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sexta-feira, outubro 28, 2011

A direita avermelhada continua a mesma


Sandro Barsal, Gigio Bandeira e esse vosso escriba durante o cinquentenário do Careca Selvagem

Setembro de 1990. A convite do deputado federal João Thomé (PMDB), eu havia deixado o PDT e voltado a me filiar ao PMDB para disputar uma vaga na Assembleia Legislativa.

Para me ajudar na tarefa, João Thomé indicou quatro cabos eleitorais: Antonio Carlos Maciel e Alfredo Rocha, ambos militantes do PCB, e Sergio Lima e Sandro Barsal, ambos ex-militantes do PCdoB.

Como eu não podia abandonar meu emprego na Philco do Brasil para correr atrás de votos, a gente costumava se encontrar depois que eu saía da empresa, por volta das 18h, para executarmos juntos os trabalhos de convencimento do eleitorado por meio de cansativas reuniões nos bairros mais periféricos da cidade.

Numa determinada sexta-feira, por volta das 22h, sugeri aos meus parceiros que a gente suspendesse os trabalhos políticos daquela noite e fôssemos encher a cara em um boteco decente.

Eles concordaram.

Nos dirigimos para o Bar Marupiara, em Adrianópolis, que havia se convertido em nova meca de peregrinação dos intelectuais locais.

A gente estava ali, conversando alegremente sobre as tarefas marcadas para o dia seguinte, quando entrou no recinto uma ruidosa delegação de militantes do PCdoB e ocupou três mesas razoavelmente afastadas da nossa.

Deviam ser uns 15 tarefeiros, com toda pinta de serem oriundos do movimento estudantil ou vendedores do jornal Tribuna da Luta Operária, porta voz oficial do partido.

Eles começaram a cochichar entre si e olhar para a gente.

Não dei a mínima.

Sandro Barsal, que sempre foi o mais politizado de nosso grupo, começou a se sentir incomodado.

Lá pelas tantas, Sandro Barsal se levantou da nossa mesa, se dirigiu ao pequeno palco onde o cantor Pereira fazia um show acústico só com voz e violão, conversou alguma coisa com o músico e aí, subitamente, pegou o microfone e mandou bala:

– Eu queria mandar um recado para esses tribuneiros que estão sentados aí na frente: avisem pra esquerda que o Sandro Barsal agora está na direita!

E exibiu orgulhosamente a camiseta branca com meu slogan (“Pessoa vota em Pessoa”) e a legenda PMDB em letras garrafais.

Rápido como um gatilho, Antonio Carlos Maciel voou da nossa mesa até o palco, tomou o microfone das mãos de Sandro e sapecou:

– O camarada Sandro Barsal está equivocado. A esquerda está onde sempre esteve. Está aqui, conosco, marchando ao lado do professor Gilberto Mestrinho. O PCdoB é que está na direita, marchando ao lado dos políticos mais reacionários do Amazonas, todos eles com bons serviços prestados ao regime militar.

Pânico no cabaré.

Os tribuneiros queriam revidar, Pereira desligou o microfone, xingamentos e provocações dos dois lados, Sandro Barsal queria sair no braço, uma zorra.

Depois de uns quinze minutos de um bate boca infernal, os ânimos serenaram.

Os tribuneiros, visivelmente putos, pagaram sua conta e foram embora.

Nós continuamos no boteco, loucos para arranjar confusão.

Deixamos o Bar Marupiara com o dia amanhecendo e de alma lavada.

Trinta anos depois, Sandro Barsal é professor da Universidade Federal do Amazonas e continua na esquerda.

Antonio Carlos Maciel é professor da Universidade Federal de Rondônia e continua na esquerda.

Sergio Lima é professor da Universidade Federal do Ceará e continua na esquerda.

Alfredo Rocha é coordenador cultural do Sesi e professor da escola estadual Marquês de Santa Cruz e também continua na esquerda.

Com a descoberta do propinoduto no Ministério dos Esportes instalado pelo PCdoB, a gente sabe de que lado os stalinistas sempre estiveram.

Winwenders e aprendenders.

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