Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
Pesquisar este blog
quinta-feira, outubro 01, 2009
Mais uma noitada de arromba no CDF
Depois de uma suspensão sabática de cinco anos, voltei a ser convidado para uma sessão de birita e boa música no Clube dos Discófilos Fanáticos (CDF), na aprazível residência do médico Arnaldo Russo. O fuzuê rolou na última terça-feira.
Dos titulares do clube – onde mulher não entra! – estavam presentes Arnaldo Russo, Lucio Meirelles, Humberto Amorim, Expedito Teodoro, Acram Isper, Roberto Benigno, Waldir Menezes, Paulo Monteiro, Oswaldo Frota, Augusto Menezes e Edson Gil.
A única ausência foi a do empresário Salomito Benchimol, que deve estar garimpando discos raros nos EUA para fazer sua apresentação anual. O nível de qualidade das apresentações está cada vez mais alto.
Na “patuléia” (nome genérico dos convidados) estavam Joaquim Marinho, Jefferson Garrafa, Edmar e Ernesto Costa (irmãos do Edson Gil), Sergio Benigno, Joaquim Nogueira, Ronaldo Tiradentes, Chaguinha, José Carlos, Barroso, Roberto Russo e Marleno Junior, o único Benigno a não ostentar o famoso sobrenome - razão pela qual ele se auto-intitula de Junior Maligno.
A quantidade de quitutes à disposição dos “clubistas” (queijos, pastéis, pernil, salame, uvas frescas, salgadinhos variados, caviar beluga, croissants, uísque 12 anos, vinhos, cervejas, refrigerantes, etc) daria para alimentar um campo de refugiados da África durante duas semanas.
Na primeira meia hora de apresentação, Marco Heleno Benigno apresentou o filme “O Mágico de Oz” sincronizado com a sonoplastia do disco”The Dark Side Of The Moon”, do Pink Floyd.
De acordo com o Marco Heleno, existe uma lenda urbana dando conta de que o disco foi feito em cima da história da pequena Dorothy – e si non é vero, é bene trovatto!
Confesso que nunca tinha ouvido falar nessa história. Já li e reli o livro do John Harris sobre os bastidores da obra-prima do Pink Floyd e em nenhum momento há qualquer referência ao famoso musical.
De qualquer forma, a audição proporcionada pelo Marco me deixou com uma pulga atrás da orelha. Há uma série de coincidências entre o clima musical do disco e a história de Dorothy.
Por exemplo, a faixa “The Great Gig In The Sky” (“O grande concerto no Céu”) coincide com o tornado, que leva a casa pelos ares – e é quase impossível não acreditar que a música foi feita para aquelas cenas.
A faixa “Money” (“Dinheiro”) também coincide com Dorothy chegando à estradinha amarela (de ouro?) que leva à cidade dos Munchkins, no país de OZ – e o filme passa de P&B para colorido.
Comentando o fato com o antenado Ricardo Peres, meu ghost buster do mundo virtual, ele não só confirmou a história como disse que há uma mais recente envolvendo a clássica “Another Brick In The Wall” e o robozinho Wall-E.
Abaixo, repasso os dois links que ele me enviou para que os interessados tirem suas próprias conclusões.
O Mágico de Oz
Wall-E
Bom, mas o ponto alto da noite era mesmo a apresentação do Edson Gil sobre uma nova categoria musical criada por ele, chamada “harmonização enomusical”. O ovo de Colombo? Associar as qualidades de uma determinada uva às qualidades de um determinado compositor brasileiro.
Confesso que sou um completo ignorante em questões vinícolas.
Há uns 20 anos, quando presenciei, no Bar do Armando, uma feroz discussão entre o promotor Francisco Cruz e o juiz Jomar Fernandes sobre um determinado tipo de vinho (Chicão dizia que era “gordo e encorpado”, Jomar, que era “magro e seco”), pensei que eles estivessem discutindo sobre o formato da garrafa.
Também, por mais que me esforçasse, nunca consegui sacolejar uma taça de vinho contra a luz (para acordar o dorminhoco bouquet), aproximá-la das narinas e sentir aroma de frutas vermelhas, ervas finas, trufas, manjericão, alcaçuz, com reminiscências de folhas de tabaco, groselha preta e queijo gorgonzola, e um leve toque de grama molhada após uma partida de futebol society.
Daí eu sempre encarar com um misto de rancor, inveja e desprezo esses seres superiores que nasceram com um decantador de substâncias raras e belas no lugar do nariz e procurar manter, sempre que possível, uma distância civilizada de qualquer tipo de vinho. Meu negócio é cerveja gelada e uísque nas pedras.
Acontece que o Edson Gil não é apenas o maior especialista em vinhos que já conheci, como um profundo conhecedor de MPB. Ele selecionou 23 tipos de uvas brancas e 23 tipos de uvas vermelhas e – acredite se quiser! – conseguiu relacioná-las com 45 compositores diferentes (Roberto Carlos, como alguns tipos de uvas usadas em vinhos assembled, entrou duas vezes).
Mas não era só isso: as gravações eram feitas por intérpretes escolhidos a dedo, de Tânia Maria cantando “Ilusão à toa” (Johnny Alf) a Fernandinha Takai cantando “Estrada do Sol” (Dolores Duran), de Cristina Braga e Eugene Friesen cantando “Disparada” (Geraldo Vandré) a Susanah McCorkie cantando “Wave” (Tom Jobim), e assim por diante. O resultado ficou simplesmente fantástico!
A audição comandada por ele durou cerca de quatro horas e ainda deixou um gosto de “quero mais!”. Sem contar que o humor escrachado e inteligente do Acram Isper não deixa ninguém ficar entediado.
O Edson Gil explicava as características da uva, o tipo de vinho resultante e associava ao compositor. A tarefa dos presentes era identificar o compositor. Waldir Menezes, que ajudou Edson Gil na apresentação, travou uma guerra particular com Expedito Teodoro: os dois acertaram o nome de metade dos compositores (o Waldir ganhou de 14 a 12, salvo engano).
Eu mesmo acertei uns três. O Acram acertou uns cinco, mas suas observações ferinas quando ninguém acertava e o nome era revelado pelo próprio Edson Gil, tiravam qualquer um do sério. Grande Acram!
Por exemplo, a uva Merlot origina vinhos aveludados, moderadamente ácidos e complexos, mas não precisa envelhecer para atingir seu apogeu. Logo, portanto, por conseguinte, as músicas do João Donato casam bem com ela, porque são bem assimiladas na primeira audição, seja de que fase forem da vida musical do compositor acreano.
Outro exemplo: A uva Sauvignon Blanc é de uma casta inconfundível, onde a intensidade aromática, com notas minerais e vegetais, é do agrado de muitos consumidores. Inconfundível, também, são as músicas de Noel Rosa, o compositor que talvez melhor tenha descrito o cotidiano em suas canções.
Lá pelas tantas, o Humberto Amorim, a quem a audição foi dedicada, deu uma “canja” explicando a origem da uva nacional do Chile. Waldir e Acram me confidenciaram que ele havia “chutado”. Ainda não consultei o oráculo mundial para saber quem tem razão.
No final de sua palestra, como é de praxe, Edson Gil presenteou os presentes com um belíssimo livro, "A Música e o Vinho", contendo dois CDs, com a trilha sonora da audição. Só biscoitos finos.
O anfitrião Arnaldo Russo já me convidou para a apresentação dele, em dezembro, sobre musicais da Broadway.
Depois dessa magistral apresentação do Edson Gil, deve vir chumbo grosso por aí. O New York Times informará.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Grande Simáo,
Voce faz parecer a nossa reuniáo uma obra de arte em teus comentarios...foi bom ve-lo outra vez...
Sempre bem vindo a todas nossas reunióes....voce j[a pode ser considerdao patuleia GOLD.
Postar um comentário