Espaço destinado a fazer uma breve retrospectiva sobre a geração mimeográfo e seus poetas mais representativos, além de toques bem-humorados sobre música, quadrinhos, cinema, literatura, poesia e bobagens generalizadas
Pesquisar este blog
sexta-feira, janeiro 29, 2010
Meu ovo esquerdo!
A professora universitária Jane Jatobá, durante o lançamento de seu Jornalivro, no ano passado
Abril de 1991. Eu estava casado com a Jane Jatobá há dois anos. Pra evitar engravidar, ela tomava pílulas anticoncepcionais, mas aquilo estava lhe trazendo uma série de problemas, incluindo uma tendência para engordar além da conta.
Como a gente não queria ter novos filhos, me escalei para fazer vasectomia. Era uma cirurgia extremamente simples, com anestesia local.
Conversei com a enfermeira Josenira Almeida, esposa do compositor Davi Almeida, que trabalhava no Hospital Adriano Jorge.
A Jô conversou com o médico e deputado estadual Risonildo Almeida, casado com a Nádia, sobrinha do Thiago de Mello e minha ex-contemporânea do colégio Ida Nelson, e ele resolveu me operar. Marcou a cirurgia para um sábado de manhã.
No dia combinado, me apresentei pro sacrifício. Depois de uma meia-hora de espera, a Jô veio me avisar que o Risonildo havia adoecido e que não poderia vir me operar.
Mas que eu ficasse tranqüilo, porque ela já havia explicado a situação para o cirurgião Celso Aguiar e ele, que já estava de saída, concordara em me operar.
O Dr. Aguiar tinha um currículo de 10 mil cirurgias de vasectomias já realizadas, o que significava que eu estava em boas mãos.
Fui me preparar no vestiário do hospital e saí de lá de touca e com aquela ridícula bata que só cobre a frente do corpo, deixando a bunda do lado de fora.
A Jane me desejou boa sorte e foi esperar na sala da Jô Almeida.
As enfermeiras me deitaram em uma cama, colocaram um anteparo de metal a uns cinco centímetros de altura do meu peito, de forma que eu não pudesse ver o procedimento, e começaram a me barbear os pentelhos.
Dali a cinco minutos, chegou o cirurgião. Conversou comigo, explicou que a intervenção cirúrgica não ia demorar dez minutos e me pediu pra ficar tranqüilo. O anestesista aplicou a injeção em um dos ovos. Só senti a picada.
O médico iniciou a cirurgia. Com cinco minutos, ele anunciou:
– Já cortei o canal deferente do lado direito. Vamos agora fazer o procedimento do lado esquerdo...
Deu dez minutos, nada. Deu quinze minutos, nada. Deu vinte minutos, nada. Percebi que o médico havia ficado nervoso.
– Puta que pariu, já era pra eu estar participando de um almoço na casa do meu compadre e eu ainda estou aqui nessa merda de hospital. Caralho! Em vez de estar enchendo a cara de cerveja, fui arranjar essa sarna pra me coçar. Puta que pariu, mas eu sou mesmo um babaca! E onde é que o caralho desse canal esquerdo se escondeu?... - ele questionava, exasperado.
As enfermeiras não diziam nada.
Ocorre que a anestesia local só funciona 20 minutos. O efeito havia passado e a dor que eu estava sentindo era de quem leva dez boladas de futebol de salão no meio do saco. Uma atrás da outra.
O médico percebeu o que estava acontecendo e pediu para as enfermeiras segurarem meus pulsos. Como já haviam feito uma incisão no meu saco, não havia qualquer hipótese de aplicarem uma nova anestesia.
O Dr. Aguiar saiu do centro cirúrgico e, depois de alguns minutos, retornou para a cirurgia com mais três médicos cirurgiões. Comecei a achar que o problema era maior do que eu imaginava.
Eles discutiram um pouco, aí resolveram aumentar o tamanho da incisão no saco. Cutucaram daqui, cutucaram dali, e nada. A dor estava quase insuportável.
Comecei a reclamar:
– Doutor Aguiar, meu querido, vamos parar por aí! Eu só vou ficar com 50% de chance de engravidar alguém, já está de bom tamanho. Costure o meu saco e me libere, pelo amor de Deus!
Ele não deu nem confiança.
Um dos médicos recém-chegados saiu da sala e retornou alguns minutos depois em companhia de uma médica-cirurgiã, que trazia nas mãos um imenso livro de capa dura. Não lembro direito, mas quero crer que o livro era escrito em inglês.
Puta que pariu, eu havia virado estudo de caso.
Suado, nervoso, com a bata branca empapada de sangue (meu, evidentemente), o Dr. Aguiar estava cada vez mais puto:
– Consulta aí nesse vade mécum de merda se existe algum caso de sujeito que nasceu tendo apenas um canal deferente, em vez de dois!
Os dois médicos ficaram consultando o livro, que devia ter umas 3 mil páginas, e depois de alguns minutos anunciaram a descoberta. Não, não havia, pelo menos até aquela data.
Preocupada com a demora, a Jô Almeida entrou no centro cirúrgico para saber o que estava acontecendo. O Dr. Aguiar já estava à beira de surtar.
– Jô, minha filha, eu não consigo encontrar o canal deferente do lado esquerdo desse filho da puta. Eu já fiz mais de 10 mil cirurgias iguais a essa e é a primeira vez que vejo uma porra dessas. Eu praticamente já virei o saco dele pelo avesso, mas não encontro o filho da puta do canal esquerdo. Não quero aumentar o tamanho da incisão porque há muitos nervos no local. Se ocorrer qualquer vacilo e eu seccionar um nervo errado, ele vai ficar com problemas de ereção....
Puta que pariu, era só o que me faltava: ficar impotente aos 35 anos de idade.
E aquela dor no baixo ventre se irradiando para o resto do corpo e ficando verdadeiramente insuportável.
A dor era tanta que as minhas duas pernas ficavam paralisadas.
De vez em quando, minha vista escurecia.
Caceta, mas eu não ia desmaiar e deixar meus colhões ao sabor dos humores daquele médico maluco nem fodendo.
Reuni minhas últimas forças e implorei:
– Jô, agradece ao doutor Aguiar pelo seu trabalho, mas pede para ele encerrar essa cirurgia, senão eu vou me levantar desse jeito e ir embora...
Duas novas enfermeiras voaram sobre meus pulsos. Agora, havia duas de cada lado, tentando me imobilizar. A Jô deixou o centro cirúrgico com uma cara tão assustada, que nunca mais vou esquecer. Eu estava mesmo fodido e mal pago.
Já haviam transcorrido 50 minutos desde aquela picada de agulha inicial, quando o Dr. Aguiar deu um berro:
– Achei o filho da puta!
Dali a um minuto, ele bateu no meu peito com uma tesoura e falou:
– Taqui esse leproso desgraçado!
Na ponta da tesoura, um minúsculo pedaço de carne.
Sem esconder que continuava puto, ele gritou para uma das enfermeiras:
– Façam a assepsia do local, costurem essa porra direito e liberem o paciente. Eu estou indo pra casa do meu compadre e só volto pra esse centro cirúrgico de bosta no meio da próxima semana.
Aí já foi tirando as luvas, a bata ensopada de sangue, a touca, jogou tudo numa mesa e deixou o centro cirúrgico apressadamente.
Saí do centro cirúrgico e fui me encontrar com a Jane, que também estava assustadíssima. Expliquei pra ela que contaria os detalhes daquela experiência radical quando a gente chegasse em casa.
Me despedi da Jô e do Davi Almeida, que também havia chegado ao local, e fui embora no carro da Jane. Estava tão traumatizado que não conseguia urinar.
No dia seguinte, viajei pra São Paulo, para participar das reuniões mensais de qualidade da empresa, tarefa que me prendia na cidade durante uma semana. Sozinho, no hotel, resolvi examinar o tamanho do estrago.
Meu pau parecia um picolé de assaí, de tão roxo. Resolvi urinar: a urina também estava negra como as asas da graúna. Será que meu bilau estava gangrenando?
Era só o que me faltava: eu usar prótese peniana aos 35 anos de idade. E todo esse sacrifício pra que? Pra não deixar uma mulher engordar por causa da ingestão de pílulas anticoncepcionais. Aquilo não era vida.
Felizmente, uma semana depois, meu bilau retornou à sua cor original de fábrica. Três dias depois, a Jô Almeida foi à nossa casa e retirou os pontos. Haviam cicatrizado que era uma maravilha.
De lá pra cá, nunca tive problema nenhum. É uma cirurgia que, apesar dos pesares, recomendo aos amigos. Sem ironia.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
poorra, chegou doer só de imaginar kkkkk
abraço do amigo do blog chimpanzé perneta!
cara comigo aconteceu isso ontem dia 18/02/2011....
só que o medico não achou o canal...ele ficou 45 minutos só procurando...me machucou legal....um canal ele fez em 4 minutos mais ou menos....e no mesmo dia deu muita dor....ele disse que existem casos disso e deu o nome....é algo como Atresia do canal deferente... então vou fazer o espermo grama daqui a um mês...se tiver blz...ele confirma o caso...se não tiver vou ter de fazer um outra cirurgia...mas ai será abrir mesmo o saco para achar o canal.....
ps: depois que passou o efeito da anestesia eu chorava de dor em casa. o fdp do medico apertou mesmo meus ovinhos....heheheh só que ai eu peguei e tomei o dobro dos analgegicos que ele receitou....cara só faltou eu ver gnomos heehehhe mas passou a dor em menos de 10 minutos e não voltou mais....e tambem fiquei todo costurado...ele rasgou mesmo....
um abraço
ps2....
o meu tambem foi o ovo esquerdo.....heheheh
Postar um comentário