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sexta-feira, outubro 28, 2011

Um vacilo imperdoável


O glorioso Fast Club, time de coração do advogado Felix Valois. Em pé: Antônio Piola, Casemiro, Pompeu, Marialvo, Zezinho e Zequinha Piola. Agachados: Paulo Pernambucano, Rangel, Edson Piola, Simão e Adinamar. Foto do acervo do querido Carlos Zamith, do blog Bau Velho.

Julho de 1986. Diretor da fábrica de relógios Quartz Elétron, uma das empresas do Grupo Mondaine, o advogado Décio Aparecido Fuschi era fanático por futebol e resolveu montar uma equipe para disputar o campeonato industriário do Sesi.

Funcionário da empresa, o despachante Epitacinho Almeida, cunhado do Mário Adolfo, transferiu a tarefa de montar a equipe para Áureo Petita, que ele próprio havia contratado para trabalhar no almoxarifado.

Áureo foi conversar com Décio e recebeu carta branca para contratar os melhores “peladeiros” disponíveis no mercado.

Todos eles seriam contratados para trabalhar na empresa.

Áureo Petita indicou a contratação do ex-lateral direito fastiano Antonio Piola, na época um respeitado professor de Educação Física, para ser o técnico do time.

Décio concordou.

Os dois, Áureo e Antonio Piola, foram conversar com o velho treinador nacionalino Barbosa Filho, que indicou o nome de vários jogadores do juvenil do Nacional.

Todos eles foram contratados pela Mondaine: o goleiro Tide, os laterais Edmilson (filho do brilhante meio-campista Dermilson) e Nildo, os zagueiros Pedro Jabuti e Serenildo (filho do respeitado massagista Valdir) e o atacante Beré.

Áureo indicou o volante Edmilson II (ex-Tuna Luso) e um amigo do bairro, o atacante Nilo, que depois seria jogador profissional de futebol de salão na Espanha, onde vive até hoje.

Antonio Piola contratou o ponta de lança Ricardo (irmão do ex-goleiro nacionalino Zé Carlos) e Paulinho.

Era uma verdadeira seleção.


O time da Quartz-Mondaine foi a sensação do campeonato industriário daquele ano, tendo vencido todas as partidas disputadas.

O jogo final foi contra a forte equipe da Springer da Amazônia, que tinha como treinador Paulo Feitosa e craques de muito talento como Sildomar, Cortez, Pepira e Saraiva.

O time da Quartz-Montaine venceu por 3X1, gols de Aúreo Petita (2) e Nilo, se sagrando pela primeira vez campeã do evento.

No ano seguinte, o time repetiria o feito se sagrando bi-campeão da competição, dessa vez reforçado por novos jogadores indicados pelo Áureo Petita: Paulo Menudo, Carioca, Paulo César (ex-Murrinhas), Toya, Luiz Florêncio, Pavão e Luiz Roberto.

O advogado Décio Fuschi ficou tão empolgado com o craque Áureo Petita, que o transformou em uma espécie de secretário informal.


Um dia, Áureo Petita foi chamado a sala do diretor.

Apontando para uma série de produtos eletroeletrônicos (filmadoras, aparelhos de videocassete, máquinas fotográficas, relógios digitais, etc) empilhados em uma mesa, Décio cantou a pedra:

– A minha namorada está na cidade, hospedada no apartamento 1102 do hotel Taj Mahal, lá no centro. Você vai lá, pessoalmente, entregar esses objetos para ela!

O craque não se fez de rogado.

Meia hora depois, estava apertando a cigarra do apartamento.

Uma mulher deslumbrante, vestida apenas com uma lingerie de seda azul e uma sandália de salto alto, abriu a porta e pediu para ele entrar.

– Você deve ser o craque do time da Mondaine, não é? – ela perguntou amistosamente. “O Décio fala muito de você. No dia em que visitar o Rio de Janeiro, apareça lá em nossa casa, na Barra da Tijuca, que será um imenso prazer tê-lo como hóspede!”

Áureo Petita limitava-se a sorrir timidamente enquanto descarregava as tralhas no apartamento, completamente hipnotizado pela aparição daquela mulher deslumbrante.

Ele ainda não havia ligado o nome a criatura, mas ela já era conhecida em todo o País por desfiles apoteóticos no Sambódromo do Rio e por ensaios fotográficos nus que revelavam os dotes que a natureza lhe deu.


A namorada do Décio era simplesmente a modelo Luma de Oliveira.

Filha caçula de uma família de seis irmãos, natural de Nova Friburgo, na região serrana do Rio, Luma estreou na carreira de modelo aos 16 anos, quando já se mudara para Niterói.

O irmão Men de Oliveira substituiu seu pai como tutor.

Foi uma das irmãs, a já consagrada Ísis de Oliveira, que lhe abriu as portas.

Durante um ano, ela telefonou para as agências fazendo propaganda da caçula.

Em 1987, Luma estreou na novela “O Outro” e, em seguida, atuou em “Meu Bem, meu Mal”, em 1991.

“Se tivesse seguido a carreira, poderia ter se tornado a nossa Julia Roberts”, elogiou Aguinaldo Silva, autor de “O Outro”.

Luma também fez dois filmes dos Trapalhões e protagonizou “Boca de Ouro”, de Walter Avancini, em 1989.


Na sequência da fama, Luma Oliveira trocou Décio Fuschi pelo socialite Antenor Mayrink Veiga, que depois foi trocado pelo jogador Renato Gaúcho, que depois foi trocado pelo empresário Eike Batista, com quem se casou em 1991.

A história de seu casamento com o empresário não deixou nada a dever a um conto de fadas.

Eike abandonou sua noiva, a socialite Patrícia Leal, com quem já se casara no religioso, a uma semana da união civil.

O anúncio caiu como uma bomba na alta sociedade carioca.

Convites distribuídos e presentes recebidos, o filho do ex-ministro Eliezer Batista abandonou tudo para ficar com Luma.

Ela recebeu a notícia minutos antes de entrar na passarela para mais um de seus desfiles.

“Eu só sabia que ele tinha uma namorada, mas nem desconfiava de quem se tratava”, garantiu Luma.

Dois anos depois, Patrícia casou-se com Antenor Mayrink Veiga, ex-namorado de Luma, após o Vaticano anular seu casamento com Eike.

Eike e Luma casaram-se no civil, três meses depois, em uma cerimônia para 200 convidados na cobertura onde o noivo morava, no Jardim Botânico.

“De tão apaixonados, foram embora antes da festa acabar”, relembrou Helena Brito Cunha, que organizou a recepção.

Prestes a ter seu nome incluído no livro Sociedade Brasileira, que reúne a nata dos socialites, Eike foi descartado ao deixar Patrícia no altar.

“Se tivesse casado com ela, teria sido incluído”, diz a autora Helena Gondim. “Não faria sentido depois que se casou com Luma.”


Na época, a modelo terminara um romance com o atacante Renato Gaúcho.

“Acho ela demais”, diz até hoje o jogador.

Ele acabou causando um mal-estar a Luma por ter contado detalhes do romance em uma entrevista à revista Interview, em 1992, quando a modelo já estava casada.

“Só disse a verdade”, desculpa-se ele.

Quer dizer, já que a modelo gostava tanto de jogadores de futebol, o Áureo Petita bem que podia ter se enxerido para ela, no dia em que a conheceu pessoalmente.

Craque por craque, ele sempre jogou muito mais bola do que o marrento Renato Gaúcho.

Quem algum dia o viu jogando, sabe disso.

Se a Luma Oliveira desse bola, ele teria ganho o dia e o Décio nunca ficaria sabendo de nada.

Se levasse um toco da modelo, o máximo que aconteceria seria perder também o emprego e a amizade do Décio.

Só que naquela época o que não faltava era emprego para craque de pelada nas fábricas do Distrito Industrial.

Aureo Petita não ficaria desempregado uma semana.

Em outras palavras, o craque do Murrinhas cometeu um vacilo imperdoável!

Deve estar arrependido até hoje.

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