Mauro Pereira
Eu tenho sido um crítico severo do PT provavelmente desde a
fundação do partido, não só por sua capacidade de conviver pacificamente
durante décadas a fio com a mentira, com a arrogância, com o cinismo e mais
recentemente com a corrupção, mas, sobretudo, por sua concepção vesga de
democracia. Porém, há que se fazer justiça, a agremiação estrelada não é um
deserto de virtuosos. Olhados sem as lentes do preconceito, é possível perceber
que os petistas têm uma virtude: eles são praticantes da praticidade! Pelo
menos é o que indica a solução prática a que sempre recorrem quando um dos seus
está envolvido em algum escândalo. Fiéis ao virtuosismo solitário, juram que é
muito mais prático silenciar a imprensa do que se livrar dos seus corruptos.
Nesse atribulado universo convivem numa paz infernal
petistas, peemedebistas e outros lulistas menos importantes, mas, nem por isso,
menos predadores. Embora seja quase impossível destacar quem é o melhor pior
entre tantos políticos e servidores públicos abaixo de qualquer suspeita, duas
personalidades chamam minha atenção. O ex-ministro de comunicações do governo
Lula, Franklin Martins, e o deputado federal eleito pelo PT do Ceará, José
Guimarães. Não que eles sejam os melhores piores, até porque, querer determinar
quem é o mais imoral nesse reduto onde valores e preço quase sempre têm o mesmo
significado seria uma temeridade e, certamente, eu premiaria a injustiça.
Na verdade, o que os destaca de seus companheiros de partido
e de seita é a defesa intransigente da mesma causa: A imposição da censura à
imprensa, obscenidade edulcorada pelo pomposo codinome Regulação Social da
Mídia. Um é o criador da excrescência, enquanto o outro é o seu defensor e
propagador mais entusiasmado.
Apontado como mentor e executor de um dos planos mais
sórdidos para amordaçar a imprensa brasileira e de lambujem garantir um espaço
mais amplo para difundir a campanha exigindo que Lula seja laureado com o
Prêmio Nobel da paz e reconhecido internacionalmente como o maior estadista que
a humanidade pariu, definitivamente, a intimidade de Franklin Martins com o
núcleo gerador das vontades do governo federal não só o desabilita como
regulador do que quer que seja, como, também, avisa que não é ele o democrata
mais apropriado para emitir conceito ou opinião sobre o tema imprensa livre.
Sua corrompida visão de liberdade padece de confiabilidade e se exauri ante ao
quanto o estado estaria disposto a avançar sobre as liberdades individuais para
amoldá-la às suas necessidades.
O livre exercício da informação, e como decorrência também o
da opinião, é uma das faces mais civilizadas da democracia, portanto, não pode,
e nem deve, ser regulado. Nesse aspecto a sociedade deve ser intransigente.
Abre-se uma concessão aqui outra acolá e, quando menos se percebe, o nó da mordaça
está consumado!
Por mais bobagem que a imprensa livre faça, ainda assim, ela
sempre será muito menos imoral do que a pretendida pelo ex-ministro. Idealizada
pelas mentes mais brilhantes a serviço da causa petista e concebida nas
profundezas das vicissitudes governamentais, a essência da “progressista”
regulação se desmoraliza na sua origem. Dificilmente a imprensa sonhada por
Franklin Martins escaparia de ser reduzida a um fuleiro balcão de negócios
formatado para intermediar os interesses do Executivo Federal e as necessidades
dos departamentos financeiros de órgão informativos. A lisura da notícia seria
mero detalhe. Ademais, cabe à justiça penalizar os maus profissionais, não ao
governo. A este, cabe vigiar para que seus gestores inescrupulosos não tenham
acesso às chaves do cofre.
Um jornalista capaz de afirmar que “a liberdade de imprensa
só garante uma coisa: que a imprensa é livre. Que a imprensa é boa, não
garante. A imprensa livre faz muita besteira, faz bobagem, desinforma”,
convenhamos, não repousa seus princípios libertários na naturalidade que o
convívio com o contraditório exige e tampouco formou-se para ilustrar a
profissão. Quando muito, nasceu talhado para fabricar mitos de araque e vagar
pelas redações dos Grammas da vida. Nada além isso.
Menos ilustre na hierarquia petista, porém, não menos
perigoso, José Guimarães não dispõe de probidade suficiente para ser o avalista
e o garantidor de que essa abjeção jamais se ocupará de pautar os conteúdos
originados na área da informação e produzidos no campo do pensamento. O
episódio envolvendo seu assessor flagrado com a cueca abarrotada de dinheiro
não o recomenda. Aliás, vivêssemos em um país medianamente sério esse senhor
estaria em qualquer outro lugar do planeta, menos perambulando pela Câmara dos
Deputados.
Lulista empedernido, avisa à nação que, quer ela queira, ou
não, “após a reeleição de Dilma” o PT irá implantar o famigerado controle
social da mídia. Pouco chegado a ruborizar-se, não procura esconder que, além
de impedir que as malandragens de seus companheiros robusteçam as páginas
político-policiais, o motivo mais relevante de sua cruzada é blindar o chefe da
seita que professa. “A mídia e a elite querem criminalizar Lula e isso o PT não
irá permitir”, ameaça, deixando claro que o deus de marta está acima de
irrelevâncias como legislação eleitoral e Código Penal e que a sociedade
brasileira deve vassalagem inquestionável ao seu mentor. Os rigores da lei é
dedicado somente à oposição invejosa, à elite golpista e, principalmente, à
direita entreguista e lacaia do império ianque.
Entusiasmado, propaga aos quatro ventos que “Lula é
patrimônio da democracia brasileira e merece respeito!”. Aí depende do ponto de
vista de cada um. Eu, por exemplo, acredito que Lula é, no máximo, patrimônio
do desvario petista, portanto, eles (os petistas) que lhes dê a dose de
respeito que acharem adequada. A democracia não pode ser usada como cúmplice da
inconsequência política e ideológica.
A despeito da arenga ordinariamente vassala do deputado cearense,
eu creio que não estaria sendo injusto nem mentiroso se considerasse que uma
significativa parcela de nossa sociedade acredita piamente que pelo menos parte
do patrimônio de Lula é que seria patrimônio do povo brasileiro.
Transpirando o cinismo que hidrata seu organismo alulado,
debocha de nossa inteligência e convida: “Vamos debater, sem medo, o controle
social da mídia”. Debater com quem?, com democratas da estatura de Franklin
Martins, de Marilena Chauí, de Emir Sadler, de José Sarney, de Fernando Collor
de Melo, de Paulo Maluf? Debater aonde? No Congresso Nacional, antro dominado
por deputados e senadores que depositam no silêncio da imprensa a certeza da
impunidade? Ou nas universidades, sabidamente devastadas pela ideologização do
ensino e reduzida a um vagabundo centro de doutrinação dos estudantes? O debate
proposto é tão desatinado, que nem mesmo o pátio da penitenciária da Papuda
deve ser descartado.
Alunos aplicados, os petistas e seus companheiros de
falcatruas aprenderam na escola da calhordice como esconder por detrás da
valentia que nunca tiveram a paúra que sempre os acompanhou. Dissimulados,
alardeiam que topam debater qualquer tema, desde que sejam eles os vencedores
do debate. Na deformidade conceitual que baliza a moral do lulismo, o mais bem
intencionado dos fiéis tem certeza de que a melhor definição de imprensa livre
é se ver livre da imprensa.
A volúpia que Franklin Martins, estrela de altíssimo brilho
do pensamento governista, e que José Guimarães, lídimo representante da pior safra
de deputados e senadores que já passaram pelo Congresso Nacional, dedicam à
tresloucada jornada ao centro da censura escancara a pouca fé depositada na
divindade de Lula para ao menos amenizar as agruras que diariamente atormentam
o planeta PT.
Devota, mas não idiota, a horda petista despe-se de qualquer
vestígio de constrangimento e deixa transparecer a realidade que sempre
procurou escamotear: ter uma imprensa só para ela é mais do que um sonho de
consumo. É uma necessidade premente e vital. Para alguns, é a certeza da tomada
definitiva do estado. Para a imensa maioria, é a garantia de liberdade
incondicional.
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