Fernão Lara Mesquita
Os batedores de bumbo do PT nunca estiveram tão exultantes,
desde Waldir Maranhão, com os últimos golpes para “provar que é golpe” a
operação que se ensaia para deter o livre despencar da miséria brasileira nas
profundezas do caos político e das finanças públicas destroçadas que seu
partido nos legaram.
Lá virá a ladainha de sempre para demonstrar que alhos são
bugalhos mas é tempo perdido. O que derrubou o PT foi a paralisação da
economia, o que paralisou a economia foi a mentira institucionalizada, Temer
está onde está porque é o sucessor constitucional no posto do qual o Brasil
apeou Dilma, a Lava-Jato não vai parar. Só o Brasil tem força para desencadear
ou para suspender processos como esses.
O PT passou 13 anos operando só para si e nas sombras e deu
no que deu. Temer começa falando só de Brasil mas ainda hesita em expor-se
inteiro ao sol. Vai em busca de sua legitimação junto à única fonte de onde ela
pode vir. Pede humildemente endosso da opinião pública à lógica das suas
soluções; dispõe-se a adapta-las para consegui-lo.
Por esse caminho é certo que pode dar certo. Mas se, e
somente se, a aposta na transparência for absoluta.
Ninguém atravessou a “Era PT” impoluto. O país conhece os
políticos que tem e sabe que é com eles que terá de contar. O fato de todos
eles estarem discutindo a Lava-Jato, como o resto do Brasil, não significa, em
si mesmo, rigorosamente nada.
Do presidente em exercício para baixo, na equipe política e na equipe técnica, são as mesmas pessoas que serviram o PT que se dispõem, agora, a servir antes o Brasil como poderia ter sido sempre se o governo anterior o tivesse desejado. Muda a música que se toca, muda a dança que se dança.
Do presidente em exercício para baixo, na equipe política e na equipe técnica, são as mesmas pessoas que serviram o PT que se dispõem, agora, a servir antes o Brasil como poderia ter sido sempre se o governo anterior o tivesse desejado. Muda a música que se toca, muda a dança que se dança.
Gravações? Haverá outras mil. Nesse departamento vivemos o
clássico dilema do ovo ou da galinha. Se a imprensa continuar sinalizando que
disparará em manchete toda gravação que qualquer chantagista lhe enfiar na
culatra a política seguirá, como hoje, sendo movida exclusivamente a gravações
de chantagistas. E mata-se o Brasil.
Se passar a investigar e dar manchetes para o maior problema brasileiro, a política nacional passará a girar em torno do maior problema brasileiro. E o Brasil ressuscitará.
Se passar a investigar e dar manchetes para o maior problema brasileiro, a política nacional passará a girar em torno do maior problema brasileiro. E o Brasil ressuscitará.
Explico-me com um pouco de história. Em 1976, em pleno
regime militar e no auge da censura, o Estadão publicou a série “Assim vivem
nossos superfuncionários”, que ficou conhecida como a reportagem “das
Mordomias”.
Ela expôs em detalhe à miséria nacional o universo obsceno de fausto e desperdício que ela sustentava sem saber e que drenava todo dinheiro público que deveria estar sendo investido em infraestrutura e serviços essenciais à melhoria continuada do desempenho da economia e, consequentemente, do valor do trabalho.
Ela expôs em detalhe à miséria nacional o universo obsceno de fausto e desperdício que ela sustentava sem saber e que drenava todo dinheiro público que deveria estar sendo investido em infraestrutura e serviços essenciais à melhoria continuada do desempenho da economia e, consequentemente, do valor do trabalho.
Dado o sinal à nação de que havia quem se dispusesse a
publicá-las choveram denuncias na redação durante meses a fio revelando as
infinitas formas que assumia a ordenha do Estado mal disfarçada na soma de
salários e benefícios estratosféricos, no assalto a longo prazo ao erário
mediante a “anabolização” de último minuto em aposentadorias que perdurariam
por décadas e se desdobrariam em pensões vitalícias transmitidas de pai para
filho e nos outros ralos mil abertos por agentes corruptos dos três poderes que
viviam de vender esse saque institucionalizado do Estado.
Materializada na exposição direta dos modos de vida que
esses esquemas sustentavam, a discussão saiu do nível abstrato. Cada
brasileiro, lá do seu barraco, pôde ver com os próprios olhos como e por quem
vinha sendo estuprado, e no que se transformava, na realidade, a estatização da
economia que a esquerda, de armas na mão, de um lado, exigia que fosse total, e
os militares da direita, lá pelo deles, concretamente executaram como nunca
antes na história deste país criando mais de 540 estatais. Mas nem a famigerada
ditadura militar resistiu à força dos fatos e imagens revelados.
Muitas outras reportagens semelhantes foram produzidas país
afora e, já em 1979 os generais, pressionados, tinham criado um ministério
inteiro para começar a desmontar a privilegiatura.
Quando o país emergiu para a redemocratização, em 1985, sabia em que direção tinha de caminhar. A luta para desprivatizar o Estado e devolvê-lo ao conjunto dos brasileiros veio até o governo FHC e a Lei de Responsabilidade Fiscal cujo desmonte – e consequências – pôs um fim à “Era PT”.
Quando o país emergiu para a redemocratização, em 1985, sabia em que direção tinha de caminhar. A luta para desprivatizar o Estado e devolvê-lo ao conjunto dos brasileiros veio até o governo FHC e a Lei de Responsabilidade Fiscal cujo desmonte – e consequências – pôs um fim à “Era PT”.
Esse continua sendo o maior problema brasileiro. Desde 2003
o PT reelegeu o loteamento do Estado como moeda única do jogo político e, ao
fim de 13 anos de um processo desenfreado de engorda, cada emprego pendurado no
cabide vem desaguando, obeso, na Previdência.
O governo Temer aponta vagamente “a Previdência” como o “X” do problema brasileiro e está certo. Mas, pendurado ainda no ar, sabe que tomar a iniciativa de por esse bode na sala é morte certa.
É por isso que, nem Henrique Meirelles, nem seu chefe se permitem completar a frase: é a Previdência do setor público, valendo 33 vezes o que vale a outra, que é o “X” do problema brasileiro. E sem mexer profundamente nela o Brasil não desatola.
O governo Temer aponta vagamente “a Previdência” como o “X” do problema brasileiro e está certo. Mas, pendurado ainda no ar, sabe que tomar a iniciativa de por esse bode na sala é morte certa.
É por isso que, nem Henrique Meirelles, nem seu chefe se permitem completar a frase: é a Previdência do setor público, valendo 33 vezes o que vale a outra, que é o “X” do problema brasileiro. E sem mexer profundamente nela o Brasil não desatola.
Não há um único jornalista, especialmente em Brasília onde o
despautério é mais visível a olho nu, que não saiba disso. E, no entanto,
persiste a cumplicidade com essa mistificação quando até o PMDB já está
claramente pedindo o empurrão que falta para que esse tema indigesto suba à
mesa.
Para poder voltar a andar o Brasil não precisa, exatamente, de uma reforma da Previdência, espremendo um pouco mais a miserinha que ela distribui depois da festa dos aposentados do Estado na qual, diga-se de passagem, os do Judiciário são reis.
Mais do que justiçamentos o Brasil precisa de justiça, que é uma ideia bem mais fácil de vender, desde que antes o jornalismo, em vez de só barulho, faça a sua obrigação de mostrar em todos os seus escandalosos pormenores o tamanho da injustiça que é necessário corrigir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário