
Caso este ficasse restabelecido da enfermidade, ela mandaria construir uma igreja em louvor ao santo.
Um suposto milagre acabou acontecendo e o velho
“pobre-diabo” ficou curado da enfermidade.
Com o pronto restabelecimento do marido, Dona Cordolina
pagou a graça alcançada mandando construir uma pequena capela nas proximidades
de sua residência, na rua Borba, que acabou sendo batizada pelos moradores de
“Igreja do Pobre-Diabo”.
A igrejinha foi inaugurada no dia 26 de novembro de 1897.
Logo após a inauguração da igreja, o casal se mudou para Belém (PA), onde o
comerciante acabou falecendo alguns anos depois.
Dona Cordolina retornou a Manaus e doou a igrejinha para o
Bispado.
Com capacidade máxima para 20 pessoas, a igrejinha do
Pobre-Diabo passa a maior parte do tempo fechada, sendo aberta apenas nas
comemorações do dia de Santo Antonio.
Virou ponto turístico da Cachoeirinha.
Virou ponto turístico da Cachoeirinha.
Em 1898, durante o processo de urbanização do bairro, foi construída a Praça Benjamin Constant, onde atualmente funciona a empresa Amazonas Energia, e em frente à praça, um grande barracão de madeira convertido na primeira feira do bairro, que ficou conhecida como Mercadinho da Cachoeirinha.
No mesmo local funcionou também o grupo escolar Guerreiro
Antony, em homenagem ao coronel Antonio Guerreiro Antony.
Em 1927, o antigo grupo se transformou na Escola de
Aprendizes Artífices do Amazonas com cursos profissionalizantes de desenho,
alfaiataria, marcenaria e tipografia.
Em 1937, com o início da industrialização do Brasil, a escola
foi obrigada a modificar seu perfil e se adequar às necessidades de ensino
voltado para a área industrial, surgindo, então, o Liceu de Artes e Ofícios de
Manaus.
Em 1942, o Liceu de Artes e Ofícios de Manaus se mudou para
novas instalações, na avenida Sete de Setembro canto com a rua Duque de Caxias,
na Praça 14, e passou a se chamar Escola Técnica Federal de Manaus (ETFM),
oferecendo o curso ginasial tradicional e cursos em nível técnico nas
modalidades Edificações (“Pedreiros de Luxo”), Eletrotécnica (“Macacos de
Poste”) e Mecânica (“Engraxates Come Graxa”).
Em 1965, a ETFM passa a se chamar Escola Técnica Federal do
Amazonas (ETFA) e incluiu um novo curso, Estradas (“Mateiros Com Teodolito”).
Além do alto padrão de qualidade de ensino, a ETFA era o
sonho de consumo da molecada porque era um dos poucos colégios que possuía um
campo de futebol oficial e porque nas oficinas de mecânica havia um conjunto de
tornos aptos a produzir os melhores piões de madeira de lei da cidade.
Outros dois destaques eram a banda marcial da escola
(“fanfarra” parece coisa de viado), com sua batida inconfundível, e a dança
folclórica dos Tarianos, mais conhecida como “Dança do Cacetinho”, que
eletrizava o público do estádio General Osório durante suas apresentações no
Festival Folclórico do Amazonas.
Até 1970, a ETFA era um feudo exclusivamente masculino, a
exemplo de outra instituição federal, o Colégio Agrícola do Amazonas, que
funcionava na Colônia Oliveira Machado, em um local conhecido como “Paredão”.
Em 1971, ano em que prestei mini-vestibular para a ETFA, as
mulheres foram aceitas pela primeira vez na instituição.
Eu era o menor (e mais novo) estudante da turma, mas ao cabo
de três anos de aprendizagem o ingênuo coiote de antanho se transformou em um
autêntico lobo sanguinário.
Com exceção do cigarro, meus outros vícios (mulheres, birita
e livros) foram aperfeiçoados durante meu convívio diário com a alcateia.
Em 1973, ao me formar com pompa e circunstância, fazia parte
da histórica “primeira turma mista de Eletrotécnica”.
Entre as alunas que se formaram comigo na mesma turma,
estava a hoje pedagoga Rosa Maria Vital, esposa do sociólogo e livreiro Kim
Melo.
Os dois são proprietários da Banca do Largo, que tem como
carro-chefe a venda de livros de autores amazonenses, e do charmoso “Tacacá da Gisela”,
que semanalmente promove o evento cultural “Tacacá na Bossa”, ambos localizados
na Praça São Sebastião.
Nos anos 80, a ETFA se transformou em CEFET (“Centro Federal
de Tecnologia”), depois incorporou o Colégio Agrícola e implantou novas escolas
técnicas federais no interior do estado, se transformando em ITAM (“Instituto
Tecnológico do Amazonas”) e ofertando cursos de graduação, pós-graduação e
mestrado nas áreas tecnológicas.
Morador da Cachoeirinha, meu brother Preto Fernando,
considerado o mais longevo jogador do Peladão (disputou todas as competições,
de 1973 a 2010, defendendo a Tuna Luso e o Zaire, pelo qual se sagrou campeão
em duas oportunidades) e hoje apresentador de um programa esportivo, na TV Ufam, é
um dos professores-símbolos da instituição.
Meu sobrinho Simão Neto, filho do Nelson e da Selane, está se formando no CEFET e já desponta como um dos novos gênios da terceira geração da família Pessoa.
Decorem bem esse nome e depois me contem, porque o moleque vai fazer barulho pra caralho!
Em 1899, o bairro da Cachoeirinha ganhou o primeiro
velódromo da cidade, construído por um grupo de comerciantes locais que havia
conhecido o Velódromo Paulistano (o primeiro do país, inaugurado em 1892, em
São Paulo) e ficado encantado.
Batizado de Velódromo Recreio, ele possuía pistas ovais revestidas
de madeira semelhante às pistas dos “motordromes” existentes nos EUA na mesma
época.
A parte frontal do velódromo ficava na rua Santa Isabel, os
fundos na rua Silves, e a lateral na rua Urucará.
Naquela época, corredores estrangeiros e do sul do país
desembarcavam semanalmente de vapores no Roadway para participar de competições
de bicicletas, motocicletas e tandem bike, um tipo de bicicleta mais comprida
com dois, três ou seis assentos.
Esse divertimento igualava-se ao futebol dos dias de hoje,
com milhares de pessoas participando ativamente das competições e torcendo
pelos seus atletas favoritos.
Alguns corredores marcaram época em Manaus, como o espanhol
Sebastian Neira, o português José Bento e o brasileiro Alcebíades Alves, hoje
nome do principal ginásio esportivo de Ivaiporã (PR), onde nasceu.
Quando deixou de funcionar, em meados dos anos 30, o
Velódromo Recreio já era considerado o melhor velódromo do Brasil.
Em 1944, no mesmo local, foi construído o Velódromo Álvaro
Maia, sob a supervisão do engenheiro Deodoro D’Âlcantara Freire, que havia
adquirido o terreno abandonado com as antigas instalações.
O novo velódromo, feito totalmente em alvenaria, possuía
área para patinação, tênis, boxe, basquete, voleibol e pistas de atletismo,
além de cabines para a imprensa, vestuário, banheiros e salas de serviços
médicos.
A pista de velocidade possuía 250 metros de extensão e 35
graus de inclinação, sendo considerada pela imprensa especializada como a
melhor pista do Brasil e a segunda da América do Sul (só perdia para a do
Velódromo Municipal de Montevideo, no Uruguai, considerado ainda hoje uma das
três melhores pistas do mundo).
Os tipos de corridas disputadas nessa época eram entre as
motocicletas Indian e Harley Davidson, os ciclomotores Velocette, Cotton e
Douglas e as bicicletas com aros de madeira, pneus de seda e pião preso com
roda livre, isto é, sem freios.
As marcas de bicicletas de corrida mais utilizadas eram
Raleigh e Peugeot.
O scratch era o primeiro dos cinco tipos de corrida de
bicicleta disputadas no velódromo.
Consistia em quatro voltas na pista, num total de mil metros.
Nos primeiros 800 m, os ciclistas traçavam táticas de ataque e defesa. Só eram cronometrados os últimos 200 m.
Consistia em quatro voltas na pista, num total de mil metros.
Nos primeiros 800 m, os ciclistas traçavam táticas de ataque e defesa. Só eram cronometrados os últimos 200 m.
A modalidade denominada corrida de fundo assemelhava-se à
anterior, exceto quanto à distância (10 mil metros) e ao número de voltas (40).
A prova do quilômetro contra relógio era individual e
consistia em conseguir o melhor tempo num percurso de mil metros.
Na perseguição individual, os ciclistas se colocavam em
lados opostos da pista e, ao sinal do juiz, começavam a perseguir-se mutuamente
durante cinco voltas.
Seria vencedor o que chegasse primeiro a sua meta ou alcançasse o adversário.
Seria vencedor o que chegasse primeiro a sua meta ou alcançasse o adversário.
A última das provas de velódromo era a de perseguição por
equipes.
Tinha uma eliminatória contra relógio, que classificava oito equipes para as quartas-de-final e seguia a disputa nos mesmos moldes da perseguição individual.
Tinha uma eliminatória contra relógio, que classificava oito equipes para as quartas-de-final e seguia a disputa nos mesmos moldes da perseguição individual.
O velódromo também oferecia outras atrações como competição
individual de patins, demonstração de patins rebocados por motocicletas e
corridas de bicicletas coladas a motocicletas.
Nesse último tipo de competição, os ciclistas, para ganhar
velocidade, prendiam a traseira da bicicleta em uma motocicleta e,
depois de um determinado número de voltas, a motocicleta saía da pista enquanto
os corredores continuavam a corrida para ver quem seria o vencedor da prova.
Entre os principais ciclistas da cidade estavam Melhoral,
Tupã, Muiraquitã, Colibri, Rocha, Flecha, Perônio, Torpedo, Induzido, Belgique,
Tubarão, Rapidoca, Mucuim, Catavento, Faísca, Curió e Timba.
Todos eles possuíam torcidas organizadas e eram muito
populares entre os esportistas da cidade.
Algumas vezes, na área central do velódromo, era montado um
ringue para competições de luta livre, boxe, judô e jiu-jítsu.
Nos finais de semana, o velódromo recebia um público
estimado em três mil pessoas.
Fanático por corridas de velocidade, Deodoro D’Alcântara
Freire resolveu viajar para a Europa e os EUA a fim de manter parcerias com os
proprietários de outros velódromos e realizar intercâmbio para a exibição de
atletas sem ser obrigado a pagar cachês milionários.
Seu sonho, no entanto, não chegou a ser concretizado: ele
faleceu em 1950, quando retornava de uma dessas viagens.
Com a morte do proprietário e principal incentivador do
esporte em Manaus, sua família vendeu o velódromo para a firma comercial do Dr.
Bezencry.
O empresário transformou as arquibancadas e as dependências
utilizadas como vestuário, depósito de bicicletas, enfermaria e posto médico em
autênticos “cabeças de porcos”, posteriormente alugados para famílias de baixa
renda.
A área interna do circuito oval foi transformada em um campo
de futebol, que resistiu até o início dos anos 80, quando o antigo velódromo se
transformou em depósito da Serraria Moss.
Durante três décadas, o campo do velódromo (um dos únicos
campos gramados da Cachoeirinha) serviu como palco para um dos mais organizados
campeonatos de futebol amador da cidade, tendo revelado grandes craques como
Mário Gordinho e Edmar Macaco.
Hoje, no local, funciona uma lanchonete do grupo Habib’s.
4 comentários:
Olá Simão Pessoa! Custei para achar esse texto. Li uma versão em outro blog, onde o autor citava um tal de Simão Pessoa que eu não achava! Mas, finalmente, encontrei o cara que disse tantas coisas sobre o velódromo de Manaus. Eu estou escrevendo sobre o Velódromo da cidade e gostaria muito de saber de onde o senhor tirou todas essas informações? Queria entender melhor sobre o que estou escrevendo e minhas fontes estão um pouco limitadas. Agradeço desde já sua atenção.
Olá Simão Pessoa, tudo bem? Meu nome é Eliza e estou escrevendo sobre o Velódromo de Manaus. Li seu texto em outro blog e depois de muita confusão encontrei o seu blog. Gostaria muito de saber mais informações sobre o Velódromo, seria possível? Inclusive, saber de onde foram tiradas essas informações. Desde já agradeço.
Caríssima Elza Salgado, essas informações constam dos jornais de Manaus disponíveis para consulta na Biblioteca Pública. Minha recomendação é que você vá ao Centro Cultural Povos da Amazônia, ali na Bola da Suframa, que a maioria dos jornais que cobrem esse período (1900-1950) já está digitalizada e a consulta é uma mão na roda. Algumas informações também podem ser localizadas nas cartilhas da extinta Codeama sobre o bairro da Cachoeirinha, se bem que essas são um pouco mais difíceis de encontrar. Qualquer coisa, me escreva via email (simaopessoa@gmail.com), que ajudarei dentro do possível. abração.
Boa tarde Simão, estou pesquisando sobre o velódromo (Mestrado em Educação), e encontrei algumas informações sobre no Jornal do Comércio, mas este texto traz algumas informações que ainda não havia encontrado Se possível me indique quais as fontes que vc utilizou, especificamente. Agradecida!
meu e-mail: kellymattos_am@hotmail.com
Postar um comentário