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sexta-feira, janeiro 29, 2010

A estatística não mente!


O deputado federal Francisco Praciano (PT), ex-executivo da Philips da Amazônia nos anos 80

Março de 1984. O engenheiro Engels Medeiros estava em Manaus para auditar uma nova linha de áudio da Philips da Amazônia, quando foi convidado por uns colegas de fábrica para uma sessão de birita na Praça do Caranguejo, no Conjunto Eldorado, após o expediente.

Era uma sexta-feira. Nas duas mesas, uma 15 pessoas, incluindo Sebastião Peixoto, Geraldo Nogueira, Francisco Praciano, Stones Machado, Paulo Garrafa, Eduardo Pimentel e Paulo Medeiros.

Como Engels estava morando em São Paulo há dois anos, trabalhando na Philips de Piracicaba, ele era o alvo das atenções. Todo mundo queria saber como ele estava se adaptando junto aos bugres paulistanos.

Lá pelas tantas, a conversa da mesa mudou para o assunto favorito de uma turma de machos reunidos em um botequim: conquistas sexuais. A rodada foi aberta pelo Paulo Medeiros.

– Vocês conhecem aquela montadora do primeiro posto de qualidade da linha de três em um, chamada Aparecida? – questionou.

E ante a confirmação de todos, arrematou:

– Estou comendo ela há três semanas. E a sacana é casada.

Aí, um por um, foram revelando o nome de suas novas cabritinhas. O curioso era que todas as meninas que estavam sendo comidas pelos garanhões da Philips eram casadas.

Engels, que não estava comendo nenhuma mulher casada em São Paulo, começou a pensar em uma história qualquer para não fazer feio diante da turma.

Enquanto isso, a conversa seguia na mesma nota de um acorde só:

– Vocês conhecem aquela nova estagiária do setor de Pessoal chamada Elisângela? Estou comendo. Também é casada!– afirmou Paulo Garrafa.

Quando chegou a vez de o Engels contar a sua bacaba, ele sequer teve tempo de abrir a boca. Ao seu lado, Paulo Medeiros, que havia iniciado a presepada, fez uma nova revelação:

– Vocês conhecem aquela calibradora do último posto da linha de rádiogravadores chamada Dorinha? Também estou comendo. E é casada...

Depois de mais algumas lambanças do pessoal da mesa, a palavra, finalmente, foi assegurda ao Engels para que ele pudesse se manifestar.

Ele resolveu fugir um pouco do script original.

– Olha, pessoal, por força do meu próprio trabalho de auditor técnico eu tenho me especializado, nos últimos dois anos, em técnicas estatísticas. Isso quer dizer que analisando uma pequena amostragem eu posso chegar ao universo que contém aquela amostragem.

As conversas paralelas cessaram. Todo mundo estava prestando atenção no papo do Engels querendo saber aonde ele queria chegar.

Engels retomou a palavra:

– Pelo que pude observar a partir dos relatos de vocês, todo mundo está comendo uma ou duas mulheres casadas. Como vocês todos são casados, eu posso afirmar com certeza absoluta de que aqui, nessa mesa, existem pelo menos 8 cornos, com uma margem de tolerância de mais ou menos dois. Isso não é invenção minha, gente, isso é técnica estatística...

Eduardo Pimentel fez um aparte:

– Eu não entendi direito, Engels. Cumequié esse negócio de corno?

Engels, com a maior paciência do mundo, explicou de novo.

– Nós, essas quinze pessoas aqui reunidas, somos uma amostra do universo de homens casados de Manaus. Como todo mundo aqui, com a minha honrosa exceção, está comendo pelo menos uma mulher casada, eu posso garantir que nessa mesa tem no mínimo seis cornos e no máximo dez cornos. Mas quem diz isso não sou eu, quem diz isso é uma fórmula estatística que eu não vou perder tempo explicando, entendeu?...

O ambiente na mesa ficou igual ao de um velório.

Um a um, com desculpas esfarrapadas de que precisavam chegar cedo em casa, os garanhões da Philips foram deixando as mesas. Sobraram apenas Engels e Sebastião Peixoto.

Engels insistiu:

– Provavelmente nós pertencemos à tolerância de mais ou menos dois, Peixoto. A minha mulher está sozinha em São Paulo e pode ou não estar me corneando. A tua, eu não sei...

Peixoto bebeu apressadamente uma tulipa de cerveja e se despediu do amigo.

Engels ficou bebendo sozinho no bar.

Os anos seguintes mostrariam que seus cálculos estatísticos estavam inapelavelmente corretos.

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