Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
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segunda-feira, janeiro 18, 2010
A saga da família Arruda (4)
Os irmãos Antonio e Leônidas Arruda durante uma boca livre do PT em Goiânia
Invocado com a permanente mangoça causada pelo surrealista apelido de “Colarinho de Garça”, Antonio Arruda deixou Codajás e se mudou pra Manacapuru, onde trabalhou por quase dez anos como “mata-mosquitos”, combatendo os focos de malária pelos vários rios do Amazonas.
Após alguns anos morando na cidade, ele foi convidado por alguns amigos da repartição para um passeio de barco, cujo destino era a praia do Jurupari, na ilha da Taboca.
O barco partiu de Manacapuru lotado de redes e com muita gente festejando antecipadamente aquele inesquecível passeio fluvial, que estava sendo bancado por um importante político da região.
Antônio entrou no clima de festa e, após tomar algumas cervejas e cachaças, passou a flertar descaradamente com uma bonita morena.
Ela fazia parte da turma de cabos eleitorais do referido político, que também havia embarcado em direção à aprazível enseada onde passariam a noite.
O flerte, com troca de olhares sedutores de ambas as partes, foi muito intenso.
Lá pelas tantas, ambos se aproximaram e combinaram um encontro amoroso na rede, durante a madrugada. De longe, a moça indicou sua rede em meio ao emaranhado de “baladeiras” que se formara na embarcação.
Caiu a noite, motor desligado, luzes do barco apagadas. Antônio, rastejando pelo chão, chegou à rede da moreninha. A empolgação tomava conta de seus pensamentos lúbricos.
Ainda de fora da rede, ele colocou sua mão nos pés da morena e foi subindo rumo ao ventre da moça.
Quase morreu de susto quando percebeu que estava apalpando Antônio José, um dos cearenses mais bravos da região, que na mesma hora começou a fazer um escarcéu medonho.
Para sua sorte, era uma noite escura como a asa da graúna. Ouvindo a gritaria do arigó, muita gente se levantou das redes e Antonio aproveitou a confusão para sair correndo do barco.
A fim de não despertar suspeitas, ele teve que dar uma volta completa na ilha onde o barco estava atracado e só voltou à embarcação de manhã cedo, com o dia clareando. Explicou que estava procurando ovos de tracajá.
No barco, Antonio Arruda ouviu as conversas do ocorrido na noite anterior, sobre a tentativa de assédio sexual sofrida pelo arigó. De longe, ele observou o cearense armado com uma peixeira na cintura.
Mais grosso do que pentelho de barrão, o arigó estava jurando pra todo mundo que ia “cortar as tripas do fio da égua que tinha apatolado suas partes”.
Pra completar, a morena ainda ficou cismada de que Antonio Arruda tinha fugido do encontro sexual programado porque não dava mais no couro.
Em 1979, Antonio Arruda deixou o Amazonas e se mudou para Goiás, na companhia de quatro dos sete irmãos (os outros três já estavam morando lá). Era um estado distante e muito diferente de tudo que vivera até então.
Em Goiânia, procurou emprego por muito tempo e, após vários empregos temporários e um sem-número de biscates, decidiu fazer um curso para vigilante patrimonial.
Foram dois anos de curso intensivo, o que incluía treinamento de tiro e defesa pessoal.
No último dia do curso, ele foi submetido a uma prova prática de tiro ao alvo, o que definiria a emissão ou não do certificado de vigilante.
Antônio se preparou para a prova e recebeu as instruções. Seriam cinco tiros. Cada um deles que acertasse no alvo valia dois pontos, totalizando dez.
O candidato que obtivesse seis pontos receberia o sonhado certificado de vigilante patrimonial com direito ao porte de arma.
O alvo era um saco de areia com um homem desenhado. Antônio mirou a arma no coração do sujeito e começou a atirar.
Depois dos cinco tiros, a examinadora correu ao alvo para verificar o resultado do teste. Havia apenas um furo no saco. Incontinenti, a mesma decretou:
– Antônio Arruda acertou apenas um tiro. Reprovado!
De longe, com seu autêntico sotaque amazonense, Antonio retrucou:
– Rasgue o saco, minha filha, rasque o saco!
Quando a moça atendendo ao pedido do caboclo fez o que ele solicitara, ficou visivelmente surpresa.
As cinco balas estavam dentro do saco e haviam adentrado uma atrás da outra pelo mesmo orifício, bem no coração da gravura fixada no alvo.
Antonio Arruda foi aprovado com honras ao mérito.
Finalmente, aos 45 anos, o caboclo nascido num longínquo seringal do Amazonas tinha uma profissão decente.
Do alto dos seus 1,52 cm de altura, ele se tornou um renomado vigilante e rapidamente foi contratado para trabalhar numa concessionária da Fiat.
Após dois meses de trabalho, um fiscal da empresa que lhe contratara resolveu fazer uma visita surpresa de madrugada, querendo descobrir se o vigilante costumava dormir no serviço.
O fiscal chegou de fininho, mas rapidamente percebeu – da pior maneira possível! – que o homem estava trabalhando sério: foi recebido com um tiro na perna, que quase teve de ser amputada.
Novamente demitido, Antônio Arruda passou por muitos outros empregos, sempre trabalhando duro, mas quase sempre exagerando nos seus dotes naturais ou os utilizando de forma pouco ortodoxa.
Ele vive ainda hoje em Goiânia, cidade onde recebeu o apelido de “Baixinho”.
Aos 73 anos de idade, Antonio Arruda se gaba de já ter doado sangue 120 vezes e ter tido 14 profissões, que variaram de peão de fazenda a advogado criminalista. Um figuraço!
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