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segunda-feira, outubro 26, 2009

O poeta, o pintor, o princípe e o galo de briga


Maio de 1960. O poeta Thiago de Mello estava participando de uma boca-livre na casa do pintor Pablo Picasso, em Paris, quando adentrou no recinto um aristocrático casal da realeza européia.

A mulher do príncipe herdeiro da Casa Real de Habsburgo estava interessada em adquirir uma obra do pintor, de sua fase “galos de briga”.

Picasso explicou que não havia nenhum trabalho disponível e que só poderia fazer um novo quadro dali a quatro semanas. E, para se ver logo livre dos dois, estipulou um preço astronômico: 75 mil dólares.

O príncipe nem regateou. Depois de alguns minutos conversando com outros convivas, o casal foi embora.

Um mês depois, Thiago estava de novo em outra boca-livre na casa do pintor catalão, quando chegou o mesmo casal para adquirir o galo de briga.

Picasso nem se lembrava mais da encomenda. Na maior tranquilidade, ele pediu que o casal se servisse de alguma bebida, ficasse à vontade e aguardasse um pouco, que ele ia ver o que poderia ser feito. Dito isso, sumiu da sala.

Meia hora depois, Picasso reaparece no recinto trazendo nas mãos um magnífico galo de briga, de uma beleza estonteante, provavelmente o melhor galo de briga que ele já havia pintado.

Ele entrega o quadro à princesa. Quando ela faz menção de enrolar a obra, Picasso adverte:

– Não faça isso. Deixe secar um pouco que a tinta ainda está meio úmida.

O príncipe verifica que o quadro havia acabado de ser pintado naquele instante.

Enquanto preenchia o cheque no valor estipulado, ele fez uma observação capciosa:

– É, Dom Pablo Picasso, o senhor tem mesmo o dom para fazer fortuna... É inacreditável, mas o senhor levou apenas trinta minutos para pintar um galo e ganhar 75 mil dólares...

Picasso nem gaguejou:

– Meu príncipe, o senhor está enganado... Eu não levei apenas trinta minutos para pintar esse galo... Para pintar esse galo, eu levei 78 anos...

Só depois de alguns minutos, a ficha caiu. O príncipe não tinha levado em conta o tempo em que o pintor catalão passou estudando, praticando, errando, fazendo de novo, estudando, praticando, tentando mais uma vez, errando e corrigindo, até acertar a mão.

Thiago de Mello aprendeu tão bem a lição que nunca mais escreveu de graça pra ninguém.

E se hoje alguém reclama do valor cobrado dizendo que ele não levou nem duas horas para escrever aquilo ele retruca: “Duas horas?... Eu levei 83 anos...”

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