Por Helô D’Angelo
O assédio sexual é uma prática comum. Segundo a pesquisa
Chega de Fiu Fiu, 98% das mulheres já sofreram assédio nas ruas. Em época de
carnaval, o clima de festa pode dar a falsa impressão de que “pode tudo” –
inclusive assediar sem consequências.
Foi pensando nisso que o Catraca Livre criou a campanha
#CarnavalSemAssédio, em parceria com a Revista AzMina, com os movimentos #AgoraÉQueSãoElas
e “Vamos Juntas?”,
com o Bloco das Mulheres Rodadas, com o Samba em Rede e com o apoio da advogada
de direitos humanos Andrea Florence e da arquiteta e urbanista Marília Ferrari.
“Infelizmente, os números de abuso sexual aumentam neste
período por diversos fatores, e muitos homens justificam suas condutas abusivas
como sendo uma tentativa normal de ‘paquera’”, conta Heloisa Aun, jornalista do
Catraca Livre e uma das criadoras do #CarnavalSemAssédio.
O objetivo é “lutar contra a violência e o machismo,
promovendo a discussão de que assédio é assédio em qualquer época do ano”, como
explica o Catraca Livre no evento da campanha no Facebook.
As ideias e práticas para o combate ao assédio sexual são
variadas: o Catraca Livre começou espalhando imagens com a hashtag
#CarnavalSemAssédio e incentivando as mulheres a compartilharem fotos e relatos
com a tag, e entrou em contato com ONGs como a Engajamundo para ajudar na
distribuição de adesivos e plaquinhas com frases conscientizadoras. Depois, a
Revista AzMina compartilhou manual que diferencia “paquera” de “assédio”.
O movimento “Vamos Juntas?” também entrou no samba criando
um grupo chamado “Vamos Juntas Pra Folia?”, no qual mulheres podem combinar
encontros nos blocos de carnaval em várias cidades do Brasil.
“Essa visão de que o carnaval é ‘terra de ninguém’, ainda
que naturalizada, não é natural. temos que dar esse recado aos homens, mas
também mostrar para as mulheres para que elas tenham certeza disso e entendam
que não são obrigadas a nada”, defende a jornalista Babi Souza, criadora do
“Vamos Juntas?”.
Heloisa conta que, assim que a ideia surgiu, no inicio de
janeiro, ela e seus colegas entraram em contato com coletivos e páginas feministas,
para alcançar o maior apoio possível. A campanha começou, de fato, no primeiro
bloco de São Paulo, o “Privamera, Te Amo”, onde Heloisa e o videomaker Gabriel
Nogueira foram gravar uma matéria com depoimentos de mulheres sobre situações
abusivas que elas já viveram no Carnaval.
Depois de alguns dias, eles publicaram o vídeo e o
#CarnavalSemAssédio começou. “Inicialmente, queríamos que as pessoas
compartilhassem relatos nas redes sociais. Mas quando lançamos a campanha,
vimos que o melhor jeito de emplacar essa ideia era compartilhar materiais do
Catraca e dos parceiros”.
A partir daí, a campanha viralizou na internet: o vídeo da
marchinha de carnaval da campanha, por exemplo, já tem quase 7 mil
compartilhamentos no Facebook, enquanto o vídeo com os depoimentos já chegou a
quase 5 mil compartilhamentos.
Em São Paulo e no Rio de Janeiro, vários blocos de carnaval
aderiram ao #CarnavalSemAssédio, entre eles o BregsNice, o Primavera, Te Amo e
o Farofa Aquática, de São Paulo, e o carioca Mulheres Rodadas.
Além dos blocos, personalidades da música, da mídia e da
televisão também demonstraram seu apoio à campanha: Chico Buarque, Pitty, Karol
Conká, a mídia NINJA, Nando Reis, Gregório Duvivier, Adriane Galisteu, Cauã
Reymond e muitos outros.
Como o Catraca Livre se espalha por várias cidades e tem
muitos parceiros fora de São Paulo, a campanha chegou a ser apoiada pelas
prefeituras de Salvador e do Rio de Janeiro. Com a força do “Vamos Juntas?”, da
Revista AzMina e dos coletivos feministas, a projeção é que a hashtag continue
viralizando e que atinja cada vez mais pessoas.
Para Heloisa, a campanha vai além do carnaval: “A
importância de uma campanha como essa é conscientizar as pessoas de que a
violência contra as mulheres e o machismo não pode ser algo naturalizado nem no
Carnaval, nem em qualquer outra época do ano.”
Confira a letra marchinha de carnaval do
#CarnavalSemAssédio:
“Carnaval sem assédio/ É a regra da alegria/ Agora são as
minas/ As donas da folia/ Pera lá, rapaz, segure seu amor/ Não é assim que se
faz/ Eu também sou da folia e a minha fantasia é só um jeito de brincar/ E pra
minha brincadeira, se você se comportar/ Posso até te convidar/ Mas jamais se
esqueça da lição: não é não/ Calma lá, Pierrot/ Não é assim que se conquista a
Colombina/ Ela é quem determina até onde a brincadeira vai chegar/ É um charme
ser cortês/ Ao contrário, estupidez, acaba com qualquer clima/ E pra encerrar,
jamais se esqueça da lição: não é não”
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