Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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quinta-feira, outubro 20, 2011
O endiabrado Aureo Petita
Dezembro de 1977. O Atlântica se prepara para iniciar a última fase do “mata mata” do “Peladão” enfrentando o poderoso Banik, no estádio Vivaldo Lima, num sábado a noite.
Quem vencer a partida, passa para a semifinal.
Para garantir a presença do lateral direito Sici Pirangy, na época servindo o exército, o cartola Frank Cavalcante havia subornado o guarda responsável pela guarita do 1º BIS para fazer vista grossa para o desaparecimento momentâneo do recruta.
O cartola, em companhia de Nei Parada Dura e Sici Pirangy, agora estavam vasculhando os inferninhos da Cachoeirinha em busca do craque do time, Áureo Petita, que preferia a companhia de mariposas encachaçadas a exibir seu vistoso futebol nos campos de peladas.
Encontraram o meia armador no cabaré “Maria dos Patos”, em Petropólis, na companhia de um autêntico dragão de Komodo.
Ele foi embarcado no carro do Frank quase na marra.
Quando o quarteto conseguiu chegar ao estádio Vivaldo Lima, o Banik já estava vencendo a partida por 2X0 e o jogo estava na metade do segundo tempo.
Para reforçar a zaga, o lateral direito Sici Pirangy vestiu rapidamente o equipamento e entrou em campo no lugar de Luiz Lobão, que se transformou em volante e o volante titular Arquimedes foi substituído.
Antes de entrar em campo, no lugar do ponta de lança Manuel Augusto, Áureo Petita fez uma série de exigências, entre as quais dar um “acocho” na Gói, irmã do Chico Costa, por quem estava perdidamente apaixonado.
O cartola Frank Cavalcante concordou com tudo.
Na primeira bola que recebeu, Aureo Petita se livrou de dois marcadores e bateu cruzado, fazendo o primeiro gol do Atlântica.
Cinco minutos depois, ele tabelou com Zeca Boy, deu um toque e driblou o zagueiro, deu outro toque, driblou o goleiro e só não entrou com bola e tudo porque teve humildade.
Foi o segundo gol do Atlântica.
Já nos descontos, Áureo Petita entortou dois zagueiros e meteu de trivela para Zeca Boy, que acertou um bonito voleio.
A bola bateu no travessão.
O jogo terminou empatado em 2X2.
Pelas regras da competição, não havia disputa em pênaltis.
Em caso de empate, passava para a fase seguinte a equipe de melhor campanha.
O Atlântica, único time do “Peladão” ainda invicto, despachou o Banik.
A comemoração pela nova façanha do time foi feita no Bar do Aristides e entrou pela madrugada.
Herói do jogo, Áureo Petita estava muito mais interessado nas promessas feitas pelo cartola Frank Cavalcante do que no resultado da partida.
O cartola lhe deu uma determinada quantia em dinheiro e cantou a pedra:
– Já acertei tudo com a Gói. Ela vai te esperar amanhã no Cine Ypiranga, na sessão das quatro horas...
No dia seguinte, Áureo Petita tomou um banho de perfume Lancaster, escovou os dentes catorze vezes, pintou as unhas das mãos com esmalte incolor, cortou o cabelo bem baixinho, engraxou o sapato bicolor, vestiu sua melhor roupa domingueira, comprou uma caixa de bombons “Sonho de Valsa” e se mandou para a sessão das 16h no Cine Ypiranga.
O filme em cartaz era a comédia romântica “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”, de Woody Allen.
Áureo Petita ficou posicionado estrategicamente no balcão de entrada, aguardando pela chegada de sua musa, mais ansioso do que anão em comício.
As luzes começaram a ser desligadas para dar início a sessão e nem sombra da Gói.
O meia armador ficou tão chateado que comeu sozinho a caixa de bombons.
Quando o filme terminou, ele resolveu ir tomar satisfações com a sua musa.
Encontrou a Gói conversando com o resto das meninas (Sôngila, Heddy Lamar, Mary Jane, Silane, Edna, etc) sobre fofocas da vizinhança, sentada em um banco localizado na frente da casa do Mário Adolfo.
Ele entrou macio:
– E aí, Dona Gói, a senhora não quis assistir o novo filme do Woody Allen no Cine Ypiranga?
– Cine Ypiranga? – reagiu a Gói, surpresa. “Eu não entro naquela pocilga há mais de cinco anos...”
As outras meninas se esbaldaram de rir.
Áureo Petita insistiu:
– Mas o Frank Cavalcante me disse que você ia estar lá nesse domingo...
– O Frankinho? – reagiu Gói, divertida. “Eu não falo com aquele cabra safado há mais de três meses...”
As outras meninas caíram na gargalhada.
Áureo Petita já estava mais angustiado do que barata de barriga pra cima quando, finalmente, a ficha caiu.
Só então o meia armador percebeu que a Gói não estava sabendo de nada a respeito do suposto encontro romântico entre os dois e resolveu não insistir no assunto sob pena de pagar o maior mico.
O sacana do Frankinho havia lhe enganado miseravelmente!
Por conta desse encontro que não houve, foi um verdadeiro parto a fórceps convencer Áureo Petita a entrar em campo no sábado seguinte para enfrentar o time do Imperial pela semi-final do “Peladão”.
Depois de muita conversa e pedidos de desculpas, ele entrou em campo, deu o passe para Manuel Augusto fazer o gol, o Atlântica venceu por 1X0 e se classificou para a grande final.
Mas “acochar” a Gói, que era seu grande sonho de consumo, ficou transferido para as calendas gregas.
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2 comentários:
Isso de entortar o nosso jogador nunca existiu. E fomos garfados neste dia. O Banimento foi muito melhor no jogo todo.
O árbitro desse jogo, só acabou quando aconteceu o empate.
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