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terça-feira, janeiro 12, 2010

Da série “Vale a pena ler de novo”


Sem papas na língua

(Publicado no jornal Amazonas em Tempo, de Manaus, em abril de 1993)

Ele é o mais transgressor dos escritores amazonenses. O mais radicalmente original. O mais ideologicamente radical. Seu texto é como um bisturi afiado dissecando as idiossincrasias nativas. Seus livros são editados por conta própria e possuem o status de “cult” entre o pessoal mais informado da cidade.

Seu fanzine “Roots” (um “clipping” sobre o que rola de cultura em Manaus e no Brasil) já tem uma legião de fãs, do Oiapoque ao Chuí. Seus poemas são elogiadíssimos por gente como Glauco Mattoso, Leila Míccolis, Uilcon Pereira, Artur Gomes, Zanoto, Tânia Diniz, Jorge Domingos, Oscar F., Euclides Amaral, Rogério Salgado e outros papas do alternativismo tupiniquim.

Estamos falando de Simão Pessoa, o poeta mais “off-off-road” da cidade. Co-fundador dos jornais “Candiru”, “Miratinga” e “Caboclo”, que tem hoje mais uma de suas empreitadas com o lançamento de seu livro Matou Bashô e foi ao cinema, logo mais à tarde, no Bar Ecológico (R. Tomás Antonio Gonzaga, 372 – Dom Pedro). A entrevista foi realizada no Bar Canteiros (R. Coronel Salgado – Aparecida).

Amazonas em Tempo: Vamos começar pelo “começo”. Dados pessoais.

Simão Pessoa: Nasci em Manaus, em maio de 56. Me formei em Engenharia Eletrônica pela UTAM, em 77, e fiz pós-graduação em Administração na Fundação Getúlio Vargas (SP). Trabalhei 18 anos no Distrito Industrial, fui demitido há um ano, mudei de profissão e virei redator publicitário. Está sendo a melhor fase da minha vida.

E a experiência como sindicalista?

Em 77, 78, através do Orlando Farias, me aproximei do PCB, que era ilegal. Criamos um “zine”, o Alavanca, destinado aos operários do Distrito. O grupo cresceu e em 82, quando eu estava fazendo uma reunião no IEA, apareceu o Ricardo Moraes que era da Pastoral Operária. Resolvemos unir os dois grupos e criamos a Oposição Metalúrgica Puxirum. Fazia 12 anos que o Chico Risadinha era presidente dos Metalúrgicos com chapa única. Resolvemos pegar o touro à unha.

Se você criou a Oposição Metalúrgica, por que não saiu logo como presidente?

Os caras ligados ao PT achavam que eu era engenheiro e não, operário. Pra eles, ser engenheiro era ser patrão. Porra, eu não podia simplesmente rasgar o diploma, pedir a conta e ir ser montador em outra firma (risos). Isso era coisa da década de 60 e não tinha dado certo nem na França. Aceitei o Ricardo ser presidente e eu, vice, porque confiava nele. O PCB tinha me convencido de que todo operário é honesto (risos).

Como foi a eleição e as dificuldades para administrar o maior sindicato do Estado?

Ganhamos a eleição em 84 e encontramos o sindicado saqueado. Tivemos que fazer empréstimos pessoais nos bancos para pagar as dívidas. Porra, eu nunca tinha feito isso nem pra mim (risos). Dois meses depois, os caras que perderam pra gente conseguiram uma carta sindical (Sindicato dos Eletrônicos) e ficaram com 80% da categoria. Ficamos só com a carne do pescoço. Resolvi me mandar pra Brasília, para tentar anular a sacanagem junto ao Ministério do Trabalho. Com isso o Ministério mandou uma comissão para Manaus que constatou a armação e anulou a carta, reunificando o sindicato. Resultado: novos empréstimos pessoais para honrar os antigos. Se não fossem os engenheiros da diretoria (Marinho, Chico Fera, Carlos Lacerda e Bill) o sindicato tinha fechado as portas...

E como começou sua briga com Ricardo Moraes?

Eu sabia que lidar com dinheiro alheio é sempre um risco e indiquei o Chico Fera para ser diretor financeiro. Ele é superorganizado, um cara metódico, consciente, que odeia mutretas. O Chico registrava tudo que entrava e saía com uma precisão de computador. Isso irritou o Ricardo. Ele ficava louco quando chegava com contas de gasolina, tipo 1.500 litros por semana e era um cu-de-boi pro Chico Fera pagar. A gente calculava que pra ter aquele consumo, o carro tinha rodado uns 10 mil quilômetros. Íamos conferir no velocímetro, tinha rodado 200 a 250 km. Aí o Ricardo arrebentou todos os velocímetros dos carros (duas kombis e um fusca zero km).

Você ficou com um pepino. Ou mandava consertar os velocímetros ou denunciava... Quer dizer, a situação permaneceu a mesma!

Eu já estava processando o antigo presidente por peculato, porque com uma única nota fiscal ele tirava cinco ou seis xerox e lançava cada uma em balancetes diferentes – um roubo primário, ridículo, coisa de safado mesmo, de quem acha que nunca vai ser apanhado. Eu dolarizei as maracutaias do Chico Risadinha: quase 300 mil dólares. Eu estava a fim de botar o filho da puta na cadeia. Aí, cacete, não iria deixar que o novo presidente fizesse o mesmo, né não? Denunciei o Ricardo pra CUT, mas os caras achavam que se a sujeira vazasse eu ia “atrasar a luta da classe trabalhadora”. Foi quando eu entendi que os fins justificam os meios. A esquerda também lia “O Príncipe”, do Maquiavel. Vão pra puta que o pariu (risos). A gente já tinha quintuplicado o salário do Ricardo Moraes. Ele era montador na Philips, a gente deu pra ele um salário de gerente. A merda é que o cara ficou deslumbrado com a cor da grana e queria cada vez mais, ficou insaciável. Como dizia aquele samba gravado pela Alcione, dinheiro na mão é vendaval. Aí, os outros diretores ligados ao PT começaram a fazer o mesmo. Se licenciavam das fábricas, para o sindicato pagar os salários deles, quase sempre duplicando. Justificavam que estavam sendo perseguidos pelos patrões. Tudo mentira, eles eram uns bostas, não tinham representatividade nenhuma, tanto que na nossa chapa eram apenas suplentes. Os vagabundos passavam o dia coçando o saco no sindicato, assistindo televisão ou dormindo na sala de reuniões, e à tarde iam fazer barulho, com megafones, nas portas das fábricas. No final do dia, traziam umas contas do cacete para o Chico Fera pagar. Virou a casa da mãe Joana.

O Ricardo chegou a te expulsar do Sindicato?

Não, bem que ele tentou, mas não conseguiu. Apesar de ser vice-presidente do sindicato, eu continuava trabalhando na Philco. Eu era chefe da engenharia, porra, não iria querer sacanear de graça com a fábrica de onde tirava meu sustento e criava meus filhos. Minha relação profissional com meus patrões nunca teve tergiversação, pode perguntar a qualquer um deles. Nunca apunhalei ninguém pelas costas, essas coisas não são do meu feitio. Em compensação, eu dava expediente no sindicato todas as noites, depois que saía da fábrica, e em todos os finais de semana. Fazia essas porras por amor à causa operária, sem receber um tostão. Eu e os outros 17 diretores ligados ao PDT, PMDB, PSB e os que não eram filiados a partido nenhum. Eles, do PT, eram uma minoria, eram apenas sete. O Ricardo ficava puto quando o Lula ligava para o sindicato e pedia pra falar comigo, não com ele. Porra, eu tinha conhecido o Lula, o Olívio Dutra, o Paim, o Avelino Ganzer, o Djalma Bom, esses caras todos, em 83, em Taboão da Serra, na grande São Paulo, durante um encontro da Anampos (Associação Nacional de Movimentos Populares e Sindicais). Inclusive, no ano seguinte, depois que a gente ganhou o sindicato, fiquei dois meses morando em Brasília, no apartamento do Djalma Bom, que havia sido eleito deputado federal, para resolver a questão do desmembramento do sindicato. É engraçado porque, nessa época, estava morando no apartamento dele uma porrada de sindicalistas baianos ligados ao pólo petroquímico de Camaçari, que estava em greve, vários estudantes cariocas ligados à UNE, e uma delegação feminina de Minas Gerais. Eram quase vinte e cinco pessoas diferentes dividindo o mesmo teto, naqueles apartamentos funcionais, mas de tamanho mínimo, que existem em Brasília. O apartamento do Djalma Bom parecia Woodstock, apesar de ele só aparecer lá de vez em quando. Arranjei uma namoradinha mineira, claro, para dividir a barraca de “camping” armada no corredor, mas o que deixava os caras putos da vida era saber que eu era do PDT, e não do PT. O Luis Henrique, presidente da UMES, de Niterói, esbravejava: “Porra, cara, você fala a nossa língua. Larga essa merda do Brizola, e vem pro PT”. Os caras não entendiam como, em Manaus, as coisas eram tão diferentes. Nem como elas caminhavam rapidamente (eu pressentia) para o ponto do não-retorno. O negócio estava tão escroto que dois diretores, dos 24 que foram eleitos, nem apareciam mais no sindicato, decepcionados com o rumo que a coisa estava levando. Em novembro de 85, numa sexta-feira, o Ricardo telefonou para a Philco, me convocando para uma reunião urgente. Pensei que fosse para convencer o Chico Fera a pagar as contas da gasolina dele (risos). Porra nenhuma. No jornal “A Crítica”, que eu ainda não havia lido, estava um edital de convocação da assembléia geral para expulsar eu e os demais diretores não ligados ao PT. O edital foi publicado no caderno de classificados, no meio dos anúncios de massagistas, acho que de propósito, para ninguém tomar conhecimento. A reunião no sindicato foi uma zona total. Imagine 800 pessoas ensandecidas, incapazes de raciocinar com clareza e achando que eu, por ser engenheiro, estava ali a serviço dos patrões. Provei, com uma porrada de documentos, que o Ricardo estava metendo a mão na grana e que Elson Melo, Silvestre e Elias Sereno sabiam de tudo e eram coniventes. Começou um tumulto desgraçado e tivemos que suspender a reunião. Vi que era uma batalha inglória, eu não tinha mais nada a fazer ali. Se a vaca estava indo mesmo pro brejo, pelo menos eu tinha tentado segurar no rabo da sacana (risos). Reuni o meu grupo e resolvemos fazer uma renúncia coletiva. Eu mesmo fiz a ata da reunião, confirmando a nossa renúncia. Aí, peguei meu chapéu, montei no alazão e ganhei a linha do horizonte. Nunca mais coloquei os pés lá naquela merda.

Agora Ricardo e Elson Melo acusam-se mutuamente de roubo...

Deve ser pra ver quem roubou mais (risos). O último balancete aprovado pela assembléia era assinado pelo Chico Fera, e foi votado em julho de 1985, há oito anos. Como estou fora da categoria, prefiro mudar de assunto. Não entendo nada de falcatruas.

Seu primeiro livro, Old Fashioned, é de 77. Qual o saldo destes mais de 15 anos de aventura poética?

Olha, eu sempre encarei a poesia com diletantismo, o que significa dizer que nunca tive a pretensão de ser citado em prova de Vestibular. Meus livros sempre circularam rigorosamente à margem da “cultura oficial”, mas conseguiram criar um público fiel e interessado.

Esse seu novo livro é de poesia ou humor?

Nunca consegui dissociar uma coisa da outra. Segundo o Uilcon Pereira, ele é “decisivo como subversão de clichês”. Deve ser isso.

Você criou a imagem de um cara completamente louco. Você se droga?

Nada, sou careta pra cacete. Fumei um único baseado, em 74, e achei horrível (risos). Sou um “bebum” convicto. Meu negócio é birita, ressaca, dor de cabeça, depressão, vontade de vomitar, essas coisas.

Você sempre está de bom humor. Conta pra gente algum fato engraçado!

Ah, então tá. Como eu já estou muito doido, mesmo, vou contar um caso. Eu e o Mário Adolfo assaltamos um boteco. Acho que já prescreveu, foi há mais de dez anos. É o seguinte. Numa determinada noite de Natal, eu e o Mário tomamos o maior pifão do mundo e saímos andando por tudo quanto é boteco da Cachoeirinha. Os caras fechavam o bar e a gente ia atrás de outro. Lá pelas cinco da manhã não tinha mais bar aberto e bateu o desespero. Em frente à casa de meu pai funcionava o Barraka’s Drinks, do nosso amigo Wilson Fernandes. Também estava fechado e aí a gente resolveu arrombar. Eu e o Mário arrombamos a porta, entramos, recolocamos a porta no lugar e viramos os reis da noite. Bebemos e fumamos de tudo que tinha nas prateleiras. Inventamos drinques, tira-gostos, cantamos, dançamos, enfim, fizemos o diabo a quatro. Aí, lá pelas sete horas da manhã, a dona Inês, mãe do Mário, que morava ao lado, foi ver que zona era aquela no bar fechado. Pô, pegou a gente no maior porre e deu um puta esculacho. Botou a gente pra fora, na marra. A gente saiu, claro, a contragosto, mas saiu, e fomos dormir. À noite, o comentário na rua inteira era o de que ladrões tinham entrado no Barraka’s. O curioso é que não tinham roubado nada, só tinham bebido pra cacete. A gente fez um pacto de silêncio e nunca mais tocamos no assunto. Esse Mário Adolfo não vale nada. Aliás, nem eu. Mas avisa aí que o lançamento do livro é a partir do meio-dia, no Bar Ecológico e que todos os músicos e poetas da cidade vão estar lá, dando uma força. Inclusive o pessoal do antigo grupo Tariri vai fazer um revival, deve pintar um show do Aníbal Beça, quer dizer, vai ser o bicho! Quem não aparecer por lá é porque votou no Collor e ainda está com vergonha.


Eu e Carlos Lacerda entrando no Sindicato dos Metalúrgicos com o caixão onde havíamos enterrado a chapa do ex-presidente Chico Risadinha, em março de 1984

Quem é quem na reportagem

(pós-escrito no alvorecer do novo milênio)

Simão Pessoa – Depois que sai do Sindicato, em 85, montei uma chapa para disputar a eleição de 87, contra o grupo do Ricardo Moraes. Vencemos em 27 fábricas, inclusive na Philips, onde Ricardo trabalhava, mas perdemos nas três maiores (CCE, Moto Honda e Gradiente) e acabamos derrotados. Em 88, fui eleito diretor da Regional Norte da Confederação Nacional dos Metalúrgicos, tendo Carlos Lacerda como suplente. Renunciei ao cargo em 91, fui demitido da Philco no mesmo ano e passei a me dedicar à publicidade e ao jornalismo. Fui redator das agências G&F, G/Mark, Grafite, DMP, Jobast, VT-4, etc. Também fui editor de cultura do jornal Amazonas em Tempo, diretor de redação da revista Amazônia 21 e colaborador dos jornais A Crítica, Correio Amazonense, Maskate e Repórter. Nesse meio tempo, lancei alguns livros de relativo sucesso. Sobrevivo decentemente. Nunca me arrependi de nada.

Mário Adolfo – Meu amigo-quase-irmão desde quando eu tinha dez anos de idade (ele é mais velho do que eu dois anos) e nos cruzamos na feira livre da Cachoeirinha. Jornalista de talento, com vários prêmios na bagagem (inclusive dois Prêmios Esso de reportagem). Ex-secretário municipal de Comunicação (e um dos poucos que não se locupletou no poder). Meu parceiro de Candiru, o jornal de maior penetração no estado. Chargista e cartunista de responsa, botafoguense doente (ninguém é perfeito), pai do Curumim, o suplemento infantil de maior longevidade na imprensa amazonense. Compositor e utopista. Participamos, juntos, da fundação do GRES Andanças de Ciganos e da Banda Independente Confraria do Armando (Bica). Nunca brigamos nem discutimos, o que é impensável para qualquer pessoa que conviva com outra por tanto tempo. Nem Freud explica.

Jaques Castro – Técnico em Eletrônica e Supervisor de Produção. Militante do movimento sindical desde a época do jurássico zine “Alavanca”. Não pôde participar da chapa Puxirum porque foi demitido da CCE dois meses antes de ser inscrito na chapa. Foi o primeiro presidente regional da CUT. Em 1986, perdeu a eleição para o Sindicato dos Químicos por menos de 50 votos porque o Ricardo Moraes não quis lhe emprestar uma kombi do Sindicato dos Metalúrgicos, para que ele apanhasse em casa os eleitores da Sudop, a empresa com o maior número de sindicalizados e que, estrategicamente, entrara em férias coletivas. Abandonou a vida sindical para se dedicar à assessoria política de cooperativas e reservas extrativistas de trabalhadores rurais, nos Estados do Amazonas e Acre. O livro “Porandubas Patéticas” foi dedicado a ele. É até hoje um dos meus melhores amigos.

Carlos Lacerda – Engenheiro mecânico da Sanyo. Assumiu o cargo de diretor da Regional Norte da Confederação Nacional dos Metalúrgicos em 91, após a minha renúncia, sendo reeleito no mesmo ano. Está no seu quinto mandato na entidade. É ex-presidente da Força Sindical no Amazonas e um dos sindicalistas de maior prestígio em Brasília. Continua um defensor valoroso dos trabalhadores da Zona Franca. O livro “Porandubas Patéticas” foi dedicado a ele. Continua sendo um dos meus melhores amigos.

Chico Fera – Engenheiro civil da Philco. Abandonou a vida de fábrica para se dedicar aos cursos profissionalizantes. Foi coordenador e instrutor dos cursos ministrados em Manaus pela Força Sindical, que já re-qualificou mais de 20 mil operários. Participou da fundação de uma Cooperativa de Trabalhadores Rurais de Itapiranga. Atualmente trabalha como engenheiro de segurança da A.M. Franco. O livro “Mulheres” foi dedicado a ele. Continua sendo um dos meus melhores amigos.

José Carlos Marinho – Engenheiro Eletrônico da Philco. Abandonou a vida de fábrica para se dedicar ao magistério. Foi professor da Fucapi e da Fundação Bradesco. Também foi o engenheiro responsável pela implantação e manutenção da tevê a cabo Horizon (atual Vivax). O livro “Porandubas Patéticas” foi dedicado a ele. Continuava sendo um dos meus melhores amigos até falecer precocemente, de câncer, em outubro de 2004.

Francisco Soares, o Bill – Economista da C-Itoh. Abandonou a vida de fábrica para montar seu próprio negócio. Atualmente é um bem-sucedido microempresário do ramo de alimentação. Numa reviravolta que nunca entendi direito, hoje é um valoroso militante do PT. Com ele, o Partido dos Trabalhadores ganhou em qualidade e decência. Bill sempre foi um dos melhores trabalhadores que conheci. O livro “Porandubas Poéticas” foi dedicado a ele. Continua sendo um dos meus melhores amigos.

Ricardo Moraes – Montador da Philips. Foi reeleito presidente do Sindicato dos Metalúrgicos em 87. Em 88, foi o segundo vereador mais votado de Manaus, mas o PT não fez legenda e ele perdeu a vaga. Em 90, se elegeu deputado federal pelo PT. Foi expulso do partido em 92, após uma sindicância do partido, que constatou desvios de recursos do Sindicato dos Metalúrgicos durante sua gestão. Depois de perder duas eleições seguidas com votações ridículas, abandonou a vida pública. Hoje presta assessoria a alguns políticos. Fizemos as pazes e voltamos a ser amigos.

Elson Melo – Auxiliar de estoque da Philco. Assumiu a presidência do Sindicato, depois que Ricardo se licenciou, para ser candidato a deputado federal. Foi reeleito em 90. No ano seguinte, brigou com Ricardo Moraes, por causa de dinheiro. Sua gestão foi marcada por acusações de fraudes. Perdeu a segunda reeleição, em 93, e se afastou da vida sindical. Hoje trabalha e sobrevive decentemente por conta própria. Também fizemos as pazes e voltamos a ser amigos.

Elias Sereno – Inspetor de qualidade da Philips. Adesista e inimigo do trabalho, entrou no sindicalismo porque não gostava do ambiente de fábrica – o que ele gostava mesmo era da estabilidade no emprego e de receber sem trabalhar. Foi se reelegendo diretor-de-qualquer-coisa desde 84. Ficou ao lado de Elson, na briga contra seu mentor intelectual, Ricardo Moraes, mas perdeu a segunda reeleição, em 93, e também abandonou a vida sindical. Foi secretário municipla do prefeito Serafim Corrêa. Não sei o que está fazendo hoje.

Sindicato dos Metalúrgicos – Transformou-se num cabide de emprego para vários desocupados. O número de diretores subiu de 24 para 65. O número de associados caiu de 25 mil (em 85) para nove mil (em 2002). O mandato dos diretores também foi alterado de três para quatro anos, já que ter estabilidade no emprego é bom e todo mundo gosta. Desde 85, o Sindicato não presta contas de seus gastos para a categoria. Em 87, desativou todos os serviços gratuitos de assistência médica, odontológica e jurídica. Em 97, teve seus bens penhorados por conta de dívidas com o INSS. Há uns dez anos, o Sindicato só é citado nas páginas policiais dos jornais. Seu presidente perpétuo, Waldemir Cabeça, é um dos maiores pelegos da história sindical do Amazonas. Como diziam os antigos, o tempo é o senhor de todos os males.


Eu e Mário Adolfo durante o lançamento do livro "Amor de BICA", em fevereiro de 2006

2 comentários:

Milene Sousa disse...

Prezado,

Sou Milene Sousa,bolsista PIBIC/ UFPA-CNPq do projeto Mídias Alternativas na Amazônia, pertencente à Faculdade de Comunicação Social da Universidade Federal do Pará - UFPA. Trabalho em parceria com Natália Pereira, também bolsista. O projeto é coordenado pela Professora Dr. Célia Trindade Amorim. Nós estamos realizando o mapeamento de mídias alternativas na Amazônia Legal - como jornais, cartazes e boletins - referentes ao período de 1964 a 1985, durante a ditadura militar, e referente à pós-ditadura, de 1986 em diante.

Durante as nossas pesquisas, encontramos informações sobre o jornal O Caboclo no Catálogo de Imprensa Alternativa, o que nos levou ao seu nome.

Estamos montando um mapa com informações dos jornais já catalogados pelo projeto, que irá conter imagens também. Já mapeamos mais de 100 jornais, e por conta do O Caboclo, viemos lhe consultar sobre o assunto. Procuramos seu email, mas não encontramos. O senhor poderia nos dizer seu email para podermos explicar melhor e fazer algumas perguntas sobre o jornal?

Reforço que esse mapeamento é importante para que possamos contar a história da Amazônia pelo olhar daqueles que lutaram e ainda lutam contra a opressão e as injustiças sociais na região. A senhor será creditado em qualquer publicação, obra, trabalhos acadêmicos e afins desenvolvidos pelo projeto e que utilize informações cedidas pelo senhor.

Pedimos desculpas por qualquer inconveniente. Desde já agradecemos pela atenção e aguardamos a sua resposta.

Atenciosamente,

Simão Pessoa disse...

simaopessoa@gmail.com