Depois de três dias de discussões sobre a crise do País, os
participantes do 5.º Encontro Nacional de Blogueiros e Ativistas Digitais – que
contou com a participação da presidente afastada Dilma Rousseff numa de suas
sessões – lançaram uma carta aberta à sociedade cujo teor parece ter sido
inspirado em escrachadas patuscadas da televisão ou em chanchadas do cinema.
Escrita com o objetivo de denunciar o “golpe parlamentar”
que afastou Dilma do poder e denunciar a ilegitimidade do governo do presidente
interino Michel Temer, a carta, escrita em português precário – meio parecido
com o que a presidente afastada fala, o que mostra que fez escola –, raciocínio
tortuoso, viés ideológico e aversão à verdade, é mais do que um besteirol.
Retrata de modo inequívoco o nível de indigência intelectual e moral dos
integrantes da máquina de difamação que, sustentada por dinheiro público
durante os 13 anos e meio do lulopetismo, se especializou em contar mentiras, plantar
boatos, caluniar adversários políticos do PT e agredir moralmente repórteres e
colunistas dos grandes jornais, sempre sob o pretexto de defender a
“democratização da comunicação”.
A carta aberta começa acusando o Supremo Tribunal de Federal
de ser um “poder acovardado”. Prossegue afirmando que o governo Dilma teria
subestimado a força dos jornais, revistas e televisões “a serviço do
conservadorismo”.
Alega que Temer é elitista e machista, por não ter indicado
nenhuma mulher, negro ou trabalhador para seu Ministério. Diz que ele destruirá
as empresas estatais do País e entregará os recursos do pré-sal “às
multinacionais do petróleo, recolocando o Brasil na órbita dos Estados Unidos”.
Criticam, ainda, a demissão do presidente da Empresa Brasil
de Comunicação (EBC), que havia sido nomeado por Dilma dias antes da votação da
abertura do impeachment pelo Senado. Aparelhada pelo PT, a empresa é uma tevê
estatal disfarçada de televisão pública que foi criada em 2007 pelo governo
Lula.
Apesar de ter consumido mais de R$ 3,6 bilhões de recursos
federais nos últimos anos, só conseguiu chegar a 1% da audiência duas vezes –
quando mostrou um documentário sobre o Rio Reno e quando apresentou um filme de
Mazzaropi.
Nos demais dias, a EBC – que emprega a peso de ouro alguns
participantes do 5.º Encontro Nacional de Blogueiros e Ativistas Digitais –
jamais saiu do traço.
A carta aberta também apoia ocupações de prédios públicos,
como forma de “resistência contra o governo golpista”. Propõe ampla cobertura
das manifestações contra Temer, das ações que permitam o retorno de Dilma ao
Palácio do Planalto e das notícias que mostrem mulheres, jovens negros,
militantes da reforma agrária e povos indígenas como “vítimas mais imediatas da
escalada autoritária”.
Dois parágrafos da carta aberta merecem destaque. Um é o que
afirma que o governo interino priorizará a “comunicação chapa branca,
favorecendo a Globo na distribuição de verbas públicas e usando dinheiro do
contribuinte para salvar organizações moribundas, como a editora Abril e o
ex-Estadão” (sic), cujos proprietários, além de participar do “sistema corrupto
de poder que tenta se perpetuar sob a presidência de Temer”, seriam
“beneficiários de contas suspeitas em paraísos fiscais”.
O outro afirma que o golpe faz parte de uma “estratégia de
recolonização do continente e de desestabilização dos Brics” – plano esse que
teria entre seus líderes o titular do Ministério das Relações Exteriores, José
Serra, que é classificado como “conspirador parceiro da Chevron”.
Na parte final da carta, os blogueiros são taxativos. “Não
daremos trégua à Globo, a Temer, aos traidores que se dizem sindicalistas, nem
aos tucanos e empresários da Fiesp, que agiram a serviço do golpismo.
Resistiremos nas ruas e nas redes”, prometem eles.
Se alguém deve recear essas ameaças certamente são os
redatores de programas de humorismo da televisão. Agora eles têm nesses
blogueiros e ativistas fortes concorrentes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário